<a href="https://apublica.org/2024/11/movimento-pela-reparacao-historica-da-escravidao-ganha-forca-no-brasil-e-no-mundo/">Por Rafael Oliveira, Agência Pública</a> - Em 19roleta para editarnovembroroleta para editar1993, um gruporoleta para editar12 ativistas negros, entre homens e mulheres, a maioria estudantes da Universidaderoleta para editarSão Paulo (USP), fez um protesto. Eles almoçaram do bom e do melhor no Maksoud Plaza, hotel cinco estrelas que tinha, à época, um dos restaurantes mais carosroleta para editarSão Paulo (SP). Mas, quando a conta vultosa chegou, os manifestantes disseram que os valores podiam ser “pendurados” na dívida histórica que o país tinha com a população negra. O calote protesto foi uma formaroleta para editarcaptar os olhares da imprensa e da opinião pública, às vésperas do Dia da Consciência Negra e do aniversário da morteroleta para editarZumbi dos Palmares , para a pauta da reposição pela escravidão.
O ato marcou o lançamento do Movimento Pelas Reparações dos Afrodescendentes (MPR), que pleiteava o pagamentoroleta para editarindenização pelo Estado brasileiro a cada um dos descendentesroleta para editarescravizados do país. O montante total exigido ultrapassou os 6 trilhõesroleta para editardólares,roleta para editarvalores da época – o equivalente a 12 vezes o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiroroleta para editarentão. 
“Nós, afrodescendentes, somos os herdeiros diretos, no sentido negativo, da escravidão”, diz o jornalista e professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Fernando Conceição, um dos participantes do ato no Maksoud Plaza. Na época do protesto, o Brasil vivia os primeiros anos pós-redemocratização e o mito da democracia racial, que negava a existência do racismo no Brasil, vinha sendo cada vez mais questionado. Nos meses seguintes, o grupo captou assinaturasroleta para editarvários estados para propor um projetoroleta para editarlei popular que torna as reparações pela escravidão uma realidade. 
O pleito não prosperou, mas parte das propostas serviramroleta para editarbase para a formulação do Estatuto da Igualdade Racial , um dos principais instrumentos reparatórios da desigualdade racial do país.
roleta para editar Maisroleta para editar30 anos depois do protesto, neste 21roleta para editarnovembro, a União fez um pedidoroleta para editardesculpas pela escravizaçãoroleta para editarpessoasroleta para editarum evento organizado pela Advocacia-Geral da União (AGU), o Ministério da Igualdade Racial e a organização Educafro Brasil. “A União manifesta publicamente seu pedidoroleta para editardesculpas pela escravização das pessoas negras, bem comoroleta para editarseus efeitos. Reconhecemos que é necessário envidar esforços para combater a discriminação racial e promover a emancipação das pessoas negras brasileiras. Por fim, compromete-se a potencializar o focoroleta para editarcriaçãoroleta para editarpolíticas públicas com essa finalidade”, disse o advogado-geral da União, Jorge Messias.
“O nosso suor, que deu riqueza aos antepassados ​​deles, precisa ser devolvido a nós, porque nós estamos sofrendo as consequências dessa escravidão”, afirmou o fundador e diretor-executivo da Educafro, Frei David Santos. Para ele, o pedidoroleta para editarperdão é apenas uma chave para abrir outras portas da justiçaroleta para editaracessórios no Brasil. “Ora, todo mundo que pede desculpas, automaticamente está confessando aroleta para editarculpa”, disse. 
Na esteira das manifestações que tomaram o mundo desde o início do movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), nos Estados Unidos, uma discussão sobre reposição tem ganhado cada vez mais força. No Brasil, uma ação iniciada contra o Banco do Brasil, uma instituição financeira bicentenária, exige medidas reparatórias pela participação da empresa no tráfico negreiro. 
Nos Estados Unidos e também no Reino Unido, universidades prestigiadas como Harvard, Cambridge, Glasgow e Oxford, alémroleta para editarempresas tradicionais, têm revisitado seu passado escravista e adotada medidasroleta para editarcompensação. É o caso do jornal britânico The Guardian , cujo conselhoroleta para editaradministração financiou uma pesquisa sobre as ligações do fundador do jornal eroleta para editarseus financiadores iniciais com o tráfico negro. Em consequência da descoberta, o veículo apresentou um pedidoroleta para editardesculpas formal e anunciou um programaroleta para editarjustiça restaurativaroleta para editaruma década, com investimentos acimaroleta para editar10 milhõesroleta para editarlibras (maisroleta para editarR$ 75 milhões, na cotação atual).
O jornal britânico lançou ainda a série multimídia “ Cotton Capital ” (Capital do Algodão,roleta para editartradução livre), que aborda o legado da escravidão e explora os achados da pesquisa – que inclui a identificaçãoroleta para editarparte das pessoas escravizadas conectadas com os fundadores do veículo .
roleta para editar Mais do que apenas reparações financeiras diretas aos descendentesroleta para editarescravizados, as demandasroleta para editarquem clama por justiça reparatória também envolvem medidas simbólicas, como pedidosroleta para editarperdão, criaçãoroleta para editarmonumentos e promoçãoroleta para editarmemória e verdade sobre o período escravista. Cotas raciais e cancelamentoroleta para editardívidas acumuladas pelos países explorados pelas potências coloniais também aparecem como caminhos possíveis para reparar o legadoroleta para editardesigualdade deixado pela escravidão.
Em uma das matérias publicadas no especial do The Guardian , a historiadora francesa Olivette Otele sintetizou o que quer aqueles que clamam por justiça reparatória. “No centro das demandas por reparações está o entendimentoroleta para editarque o passado não pode ser apagado e não deve ser ignorado. As antigas potências coloniais não podem desfazer o dano que infligiram às pessoas escravizadas e colonizadas, mas podem se engajarroleta para editarboa-fé com os descendentes dessas pessoas e trabalhar para enfrentar as desigualdades sistêmicas que existem hoje.”
<h3>Brasil teve avanços, mas desigualdade racial persiste</h3>
O Brasil é,roleta para editarlonge, o país que recebeu o maior contingenteroleta para editarafricanos escravizados do planeta. Segundo o Bancoroleta para editarDados do Comércio Transatlânticoroleta para editarEscravos , 4,86 ​​milhõesroleta para editarescravizados foram desembarcados no território brasileiro entre 1501 e 1900 – muitos deles após a proibição do tráfico negro. A eles, se somam milhõesroleta para editarbrasileiros nascidos sem liberdade ao longo dos séculosroleta para editarque o regime escravista perdurou no Brasil, o último país das Américas a abolir a escravidão,roleta para editar13roleta para editarmaioroleta para editar1888. Segundo um estudo da Universidade das Índias Ocidentais,roleta para editarparceria com a American Society of International Laws, o valor do ser pagoroleta para editarindenizações pela escravidão no Brasil poderia chegar a R$ 135 trilhões.
roleta para editar Maisroleta para editar130 anos depois da abolição, o movimento negro conquistou avanços importantes, que se inserem na lógicaroleta para editarjustiça reparatória. Além da criação do Estatuto da Igualdade Racial, a adoçãoroleta para editarcotas raciais vingou e se espalhou nas universidades e no serviço público. Em 2020, 52% dos matriculadosroleta para editaruniversidades federais eram pretos e pardos, ante 41%roleta para editar2010, antes da Leiroleta para editarCotas.
Houve também avanços, ainda que lentos e insuficientes, na titulaçãoroleta para editarterras quilombolas e no ensino da história e da cultura afro-brasileira, que se tornou obrigatória pela Lei 10.639/03 . As conquistas, a visãoroleta para editarespecialistas, militantes e autoridades com quem a Agência Pública conversou, no entanto, não são suficientes para reparar o legado perversoroleta para editardesigualdade causado por séculosroleta para editarregime escravocrata.
“Temos um monteroleta para editargente que foi para as universidades, cotistas que são doutores, mas seguimos vivendo as agruras do racismo no Brasil. Isso tem a ver com uma mentalidade, um valor que está incrustado na alma do povo brasileiro,roleta para editarque o preto vale menos. Isso vem desde a escravidão”, aponta o advogado Humberto Adami, vice-presidente da Comissão Nacional da Verdade da Escravidão Negra da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
À frente da coordenação geralroleta para editarMemória e Verdade da Escravidão e do Tráfico Transatlânticoroleta para editarPessoas Escravizadas – um órgão vinculado ao Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, criado no início do governo Lula –, a pesquisadora Fernanda Thomaz diz que “a população que sofreu com a escravidão é a mesma que hoje tem as piores condiçõesroleta para editarhabitação,roleta para editarsaúde,roleta para editaracesso à educação,roleta para editaracesso ao trabalho, que sofre com uma violência policial gigante”. 
“É preciso considerar essa violência do passado e pensar, a partir desse reconhecimento, como se pode promover melhores condições que rompam com essa violência histórica na vida das pessoas que herdaram o efeito perverso da desigualdade racial causada pela escravidão”, conclui Thomaz.
<h3>Ação mira participação do Banco do Brasil no tráfico ilegalroleta para editarescavizados</h3>
Um inquérito civil sem precedentes está colocando a riqueza acumulada por empresas brasileiras durante a escravidão sob os holofotes. A açãoroleta para editarquestão mira o bicentenário Banco do Brasil (BB). A revelação do vínculo da instituição financeira com a escravidão veioroleta para editarum estudo feito por um gruporoleta para editar14 historiadores, que serviuroleta para editarbase para a instauraçãoroleta para editarum inquérito civil pelo Ministério Público Federal (MPF),roleta para editarsetembroroleta para editar2023.
Segundo os investigadores, boa parte dos recursos utilizados na restituição do banco,roleta para editar1853, veio do tráfico negro, que na época já era proibido no país. Um dos empresários que assinaram o termoroleta para editarrestituição do Banco do Brasil, por exemplo, José Bernardinoroleta para editarSá, tinha como atuação principal o contrabandoroleta para editarescravizados.
Depois que a descoberta veio ao público, a direção do BB divulgou uma carta aberta pedindo perdão pelo envolvimentoroleta para editar“suas versões predecessoras” na escravidão e apresentou medidas já tomadas e andamentoroleta para editarprol da igualdade racial. Anunciou posteriormente a formulaçãoroleta para editarum “pacto pela igualdade racial”,roleta para editarparceria com o Ministério da Igualdade Racial (MIR).
Para o procurador regional dos Direitos do Cidadão adjunto do MPF Julio Araujo Junior, o reconhecimento da importância do tema pelo banco é notável, mas não é suficiente. É fundamental, diz, que a instituição “aprofunde a investigação sobre aroleta para editarparticipação na escravidão, estruture um novo pensamento sobre a organização e o funcionamento da instituição e apresente um planoroleta para editaracessórios para a sociedade”. 
O MPF expediu uma recomendação imediatamenteroleta para editarque o pacto anunciado pelo BB não seja “uma mera cartaroleta para editarinteresses”, mas traga indicaçãoroleta para editarrecursos e diretrizes prioritárias. O Banco do Brasil prometeu que vai anunciar as medidas no próximo dia 4roleta para editardezembro.
À espera do anúncio, o procurador Araujo Junior ressalta que “os efeitos da escravidão não ocorreram no passado”. “São efeitos do presente e do futuro. Uma sociedade que não se reconcilia, que não olha para esse passado, certamente tem um riscoroleta para editarperpetuar eroleta para editarrepetir essas visíveis no futuro.”
<h3>Jornalismo na luta por peças</h3>
Em junhoroleta para editar2023, a agênciaroleta para editarnotícias Reuters revelou que maisroleta para editar110 membros da alta classe política americana são descendentesroleta para editarescravizadores . O trabalho é uma das inspirações do Projeto Escravizadores, da Pública . A lista norte-americana inclui 72 deputados, 28 senadores (maisroleta para editarum quarto do total), dois juízes da Suprema Corte, 11 governadores e cinco dos seis presidentes vivos – a exceção é Donald Trump, cuja família migrou para os Estados Unidos depois do fim da escravidão.
A ideia, contada pelo jornalista Tom Lasseter à Pública , surgiu no contexto pós-assassinatoroleta para editarGeorge Floyd por um policial no estadoroleta para editarMinnesota, que resultouroleta para editarprotestos contra o racismo nos EUA e no mundo. Na época, Lasseter tinha acabadoroleta para editarse mudar com a famíliaroleta para editarSingapura para a capital americana, Washington, depoisroleta para editarter construído uma carreiraroleta para editardécadas na Ásia. 
“Nas primeiras semanasroleta para editarvolta, fui atraído pela constante cobertura televisiva dos protestos. Li sobre a derrubadaroleta para editarestatutos confederadosroleta para editarterrenos públicos. Pensei na minha própria infância,roleta para editarcrescer na Geórgia. E me perguntou: Este país, que eu ainda não havia apresentado aos meus filhos, já havia realmente enfrentadoroleta para editarhistóriaroleta para editarescravidão?”, conta o jornalista, que explorou a conexãoroleta para editarsua própria família com a escravidãoroleta para editaruma das reportagens do especial . 
A discussão sobre peças nos EUA existe desde antes da abolição,roleta para editar1865. explica a historiadora Ana Lúcia Araújo, pesquisadora e professora da Universidade Howard,roleta para editarWashington. “Ainda no século 18, a primeira pessoaroleta para editarque tem notícia que pediu reposição para uma mulher escravizada chamada Belinda Sutton.” Ela é autora do livro Reparations for Slavery and the Slave Trade: A Transnational and Comparative History.
A despeitoroleta para editaro tema estarroleta para editaralta, ela diz que não há, atualmente, um movimento massivo e organizado pleiteando indenizações ou desenvolvendo estratégiasroleta para editargovernos dos países onde houve escravização, que consideram reparações financeiras aos descendentesroleta para editarescravizados. 
<h3>Reparações como missãoroleta para editarvida</h3>
Levantamentos que resgataram o históricoroleta para editarantepassados ​​escravizadores, como o da Pública , suscitam questões sobre a responsabilidade que as pessoas têm sobre as ações dos seus antepassados ​​ou mesmo o que pode ser feito hoje dianteroleta para editartais revelações. A históriaroleta para editaruma jornalista britânica parece indicar um caminho.
Nascidaroleta para editarLondres, Laura Trevelyan é uma mulher brancaroleta para editar56 anos que construiu uma carreiraroleta para editar30 anos na rede BBC, até deixar o veículoroleta para editarmarço do ano passado, quando decidiu se dedicar integralmente à campanha por justiça reparatória pela escravidão. 
Essa decisão começou a tomar formaroleta para editar2016, quando um primo da jornalista descobriu que seisroleta para editarseus ancestrais foram donosroleta para editarmaisroleta para editarmil pessoas escravizadasroleta para editarGranada, à época uma colônia britânica no Caribe. Quando a escravidão foi abolida nos territórios que colonizava,roleta para editar1833, o Reino Unido pagou indenizações para os donosroleta para editarescravizados. Vinte milhõesroleta para editarlibras, o que representava cercaroleta para editar40% do orçamento britânico naquele ano, foram dedicados a isso. Os Trevelyan foram uma das famílias beneficiadas, recebendo quase 27 mil librasroleta para editarvalores da época
Em 2022, Trevelyan passou para o país caribenho e produziu um documentário sobre a experiência . “Para todos que eu estive, eu perguntei: 'Você acha que eu devo pedir desculpas pelo que meus ancestrais fizeram? E acha que eu, pessoalmente, devo pagar reparações?'. E todos me disseram que sim”, contou à Pública . 
No ano seguinte, parte da família dela passou para Granada para formalizar pessoalmente um pedidoroleta para editarperdão e anunciar a doaçãoroleta para editar100 mil libras (cercaroleta para editarR$ 750 mil) para projetosroleta para editareducação na ilha caribenha. Os Trevelyan realizou um fundoroleta para editarcaridade para Granada. As medidas foram adotadas no diálogo com as vítimas, algo que o jornalista aponta como fundamental quando se falaroleta para editarjustiça reparatória.
“Esperamos que seja o começo, que outros sigam o exemplo. Esperamos que sirvamroleta para editarexemplo para os governos”, diz o jornalista. Ela afirma que, desde então, maisroleta para editar150 pessoas procuraram, buscando saber o que poderiam fazer para reparar os crimesroleta para editarseus antepassados. 
Em marçoroleta para editar2023, Laura Trevelyan e outros descendentesroleta para editarescravizadores uniram forças no Heirs of Slavery (Herdeiros da Escravidão,roleta para editartradução livre). Uma das basesroleta para editaratuação do grupo é o “ Planoroleta para editar10 Pontos pela Justiça Reparatória ” formulado pela Comunidade do Caribe (Caricom), um blocoroleta para editarcooperação econômica e política criadoroleta para editar1973, formado por ex-colôniasroleta para editarpaíses europeus. 
O planoroleta para editaração inclui o cancelamento da dívida externa dos países da região; apoio para a erradicação do analfabetismo; transferênciaroleta para editartecnologia e o repatriamento para os descendentes dos africanos arrancadosroleta para editarseus países para quem o desejar, alémroleta para editarum pedidoroleta para editarperdão oficial. 
Em 2001, uma conferência da Organização das Nações Unidas (ONU)roleta para editarDurban, África do Sul, declarou que a escravidão e o tráficoroleta para editarescravos é um crime contra a humanidade e, portanto, imprescritível. Além disso, clamou que os países buscassem caminhos para restaurar “a dignidade das vítimas”.

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Movimento pela reparação histórica da escravidão ganha força no Brasil e no mundo

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