Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein - Será que os suínos resolverão a crise da faltadice blaze como jogarórgãos para os transplantesdice blaze como jogarhumanos? A pergunta, que foi o títulodice blaze como jogarum artigo científico publicadodice blaze como jogarnovembrodice blaze como jogar2022 <s>&nbsp;&nbsp;</s>na revista <a href="https://www.nature.com/articles/d41586-022-03794-2">Nature</a>, está cada dia mais pertodice blaze como jogarse tornar realidade por meio do xenotransplante, que nada mais é do que a realizaçãodice blaze como jogartransplantesdice blaze como jogarórgãos entre espécies diferentes – no caso, entre suínos e humanos. A importância desse progresso tecnológico é inegável: somente no Brasil, quase 34 mil pessoas esperam por um rim, segundo o relatório mais recente da Associação Brasileiradice blaze como jogarTransplantesdice blaze como jogarÓrgãos (ABTO), divulgado no iníciodice blaze como jogarmaio. O documento informa ainda que, nos três primeiros meses deste ano, 3.982 adultos entraram na filadice blaze como jogarespera por um rim e, ao mesmo tempo, outras 668 pessoas morreram sem conseguir receber um órgão – cercadice blaze como jogarsete inscritos por dia.&nbsp; “Há maisdice blaze como jogar30 anos, a ciência tenta encontrar uma alternativa à escassezdice blaze como jogarórgãos para transplantes. E há algum tempo<s>,</s> descobriu-se que os suínos seriam os melhores doadores, tanto pela anatomia dos órgãos, mais próxima da dos seres humanos, quanto porque eles são criados e abatidosdice blaze como jogargrande número para consumo. Dessa forma, o uso dos seus órgãos para transplantes é mais bem aceito pela sociedade”, explica o nefrologista Álvaro Pacheco e Silva Filho, membro da equipedice blaze como jogartransplantes renais do Hospital Israelita Albert Einstein. O médico explicou, por exemplo, que no início das pesquisas os cientistas até cogitaram usar órgãosdice blaze como jogarprimatas para o transplantedice blaze como jogarhumanos (por causadice blaze como jogaruma possível maior compatibilidade), mas a ideia logo foi descartada. “Provavelmente macacos e chimpanzés seriam mais compatíveis, mas nunca foram vistos como uma fonte animal possível para lidar com a escassezdice blaze como jogarórgãos. Imagine você criar milharesdice blaze como jogarprimatas para serem sacrificados e doarem seus órgãos. Isso, alémdice blaze como jogarser muito mais difícil, teria um impacto muito negativo na sociedade”, avalia Silva Filho. &nbsp; Outra vantagem dos suínos como doadores, ressalta o nefrologista, é que, por existirem espéciesdice blaze como jogardiferentes tamanhos, eles podem ser doadoresdice blaze como jogarórgãos para crianças, adolescentes e adultos, com uma compatibilidade melhor quando se pensa no tamanho dos órgãos. &nbsp; A principal dificuldade relacionada ao transplantedice blaze como jogarórgãosdice blaze como jogarporcos para seres humanos é o fenômeno da rejeição. Ela acontece por causadice blaze como jogardeterminados antígenos presentes no organismo dos suínos que o corpo humano não suportaria, levando à rejeição imediata. Diante disso, percebeu-se que seria preciso modificar geneticamente os suínos candidatos à doação para <s>“</s>silenciar<s>”</s> os genes identificados como incompatíveis com os humanos. Por muitos anos, essa foi uma barreira intransponível, pois não havia conhecimento nem tecnologia para isso. O silenciamento dos genes se tornou possível por causa dos avanços da bioengenharia e da genética, começando pela clonagem da ovelha Dolly no final dos anos 1990, passando pelo sequenciamento genômico humano completo, no início dos anos 2000, até chegar à avançada técnicadice blaze como jogarediçãodice blaze como jogargenes, conhecida como CRISPR, que permite <s>“</s>desligar<s>”</s> os genes que causam a rejeição hiperaguda nos seres humanos. “Essas três descobertas foram fundamentais para o avanço das pesquisasdice blaze como jogartorno do xenotransplante. O sequenciamento do genoma humano e do genoma dos suínos, por exemplo, mostrou a semelhançadice blaze como jogar98% entre as duas espécies e nos permitiu identificar os genes dos suínos que são responsáveis por causar a rejeição hiperaguda”, relata Mayana Zatz, coordenadora do Centrodice blaze como jogarPesquisa e Genoma Humano e Células-Tronco, do Institutodice blaze como jogarBiociências da Universidadedice blaze como jogarSão Paulo (IB-USP). Ao ladodice blaze como jogarSilvano Raia, professor emérito da Faculdadedice blaze como jogarMedicina da USP, Zatz coordena o projeto Produção Nacionaldice blaze como jogarSuínos Voltados para o Xenotransplante e o projeto Xeno BR, que tem como objetivo trabalhar na edição genéticadice blaze como jogarembriõesdice blaze como jogarsuínos modificados para produzir doadoresdice blaze como jogarórgãos para transplantesdice blaze como jogarrim, coração, pele e córnea.&nbsp; Projeto Xeno BR&nbsp; O Brasil está avançando nesse sentido. Em abril,<s> </s>o grupodice blaze como jogarZatz inaugurou o primeiro biotério com níveldice blaze como jogarbiossegurança 2 (NB2) dedicado à criaçãodice blaze como jogarsuínos geneticamente modificados, cujos órgãos possam ser transplantadosdice blaze como jogarhumanos. A propostadice blaze como jogarcriar um laboratório especial para o xenotransplante surgiu há sete anos, idealizada pelo professor Raia, que dedicou toda adice blaze como jogarcarreira aos transplantesdice blaze como jogarórgãos –dice blaze como jogar1985, ele realizou o primeiro transplantedice blaze como jogarfígado com doador falecido da América Latina e, três anos depois, o primeiro com doador vivo da literatura. Ele viajou ao Alabama, nos Estados Unidos, para avaliar os projetos experimentaisdice blaze como jogarxenotransplante e voltou convencidodice blaze como jogarque essa era a linhadice blaze como jogarpesquisa mais promissora para obter órgãos adicionais. &nbsp;&nbsp; “A gente já sabia há muito tempo que os suínos têm órgãos anatômica e fisiologicamente muito semelhantes aos dos seres humanos. Além disso, têm uma gestaçãodice blaze como jogarquatro meses, com muitos filhotes, e já existe uma tecnologia estabelecida paradice blaze como jogarcriação comercial”, observa Mayana Zatz. “Por outro lado, o uso dos suínos como doadoresdice blaze como jogarórgãos não traria problemas éticosdice blaze como jogarrelação à proteção dos animais, porque milharesdice blaze como jogarporcos são sacrificados todos os dias para consumo. Como dominávamos a tecnologiadice blaze como jogaredição genômica, resolvemos aceitar esse desafio.”&nbsp; Silenciar os genes suínos&nbsp; Como isso funciona? O primeiro passo, explica a geneticista, é silenciar os genes dos suínos que causam a rejeição hiperagudadice blaze como jogarhumanos. Segundo ela, até agora não existe um consensodice blaze como jogarquantos genes devem ser silenciados – alguns grupos falamdice blaze como jogartrês, outros acreditam que silenciar um gene só é suficiente<s>,</s> e outros ainda acham que, alémdice blaze como jogarsilenciar os genes dos porcos, é preciso inserir genes humanos. “Nós resolvemos usar a tecnologiadice blaze como jogarsilenciar os três genes produtoresdice blaze como jogaraçúcares que são responsáveis pela rejeição”, conta a pesquisadora da USP.&nbsp; Para silenciar os genes problemáticos, é necessário fazer a edição genética, desligando alguns genesdice blaze como jogarcélulasdice blaze como jogarembriõesdice blaze como jogarsuínos para depois realizardice blaze como jogarclonagem – a mesma técnica que deu origem à ovelha Dolly. “Depoisdice blaze como jogareditadas, as células dos suínos modificadas são transferidas para óvulosdice blaze como jogarmatrizes. Por esse processo, obtêm-se os embriões sem os genes causadores da rejeição”, explica a geneticista, frisando que esses embriões são inseridosdice blaze como jogarporcas que seriam “barrigasdice blaze como jogaraluguel” para gestar os leitões que vão nascer geneticamente modificados. “Nós já conseguimos fazer o silenciamento dos genes. O grande desafio para o Brasil era ter um biotériodice blaze como jogarmáxima segurança – as ‘Pig Facility’ – porque precisamos criar os porcos num ambiente absolutamente estéril. Inauguramos a primeira unidade no campus da USP e teremosdice blaze como jogarbreve uma unidade maior, no Institutodice blaze como jogarPesquisas Tecnológicas (IPT). Ainda não obtivemos os suínos criados, mas já estamos inserindo os embriões nas matrizes que vão gerar esses embriões clonados”, relata a pesquisadora. Ao mesmo tempo que a equipe da geneticista trabalha na produção dos embriões, o professor Silvano Raia coordena outra frentedice blaze como jogartrabalho no Instituto do Coração (Incor) para montar um sistemadice blaze como jogarperfusão isolada normotérmica prolongada, para testar a imunogenicidade dos órgãos. A imunogenicidade é a capacidadedice blaze como jogaruma substância estranha, como um antígeno, provocar uma resposta imunedice blaze como jogarum ser humano oudice blaze como jogaroutro animal.&nbsp; “Vamos usar o rim do suíno geneticamente modificado e perfundi-lo, durante oito dias, com o próprio sangue suíno. Nesse caso, obviamente não teremos rejeição. Depois, vamos perfundir com sangue humano do tipo O. Temos duas situações possíveis: ou haverá rejeição, ou não haverá rejeição, e estaremos eticamente autorizados a iniciar o uso clínico. Isso é necessário porque devemos comprovar que o rim produzidodice blaze como jogarnosso laboratório é compatível para o transplantedice blaze como jogarhumanos”, pontua o professor. A expectativa dos pesquisadores brasileiros é ter um suíno adequado para ser doadordice blaze como jogarórgãos dentrodice blaze como jogardois anos. A princípio, o grupo vai focar seus esforços no xenotransplantedice blaze como jogarrim porque, se houver a rejeição, o paciente pode voltar a fazer hemodiálise e aguardar um alotransplante com uma prioridade que não tinha antes. No casodice blaze como jogarcoração ou fígado, por exemplo, isso não é possível porque não existem sistemas que substituam a função desses órgãos. &nbsp; Xenotransplantes já aconteceram&nbsp; Nos últimos dois anos, aconteceram alguns transplantes com órgãosdice blaze como jogarporcos modificadosdice blaze como jogarhumanos. O transplantedice blaze como jogarrim, inicialmente, foi um procedimento experimental – os órgãos foram colocadosdice blaze como jogarpessoas que estavam com morte cerebral para estudar como o procedimento transcorreria e quais as possíveis complicações. Os órgãos transplantados não foram rejeitados e produziram urina, o que mostrou que o procedimento era viável. Em março, a equipe do médico brasileiro Leonardo Riella realizou o primeiro xenotransplante clínicodice blaze como jogarrimdice blaze como jogarsuínodice blaze como jogarum ser humano vivo (sem morte cerebral),dice blaze como jogarBoston, nos Estados Unidos. O receptor era um paciente com insuficiência renal crônica, submetido anteriormente a alotransplante, cujo órgão foi rejeitado, determinando que ele permanecesse sete anosdice blaze como jogarhemodiálise. O homem viveu por dois meses, sem hemodiálise, com a função renal normal, mas acabou morrendodice blaze como jogarcasa, provavelmente por complicações cardíacas.&nbsp; “A escolha desse receptor obedeceu ao princípio ético que determina empregar novos métodos apenasdice blaze como jogarpacientes com indicação por compaixão, ou seja, sem outra alternativa disponível para evitar adice blaze como jogarmortedice blaze como jogarcurto períododice blaze como jogartempo”, avaliou Raia. &nbsp; Além do casodice blaze como jogarBoston, uma mulherdice blaze como jogarNova Iorque, com insuficiência renal grave e cardiopatia crônica, também recebeu um rimdice blaze como jogarsuíno modificado. “Era uma paciente muito grave, que não seria aceita para o transplante devido a condiçõesdice blaze como jogarsaúde muito debilitadas. Além do rim, ela também recebeu um coração artificial”, conta Silva Filho, ao ressaltar que são dois casosdice blaze como jogarpacientes extremamente críticos, que não teriam outra opção. &nbsp; Na avaliação do nefrologista do Einstein, o xenotransplante poderá ser um grande aliado dos pacientes diante da escassezdice blaze como jogarórgãos no Brasil e no mundo. “Eu estou maravilhado. Realmente feliz e entusiasmadodice blaze como jogarver esses primeiros xenotransplantesdice blaze como jogarseres humanos. Por todas as dificuldades descritas, achei que seria muito mais difícil avançarmos. E o Brasil avança com o resto do mundo. Isso abre uma perspectiva muito boa e é lógico que terádice blaze como jogarser aperfeiçoado com o passar dos anos. Esse é um aprendizado, mas milharesdice blaze como jogarpessoas estão aguardando um órgão e a lista só aumenta”, comenta. &nbsp; Também para o professor Raia, o xenotransplante é o futuro dos transplantes no Brasil. E ele defende que os órgãos suínos sejam distribuídos obedecendo ao critério da lista única atualmentedice blaze como jogarvigor. “Não prevalecerá o lema ‘leva antes quem paga mais’. Haverá uma comissão responsável por indicar qual o receptordice blaze como jogarlistadice blaze como jogarespera será o mais adequado para receber um órgão suíno. Ele poderá autorizar ou não o xenotransplante”, afirma. &nbsp; Raia ressalta ainda que, a partir do momento que existirem órgãos suínos disponíveis para os inscritos, ocorrerá uma antecipação na indicação do transplante, incluindo pacientes menos graves. Para ele, os resultados dos primeiros xenotransplantes fazem parte do progresso das cirurgias, pois elas “ocorrem pelo sucesso baseado na correção dos erros que determinaram os insucessos anteriores. É assim que aconteceu com a históriadice blaze como jogartodos os transplantes.”  <figure><img src="https://cdn.brasil247.com/pb-b247gcp/swp/jtjeq9/media/20240527080528_2d03d4ae353986c7fcefa4205d202fb7393954a290169a44e06eef4a3a5fcd89.png" data-media-id="editor_1" data-image-id="20240527080528_2d03d4ae353986c7fcefa4205d202fb7393954a290169a44e06eef4a3a5fcd89" data-rendition-name="original" width="2000" height="3712" loading="lazy" alt="xenotransplantes"></figure>

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Por que os xenotransplantes podem ser solução para a escassezdice blaze como jogarórgãos

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