Por Elaine Patrícia Cruz, da Agência Brasil - Fofoca, canjica, moleque, marimbondo e caçula. Algumas pessoas podem não saber, mas todas essas palavras – que já estão absolutamente incorporadas ao português escrito, falado e vivido no Brasil – são,em realidade,jogo do keno ao vivoorigem africana. E é isso o que apresenta a nova exposiçãojogo do keno ao vivocartaz no Museu da Língua Portuguesa, que será inaugurada nesta sexta-feira (24) na capital paulista. A curadoria é do músico e filósofo Tiganá Santana.Chamadajogo do keno ao vivoLínguas Africanas que Fazem o Brasil, a mostra confirma a presença africana no dia a dia do povo brasileirojogo do keno ao vivodiversas formas como nos expressamos: seja pela palavra escrita ou falada, seja pela entonação, pelo vocabulário ou até mesmo pela forma como construímos nossos pensamentos.
Durante o percurso, o visitante vai se deparar não só com experiências verbais, mas também com experiências não verbais que serão apresentadas por meiojogo do keno ao vivovídeos, sons e instalações imersivas. A ideia é que o público não só conheça mais sobre as línguas africanas, mas também possa senti-las, “sorvendo o que se ouve e o que se vê”.
“É impossível falarjogo do keno ao vivolínguas africanas no Brasil sem considerar essas outras dimensõesjogo do keno ao vivolinguagem e sem considerar as implicações do corpo nisso. Essa é uma oportunidade para a gente falar como a língua se faz presente nos tambores, nos gradis, na dimensão arquitetônica, nas estampas e no jogojogo do keno ao vivobúzios”, disse o curador,jogo do keno ao vivoentrevista à Agência Brasil.
Essa presença poderá ser sentida tambémjogo do keno ao vivooutras manifestações culturais como a arquitetura, as festas populares e os rituais religiosos. E atéjogo do keno ao vivocanções bastante populares como Escravosjogo do keno ao vivoJó, jogavam caxangá. O trecho dessa canção, que aparecejogo do keno ao vivouma parte da exposição, mostra que o “jó” advém das línguas quimbundo e umbundo e quer dizer “casa”, “escravosjogo do keno ao vivocasa”.
“Escravizados ladinos, crioulos e mulheres negras, que realizavam trabalho doméstico e falavam tanto o portuguêsjogo do keno ao vivoseus senhores quanto a língua dos que realizavam trabalhos externos, foram a ponte para a africanização do português e para o aportuguesamento dos africanos no sentido linguístico e cultural”, disse Tiganá Santana, com base nas pesquisas da professora Yeda Pessoajogo do keno ao vivoCastro.
<h2>Legado</h2>
As línguas dos habitantesjogo do keno ao vivoterras da África Subsaariana - como o iorubá, eve-fom e as do grupo bantu - têm participação decisiva na configuração do português falado no Brasil ejogo do keno ao vivonossa culturajogo do keno ao vivoforma geral. De acordo com o Museu da Língua Portuguesa, essa é uma história e uma realidade que nos foram legadas por cercajogo do keno ao vivo4,8 milhõesjogo do keno ao vivopessoas africanas que foram trazidasjogo do keno ao vivoforma violenta para o Brasil entre os séculos 16 e 19, durante o períodojogo do keno ao vivoregime escravocrata.
“Essa exposição é focada na presença das línguas africanas no português escrito, pensado e vivido no Brasil. Muito mais do que influências, essas línguas são constituiçãojogo do keno ao vivocomo a gente pensa, do que a gente fala, como a gente escreve. Enfim, essa é uma oportunidade para que possamos falarjogo do keno ao vivolíngua a partirjogo do keno ao vivooutro lugar, trazer à tona essas presenças que a colonialidade e o racismo trataramjogo do keno ao vivodissociar da nossa consciência e é um acontecimento que chega pela necessidade”, disse o curador. Ele lembrou que essa é , provavelmente, a primeira vezjogo do keno ao vivoque há uma mostra dedicada às línguas africanas no país. “Isso já deveria ter chegado há muito tempo ejogo do keno ao vivovários lugares do Brasil”, acrescentou.
A mostra também discute a ausência do ensinojogo do keno ao vivolínguas africanas nos currículos brasileiros. “Essas línguas africanas não são uma abstração. As pessoas pensam com base nelas. Antesjogo do keno ao vivoa gente ter uma língua-cultura luso-brasileira, essa língua se africanizou. Ela se africanizou para ser brasileira. É por isso que a gente fala caçula e não benjamim; é por isso que a gente fala cochilar, não fala dormitar; é por isso que a gente tem fofoca, que vemjogo do keno ao vivoòfófó do Yorubá. E é por isso que temos as duplas negações e a queda do ‘r’ dos verbos no infinitivo, que são uma presença do tronco linguístico bantu. A língua brasileira e os corpos que falam essa língua fundamentalmente são constituídos por presenças africanas”, disse o curador.
<h2>Percurso</h2>
Entre espelhos e búzios suspensos, conectando o mundo físico e o espiritual, a mostra tem início com a apresentaçãojogo do keno ao vivopalavras oriundasjogo do keno ao vivolínguas africanas e que fazem parte do nosso cotidiano. O público será recebido com 15 palavras que foram impressasjogo do keno ao vivoestruturas ovaisjogo do keno ao vivomadeira e que estão penduradas pela sala. Caminhando entre essas estruturas, o visitante poderá ouvir essas mesmas palavras gravadas pelas vozesjogo do keno ao vivopessoas que residem no território da Estação da Luz, onde o museu está localizado.
Seguindo pelo espaço expositivo, os adinkras aparecem espalhados pelas paredes. Os adinkras são símbolos utilizados como sistemajogo do keno ao vivoescrita pelo povo Ashanti, que habita países como Costa do Marfim, Gana e Togo, na África. Eles podem representar desde diferentes elementos da cultura até sentenças proverbiais inteirasjogo do keno ao vivoum único ideograma.
À paredejogo do keno ao vivoadinkras seguem-se duas videoinstalações da artista visual Aline Motta, que fazem com que o público passe entre um corredorjogo do keno ao vivoprojeções e se sinta parte da obra. A primeira videoinstalação é projetada no chão. Nela a artista destaca formas milenaresjogo do keno ao vivografias centro-africanas, especificamente as do povo bakongo, presentejogo do keno ao vivoterritórios como o angolano. Já a segunda obra é projetadajogo do keno ao vivoduas paredes e foi criada exclusivamente para o museu. Nela são apresentados quatro provérbiosjogo do keno ao vivoquicongo, umbundo, iorubá e quimbundo, que são traduzidos para o português. Entre eles está o provérbio Luar Claro não é Sol.
Além disso, a exposição apresenta um mapa dos fluxos linguísticos, esculturasjogo do keno ao vivoRebeca Carapiá, tecidos da designer Goya Lopes e uma obra do multiartista J. Cunha, alémjogo do keno ao vivofotografias. Há ainda uma cenografia constituída por tambores e uma projeção criada pela artista Aline Motta, que explora trechos do texto Racismo e Sexismo na Cultura Brasileira, da intelectual Lélia Gonzales, que cunhou a expressão pretuguês.
A exposição se encerra com televisores exibindo registrosjogo do keno ao vivomanifestações culturais afro-brasileiras e uma sala imersiva e interativa, que surpreenderá o público com projeções artísticas quando forem enunciadas palavras como axé, afoxé e zumbi.
<h2>Programação especial</h2>
Além do espaço expositivo, a mostra se completa com uma programação paralela. Entre elas estão um clube literário e um sarau, informou Roberta Saraiva, diretora técnica do museu.
A exposição Línguas Africanas que Fazem o Brasil ficarájogo do keno ao vivocartaz até janeiro do próximo ano, com entrada gratuita aos sábados.

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Museu da Língua Portuguesa inaugura mostra sobre línguas africanas

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Museu da Língua Portuguesa inaugura mostra sobre línguas africanas