Agência Brasil – Na semanareal bet bingoque é comemorado o <a href="https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2024-06/dia-do-orgulho-lgbt-pais-tem-longa-historia-de-luta-por-direitos-0">Dia do Orgulho LGBTQIA+</a>, a reportagem da Agência Brasil fez uma entrevista exclusiva com Nelson Matias, presidente da Associação da Parada do Orgulhoreal bet bingoGays, Lésbicas, Bissexuais e Transgênerosreal bet bingoSão Paulo. O evento, que começoureal bet bingo1997, já foi considerado o maior do mundo pelo Guinness Bookreal bet bingo2006, quando reuniu cercareal bet bingo2,5 milhõesreal bet bingopessoas.
Nelson fala sobre a importânciareal bet bingomanter o caráter político e não apenas festivo da Parada e alerta sobre a necessidadereal bet bingoas batalhas ultrapassarem o mundo virtual: “nada substitui a força das ruas”. Na <a href="https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2024-06/com-musica-e-alegria-parada-lgbt-de-sp-chama-atencao-para-politica">edição deste ano</a>, realizada no dia 2 junho, o tema foi “Bastareal bet bingonegligência e retrocesso no Legislativo: vote consciente por direito da população LGBT+”. 
O líder da organização diz que é preciso fortalecer a luta diante do avançoreal bet bingoforças conservadoras e reflete sobre a possibilidadereal bet bingointensificar a união com outros movimentos sociais, como o negro e o feminista. Outro tema abordado é sobre como estabelecer relações coerentes com empresas que exploram o chamado pink money (mercadoreal bet bingoconsumo LGBT+).
Confira a entrevista:
Agência Brasil: O tema da Parada neste ano foi a importânciareal bet bingopolíticas públicas, com foco na representatividade no Legislativo. Por que escolheram esse foco?
Nelson Matias: Primeiro, queríamos denunciar que o Poder Legislativo no Brasil precisa acabar com a extrema negligência sobre os direitos LGBT+, principalmente no Congresso Nacional. A faltareal bet bingolegislação específicareal bet bingocombate à LGBTfobia deixou lacunas que precisaram ser preenchidas pelo Judiciário. Todas as conquistas que tivemos ao longo desses anos foi pela ação do Judiciário,real bet bingorelação à omissão deste Legislativo. Vou citar um exemplo muito claro: a criminalização da LGBTfobia foi reconhecida recentemente pelo STF. A gente tinha um projetoreal bet bingolei, o 22/2006, que tinha esse objetivo. O projeto não só não foi colocado como pauta, como foi excluído, não existe mais. Ou seja, o Congresso Nacional simplesmente apagou qualquer possibilidadereal bet bingofazer essa discussão.
A gente chamou a comunidade para debater isso, porque entende que a Parada não é da ONG, éreal bet bingotodos. E, nos últimos anos, temos adotado essa práticareal bet bingofalar sobre eleição nas paradas que acontecemreal bet bingoperíodosreal bet bingoeleição. E nessa pauta sobre o Legislativo, entendemos que alémreal bet bingonão aprovar leis sobre nossos direitos, querem retroceder. O casamento foi garantido pelo STF. E o Legislativo, recentemente, aprovou um projetoreal bet bingolei que impede pessoas LGBT+real bet bingoter o seu casamento reconhecido. A gente viu essa manobra dentro do Congresso. Não sabemos ainda se vai passar.
E a gente tem observado na história política do país que isso só vai mudar se a gente conseguir fazer uma frentereal bet bingoluta. Porque os congressistas eleitos que formam as bancadas evangélicas, do agro e da bala têm uma coalizão muito forte. E são grupos que não primam pelas pautas progressistas.
A gente tem um ganho quando começa a trazer essa pauta da eleição. Conseguimos eleger duas pessoas trans: Erika Hilton (PSOL-SP) e Duda Salabert (PDT-MG). Temos um senador abertamente gay, o Fabiano Contarato (PT-ES). Somos infinitamente pequenos perto do universo dessas bancadas. Porém, se pensar que isso seria impensável há 10 ou 20 anos, significa quereal bet bingoalguma forma a gente conseguiu conscientizar um pouco os nossos pares e os nossos aliados.
Pensando nisso, nos últimos anos a gente tem reforçado para a população LGBT+ que é preciso votar nas pessoas LGBT+ e ampliar nossa presença no Legislativo. Agora, eu preciso ter um voto crítico também. Não pode votarreal bet bingoalguém LGBT+ que não tenha compromisso com as pautas LGBT+. Aquireal bet bingoSão Paulo, tem um vereador trans eleito que não fala das pautas das pessoas trans. Tem um homem negroreal bet bingodireita que fala contra as pautasreal bet bingocotas raciais e LGBT+. Então, eles não nos representam.
Agência Brasil: A história da mobilização LGBTQIA+ no Brasil é longa e envolve contribuiçõesreal bet bingodiferentes gerações. Os jovens LGBTQIA+ estão se engajandoreal bet bingocontinuar essa história, seja por meio das paradas oureal bet bingooutras formasreal bet bingoluta?
Nelson Matias: Toda sociedade passa por processosreal bet bingorenovação e enfrenta questões intergeracionais. Eu chegueireal bet bingo1997 na Parada. Isso tem 27 anos, então, pessoas hoje nessa faixa etária estavam nascendo quando eu comecei. De uns anos para cá, a Parada ficou extremamente jovem. E isso é importante. Quando eu cheguei, existiam outros antesreal bet bingomim que eu reverencio muito. Sem essas pessoas, não estaríamos no patamar que estamos hoje, mesmo com todas as questõesreal bet bingoLGBTfobia que ainda enfrentamos.
A única coisa que eu tenho cobrado dessa militância mais jovem é que, por mais que haja uma importância no uso da internet e das redes sociais, nada substitui a força da rua. Eu, com 58 anos, tento me adaptar ao máximo nessa interação do mundo virtual, que eles dominam muito. Porém, a força da rua é muito forte e diz muito sobre nós. Porque, a partir do momento que eu saioreal bet bingotrásreal bet bingouma tela e vou para a rua, eu estou fortalecendo os indivíduos que estão ali enquanto cidadãos. O que nós precisamos agora é justamente que essa juventude também entenda dessa forma.
Isso é importante ao dar continuidade nessa luta, que é diária e constante. E é normal que essa juventude aflore cada vez mais, porque ela chegoureal bet bingoum momento histórico que pode ter uma maior facilidade para ser gay. real bet bingo Mais do que erareal bet bingo1997, oureal bet bingo1969,real bet bingoplena ditadura militar. Muito mais fácil ser uma Pablo Vittar hoje do que ser um Ney Matogrossoreal bet bingo1970, desafiando todas as restrições políticas do país. Você vai ver, por exemplo, a população indígena e areal bet bingomatriz africana, e elas têm todo um históricoreal bet bingose referenciar àqueles que vieram antes delas. Eu sinto falta disso na comunidade LGBT+.
‘Ah, mas o LGBT+ ainda está fora do mercadoreal bet bingotrabalho, ainda sendo expulsoreal bet bingocasa, ainda sendo assassinado’. Sim, isso é fato, mas muito menos do que foi antes. Você pode mostrarreal bet bingoafetividadereal bet bingopúblico com um risco muito menorreal bet bingoser agredido ou violentado do que era há 20 anos. Isso é uma conquista das ruas. Quando eu encontro com os mais jovens, falo que a gente se prepara para que eles continuem carregando essa bandeira, porque a gente está envelhecendo. Provavelmente, vão lutar a partirreal bet bingonovas dinâmicas, mas ainda vão precisar ocupar as ruas e outros espaçosreal bet bingopoder.
Agência Brasil: A Paradareal bet bingoSão Paulo teve patrocínioreal bet bingograndes empresas. Vocês selecionam os parceirosreal bet bingoacordo com a afinidadereal bet bingovalores LGBT+? Como equilibrar a necessidadereal bet bingocaptar recursos com o cuidadoreal bet bingonão se associar a uma marca que pretende apenas lucrar com a bandeira do movimento?
Nelson Matias: Lá atrás, quando a gente fez as primeiras paradas, tinha pouco recurso. Em alguns momentos, a gente tinha apoio basicamente dos sindicatos. Quando a gente começou lá atrás, não tinha ainda essa coisa do pink money ou das empresas abraçarem as pautas transversais, da população LGBT+, das mulheres, meio ambiente e da população negra. Isso é muito recente. E quando vieram as empresas, discutimos quais seriam os critérios. Vamos aceitar tudo ou não?
Eu prefiro fazer uma Parada sem dinheiro, do que receber recursosreal bet bingouma empresa, por exemplo, que pratica o trabalho análogo à escravidão. Ou que não tenha minimamente uma política dentro dareal bet bingoempresa voltada para os funcionários LGBT+. Quando as empresas começaram a nos procurar, a maioria já tinha pelo menos um pequeno trabalho interno nesse sentido. E é isso que a gente continua cobrando. Que as empresas nos vejam como consumidores não tem problema. Elas vivem disso, são partereal bet bingoum sistema capitalista. Não vamos ser ingênuosreal bet bingoque funcionariareal bet bingooutra forma. Porém, dentro desse sistema, eu também sou um cidadão. Então, quais são as políticasreal bet bingocidadania que essa empresa está implementando?
E a gente tem cobrado muito também das empresas que elas não abandonem as paradas. Temos visto algumas pelo Brasil com muitas dificuldades, porque recebem uma verba muito pequena. Eu posso fazer uma Parada com pouco dinheiro ou com muito dinheiro. Mas é ele que vai dar o tom da grandeza. É o dinheiro que vai determinar se eu posso ter mais trios, mais artistas, mais coloridos e bexigas. Mas se eu não tiver, tudo bem. É preciso lembrar sempre que a Parada é, antesreal bet bingotudo, uma manifestação, e vai continuar sendo assim.
Sereal bet bingovezreal bet bingomilhões, eu colocar 100 mil pessoas na rua, ainda vai continuar sendo uma das maiores manifestações desse país. Colocar 3 milhõesreal bet bingopessoas na ruareal bet bingoSão Paulo não é fácil. Mas uma parada com 100 pessoas no Sertãoreal bet bingoPernambuco é tão significativa quanto a Paradareal bet bingoSão Paulo. Hoje, as empresas basicamente só têm visto a Paradareal bet bingoSão Paulo, mas e as outras paradas no Brasil que passam muita dificuldade? Precisamos conversar com as empresas, mostrar que estamosreal bet bingotodos os lugares hoje. Somos o país com a maior Parada do mundo e com o maior númeroreal bet bingoparadas no mundo. Marca que era antes dos Estados Unidos. Nós temos maisreal bet bingo320 paradas realizadas no Brasil. Só no interiorreal bet bingoSão Paulo, eu tenho 52 paradas. Fora as paradasreal bet bingoperiferia. A gente fez um cálculo no último encontroreal bet bingoorganizadores das paradas, e colocamos nas ruas maisreal bet bingo20 milhõesreal bet bingopessoas. É muito significativo.
Agência Brasil: Do pontoreal bet bingovista político, existe uma tentativareal bet bingounificar lutas com outros grupos historicamente marginalizados na sociedade? Ou há um entendimentoreal bet bingoque, por terem diferenças, os movimentos precisam agirreal bet bingoforma separada?
Nelson Matias: Essa unidade é o sonho, a meta, mas ainda uma utopia. Eu tenho um lugarreal bet bingoprivilégio: sou um homem gay branco, cisgênero. Passo totalmente despercebido na rua, porque eu não tenho nenhum traço que denuncia a minha homossexualidade. Masreal bet bingonenhum momento da minha vida me eximireal bet bingobrigar pelos outros. Não quero ter um lugarreal bet bingofala, por exemplo,real bet bingouma travesti, porque eu jamais vou saber quais são as doresreal bet bingouma travesti. Mas eu posso me somar à luta dela. Eu jamais vou querer ter um lugarreal bet bingofalareal bet bingouma pessoa negra, porque eu jamais vou saber o que é o racismo sentido na pele, mas eu posso me somar.
Os movimentos sociais são muito enraizados na esquerda, no que ela prega enquanto ideologia progressista. Mas, nos últimos tempos, a gente vê muito o discurso que vai na contramão do que está falando agora,real bet bingocomo unir as nossas pautas. Porque os nossos inimigos e o modus operandi são os mesmos. Por exemplo, o que discrimina uma travestireal bet bingouma mulher é a misoginia e o machismo. Os protagonistas são os mesmos. A direita faz isso com muita propriedade, quando as diferentes bancadas precisam se unir, mesmo com todas as suas divergências, se unem.
O problemareal bet bingoum feminicídio no Brasil é um problema meu. Eu não sou mulher, eu sou um homem branco gay, mas eu deveria me indignar ao ouvir todo dia no noticiário que mulheres são assassinadas por homens machistas. Essa pauta deveria ser minha. Eu deveria me indignar com uma pessoa negra vítimareal bet bingouma agressão. E quando há essas tentativas, muitas vezes existem reações contrárias, por não ser o meu lugarreal bet bingofala. Pode não ser o meu lugarreal bet bingofala, mas estou aqui para lutar com você. Acho que o sistema tem justamente medo disso e é por isso que os homens brancos que estão no poder combatem tanto a nossa existência.
A gente precisa se conscientizar que temos muito mais força juntos e unir as nossas pautas, porque temos mais coisas que nos unem do que nos separam. Somos vítimas do preconceito e da exclusão. Mas ainda temos problemas a superar, questões que nos atravessam como a consciênciareal bet bingoclasse social, porque você também vai ter os cortesreal bet bingorenda. Dentroreal bet bingoum sistema capitalista, o que vale é o dinheiro. Se a travesti chegar no restaurante mais chiquereal bet bingoSão Paulo, no melhor carro importado, vão entender um tapete vermelho para ela. Agora, se ela chegar toda fuleira, vão chamar a polícia. A mesma coisa para uma pessoa negra.
Em algum momento eu ouvireal bet bingouma pessoa que a Parada ficou feia e pobre. E por que ela estava dizendo isso? Porque a periferia desceu e ocupou a Parada. Antes, havia muita gentereal bet bingoclasse média. E é isso, nós somos essa diversidade. Nós somos essa complexidadereal bet bingoestruturas sociais.
Dito isso, é um sonho meu ereal bet bingomuita gente tentar fazer um dia a Parada que não é só LGBTQIA+, mas dos movimentos sociais. Não sei se eu vou estar vivo para ver isso, mas seria o ápice. Se um dia isso acontecer, significa que foi game over para o ladoreal bet bingolá.

Nelson Matias Pereira, presidente da Parada do Orgulho LGBT+real bet bingoSão Paulo

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Luta LGBTQIA+ deve ir além da internet, diz líder da Paradareal bet bingoSP

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