<a href="https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2024-09/leci-brandao-80-anos-e-uma-vida-dedicada-defesa-da-cultura-negra">Agência Brasil -</a> Uma mulher negra, com convicções fortes e defensorabrabet com brpautas sociais. Uma artista, compositora e ativista que teve a vida marcada por dificuldades, mas também por muita disposiçãobrabet com brlevar adiante a vontadebrabet com brse expressarbrabet com brvárias formas. Essa é Leci Brandão, que completa 80 anos nesta quinta-feira (12).
Quem conhece a cantora, atriz e deputada estadual Leci Brandão têm uma admiração profunda pela históriabrabet com brvida dela e pelo legado que essa história representa. Desde cedo, já demonstrava inspirações artísticas.
Gostavabrabet com brsamba e se divertia quando ia para a casa da madrinha no Morro da Mangueira. Foi com essa convivência que se tornou a primeira mulher a pertencer à alabrabet com brcompositores da Estação Primeirabrabet com brMangueira. Essa foi uma das muitas faces do pioneirismo que marcarambrabet com brtrajetória.
A relação com a mãe Dona Lecy, considerada melhor amiga, sempre foi firme. Muitasbrabet com brsuas decisões na vida tiveram por trás um conselho da mãe, que também incentivou abrabet com brreligiosidade: "Dona Lecy Assunção Brandão é a sabedoria da minha vida."
A ida ao terreiro do Caboclo Rei das Ervas,brabet com brSão Gonçalo, na região metropolitana do Rio, foi uma sugestãobrabet com brDona Lecy, quando a filha enfrentava um momentobrabet com brdepressão, depoisbrabet com brficar cinco anos sem gravar. Lá, deu novo rumo à carreira e chegou a ganhar um discobrabet com brouro pela vendagembrabet com brum discobrabet com brhomenagem a Ogum, seu santobrabet com brcabeça.
Atualmente, Leci está no quarto mandato consecutivo como deputada estadual na Assembleia Legislativabrabet com brSão Paulo (Alesp). Em 2022, ela recebeu 90.496 votos
O musical Leci Brandão – Na Palma da Mão, que teve estreiabrabet com brjaneirobrabet com br2023 e segue nos palcos, tratabrabet com brtodos esses temas e surpreendeu a artista, que se viu retratadabrabet com brpequenos detalhes.
Em entrevista exclusiva à Agência Brasil, Leci Brandão lembroubrabet com brvários momentos dabrabet com brtrajetória e, muito carinhosa, agradeceu por poder contar momentos importantes que vivenciou.
Confira os principais trechos da entrevista:
Agência Brasil: Todos que participam do musical passam o sentimentobrabet com brprazerbrabet com brfazer o espetáculo, o que achou dabrabet com brrepresentação no musical?
Leci Brandão: Primeiro gostariabrabet com brte agradecer pela oportunidadebrabet com brdar essa entrevista. Com o que está acontecendo na minha vida nos últimos tempos, o meu coração deve ser muito forte, porque a emoção está sendo muito grande. Tem muita coisa acontecendo ao mesmo tempobrabet com brfunção desse aniversáriobrabet com br80 anos. Quando paro para pensar quebrabet com br80 anos já fiz tanta coisa, me emociono muito mesmo. Quando fui assistir a peça no Sesc Copacabana [onde teve a estreia] confesso que fiquei impactada. Não esperava que eles fossem construir uma coisa tão bonita e tão legítima.
A atriz [Verônica Bonfim], que representa minha mãe Dona Lecy, eu fiquei encantada com ela. A outra atriz [Tay O'Hanna] que faz a Leci, eu me assustei até. A cor do cabelo, as roupas, eu achei que tinha essa força, essa magia. Nunca poderia imaginar que fosse pegar todos os trejeitos e a forma como eu canto. Tem horas que fico pensando, 'gente isso está acontecendo mesmo'? As pessoas conseguiram traduzir tudo.
Agência Brasil: Sua religiosidade também é um tema bastante explorado no espetáculo.
Leci Brandão: Eu tenho uma senhora que foi mãebrabet com brsanto aqui no Riobrabet com brJaneiro lábrabet com brSão Gonçalo. Mãe Alice. Conheci essa senhora e me encantei por ela, muito boazinha e trabalhava com uma entidade chamada Caboclo Rei das Ervas. Eu devo tudo a esse caboclo, que conhecibrabet com br84. Estava muito desesperada porque estava sem gravar há cinco anos. Pedi demissão da gravadora que estava e fiquei cinco anos sem gravar. Quando conheci esse terreiro,brabet com brSão Gonçalo, o caboclo Rei das Ervas disse para mim que eu estava triste,brabet com brdepressão, 'mas fique tranquila porque você vai retomarbrabet com brcarreira'. Cinco anos sem gravar, como? [Ele disse:] 'Você vai retomar a carreira e antes disso acontecer você vai sair do Brasil'.
Não acrediteibrabet com brnada. Como pode? Esse tempo todo sem atuar, sem nada. E isso aconteceu: eu saí do Brasil e fui para Angola,brabet com brnovembrobrabet com br1984 (conheci Seu Rei das Ervas no princípiobrabet com br84), para uma apresentaçãobrabet com brLuanda. Quando desci do avião, me lembro perfeitamente, eu disse 'meu Deus tenho que bater cabeça na terra para pedir perdão dessa fala do caboclo'. Quando eu voltei recebi realmente um convite da gravadora Copacabana e na última faixa do LP eu coloquei a saudação ao Seu Rei das Ervas.
Fui a São Gonçalobrabet com brnovo para apresentar a ele o que eu tinha feito, por gratidão. Ele falou: 'a partirbrabet com bragora, sempre que você fizer um disco coloque a última faixabrabet com brhomenagem a um orixá.' E assim eu fiz. Coincidentemente Ogum, que é o orixá que na verdade comanda a minha cabeça, graveibrabet com br88 e recebo o meu primeiro discobrabet com brouro. Então foram muitas afirmações que foram feitas e cumpridas na minha vida.
Tenho muito respeito e muita gratidão pela religiãobrabet com brmatriz africana, porque as coisas foram acontecendo, retomei minha carreira. Tudo que eu faço e agradeço, nunca esqueço daquele dia que fui lábrabet com brSão Gonçalo pedir força, uma fé, inspiração, sei lá.
Você sabe que a gente está no parlamento na Assembleia Legislativabrabet com brSão Paulo. Quando houve o convite eu voltei lá para saber o que era isso. Já estava com a carreira reconstruída, tudo direitinho, porque então estavam me chamando para entrar para a política? 'Isso era uma coisa que está prevista para você fazer. Aceite o convite'. Aceitei e fui eleitabrabet com br2010, pelo PC do B, que não tinha nem assento na Assembleia Legislativa.
Agência Brasil: Na última eleição você conseguiu mais votos que nas três anteriores. É uma confirmação do seu trabalho no parlamento?
Leci Brandão: Você falou a palavra correta: confirmação. Está sendo tudo confirmado. Fico muito espantada porque é uma surpresa para mim. Sempre fiz as minhas coisas, mas nunca pela intençãobrabet com brreceber um resultado satisfatório, positivo. Minha vida está tendo uma pequena revoluçãobrabet com brtudo e aí vem essa questão também da peça. Quando o [diretor] Pilar ligou para mim e falou 'estou escrevendo [um projeto], vou entrarbrabet com brum edital'. Depois ele me contou 'vencemos o edital e vamos fazer a peça'. Eu falei 'meu Deus mais uma surpresa para mim'.
São muitas coisas que tenho recebido e chego à conclusãobrabet com brque estou cumprindo uma missão. Nada é porque eu pensei que queria. Não, é uma missão que Deus me deu e está sendo cumprida aqui na Terra do jeito que eu posso cumprir. Sou uma pessoa muito simples que não tem a escolaridade, ter sido formadabrabet com bruma Universidade. Sempre tive a preocupaçãobrabet com brtrabalhar para ajudar a minha mãe, que era serventebrabet com brescola pública no Rio. Nunca passou pela minha cabeça que eu ia ser a segunda mulher negra a entrar na Assembleiabrabet com brSão Paulo.
Agência Brasil: E a primeira mulher a entrar na alabrabet com brcompositores da Mangueira.
Leci Brandão: Da Mangueira, exatamente. Foi desse jeito aí. Me emociono muito. Tenho que tomar cuidado com as minhas emoções, porque a minha saúde está um pouco fragilizada. Estive muito doente no ano passado, tive internação inclusive, com problemasbrabet com brdiabetes, pressão alta, arritmia cardíaca... um bolo só que deixou a minha saúde um pouquinho mais abalada, mas a gente está tocando o barco do jeito que pode e dá.
Agência Brasil: Embora você tenha entrado na política oficialmente como parlamentar, abrabet com brvida toda sempre foi política, com posições muito firmes. Ao conversar com os atores do musical, notei que há,brabet com brtodos eles, um traçobrabet com brmuito respeito pelabrabet com brtrajetória ebrabet com brluta.
Leci Brandão: O que me encantou mais é a forma como conduziram, como foi escrito. Eu parabenizei e agradeci a cada um deles, a luz, as falas, a forma como se colocaram. É um palco simples. Não tem hiper, superprodução, não é isso, mas é carregadabrabet com bruma intensidadebrabet com bremoção que me fascinou.
Agência Brasil: Como você avalia o fatobrabet com brterem levado para a peça abrabet com brdefesa da comunidade LGBT? Que foi feitabrabet com brum período muito difícil para se discutir este tema. Essa foi mais uma causabrabet com brque você foi pioneira.
Leci Brandão: Vibrabet com bruma forma muito importante. Como você disse, eu fui uma das pioneiras nesta questão da defesa da comunidade LGBT. Eles terem retratado isso, foi mais uma luta contra o preconceito. E a formabrabet com brexpor essa luta foi feita com muita ternura e respeito à comunidade e à minha pessoa.
Agência Brasil: Onde o espetáculo passa, está fazendo sucesso, desde a estreia, há quase dois anos. E ainda vai entrarbrabet com broutros circuitos,brabet com brvários estados. Isso tudo é um reconhecimento também do seu trabalho, dabrabet com brtrajetória?
Leci Brandão: Eu fico me perguntando como é que a gente conseguiu construir tudo isso com tanta simplicidade, tanta tranquilidade, foi tudo muito natural. Primeiro que sou uma pessoa que eu não minto. Eu, Leci Brandão da Silva, não consigo mentir. Falo a verdade. Nem sempre a gente é bem interpretada, mas sou verdadeira. Sou incapazbrabet com br'vou sorrir porque vai ser bom sorrir'. Não! Faço o que o meu coração pede. O que minha cabeça direciona é o que eu faço. O fato da gente ser artista – eu costumo dizer: 'eu estou deputada, eu sou artista'. Sempre fui artista. Desde quando comecei nos anos 70, quando começo a gravar, sempre procurei transmitir nessa artebrabet com brcomposição, embora não saiba tocar nenhum instrumentobrabet com brharmonia, nada disso, mas Deus já manda pronto letra e música.
Se você me perguntar, eu digo que isso é coisabrabet com brorixá. Não pode ter outra explicação. Às vezes estoubrabet com brum lugar, já fiz música dentrobrabet com brônibus, dentrobrabet com brtrem, varrendo salabrabet com braula, coando um café, tomando uma chuveirada. As músicas vêm nas horas mais incríveis. Não me preparo para compor. Se eu disser segunda-feira vou fazer um samba, mentira, porque não me preparo para isso. Naturalmente que procuro sempre ter um gravador por perto para não esquecer a melodia e quando tenho parceirobrabet com brmúsica, geralmente, sou parceirabrabet com brquem toca algum instrumento.
Agência Brasil: Estamos neste momento que junta os 80 anos dabrabet com brvida ebrabet com brtrajetória contada nesse musical.
Leci Brandão: Principalmente a parte que eles escolheram determinadas músicas e tem tudo a ver com a realidade daquele momentobrabet com brque eu estava vivendo a situação do país e conseguia traduzir o meu posicionamento político, sem saber. Disseram pra mim: 'você sempre foi comunista'. Como assim? Nunca fui comunista, mas foram me provando. Nunca fuibrabet com brpolítica, nem minha família. Quando me perguntam 'como você costurou esse caminho todo com posicionamentosbrabet com brluta e questão social, da igualdade,brabet com brdemocracia?' Digo: 'olha minha mãe tinha o primário, mas a grande sabedoria que tenho na minha vida é baseada nela'.
Vou dar um exemplo. Quando fiz o samba as Coisas que Mamãe Ensinou,brabet com brque eu digo um bom dia, boa tarde, com licença, por favor... tudo isso é resultado das coisas que mamãe me ensinou. Não sei falar nada com ninguém sem dizer por favor, obrigada, sem pedir com licença. Sou bem à moda antiga. Essa coisa do respeito. Não consigo conhecer uma pessoabrabet com bridade e chamarbrabet com brvocê. Eu não consigo. Ainda, nesse ponto, ouso dizer a você que sou jurássica. Essa modernidade todabrabet com brIA, inteligência artificial, não tenho nada a ver com isso. Não entendo essas coisas e fica difícil para mim, nessa altura do campeonato, tentar entender isso. Não dá para mim não.
Agência Brasil: E sobre as músicas selecionadas para o espetáculo? Especialmente Zé do Caroço, que levou você a pedir demissão da gravadorabrabet com brum posicionamento muito forte.
Leci Brandão: Em todo lugar que trabalhei nunca permiti que ninguém me mandasse embora. Sempre pedi demissão. Quando trabalhei na Companhia Telefônica Brasileira, fui telefonista do setorbrabet com brconsertos e fui ao programa Flávio Cavalcanti, a Grande Chance, na TV Tupi. Como fui a melhor da noite como compositora, a Telefônica me prometeu que eu ia mudar para o setorbrabet com brburocracia. [O programa] Tinha mais audiência do que o Fantástico. Se você cantasse, ou fosse premiada com alguma coisa, o Brasil inteiro sabia. O tempo passou na primeira, segunda e terceira fase e não fizeram nada por mim [na Telefônica].
Fiquei sabendo que ia haver outra oportunidadebrabet com brempregobrabet com bruma fábricabrabet com brRealengo, e eu morava nessa épocabrabet com brSenador Camará. Fiz a prova e passei para trabalhar no setor burocrático. No dia que eu ia me apresentar com os aprovados, o comandante da fábrica, que era do Exército, disse que as vagas tinham sido extintas e quem passou 'se quiser trabalhar vai ter que ser na oficina da fábrica'. Eu já tinha pedido demissão da Telefônica, então fui ser trabalhadora da oficinabrabet com brrevisãobrabet com brbalas e festins. Ou seja:brabet com brtelefonista passei a operáriabrabet com brfábrica. Fiquei cheiabrabet com brcalos na mão, mas não tinha outra saída.
Essa história é muito louca, adquiri oito calos, quatrobrabet com brcada uma das mãos, mas precisava trabalhar para ajudar minha mãe. Aí dona Paulina Gama Filho, filha do ministro Gama Filho, sabia que eu tinha cantado no [programa] Grande Chance. Uma moça que me atendeu conhecia minha mãe e viu o mesmo sobrenome, me deu um cartão para que eu procurasse a filha do ministro que ela tinha uma vaga para mim. Assim as coisas aconteceram. Fui trabalhar no departamentobrabet com brpessoal da Universidade Gama Filho. Lá teve um festival e me classifiquei. Fui revelação e tive a oportunidadebrabet com brentrar também para a alabrabet com brcompositores da Mangueira na mesma épocabrabet com br71. As pessoas começaram a me ver, fui parar no teatro Opinião e começo a cantar na rodabrabet com brsamba do Opinião. O Sérgio Cabral – o pai e não o governador –, me conheceu e me deu a oportunidadebrabet com brir para a gravadora Marcus Pereira, a primeira gravadora na minha história.
As coisas são assim, vão acontecendo. Uma coisa atrás da outra e minha mãe sempre no bolo. Foi minha mãe que me levou para conhecer Seu Rei das Ervas, foi responsável por eu sair da fábricabrabet com brRealengo e ir trabalhar na Universidade Gama Filho. Veja que ela esteve sempre espiritualmente nas minhas coisas. Daí essa adoração que eu tenho por ela. Sinto saudadebrabet com brmuitas coisas, mas a saudade da minha mãe é incomparável. Ela se foibrabet com br2019 e estamosbrabet com br2024, mas eu penso na minha mãe todos os dias, rezo para o espírito dela, para estar sempre com ela.
Edição: Denise Griesinger

original

1250x600

610x380

1280x490

300x400

500x240

321x200

thumbnail

viewImage

Cultura

Leci Brandão completa 80 anos: uma vida dedicada à defesa da cultura negra

Revista

Edição #530

footerPrim

Canais

Regionais

AssuntosEmAlta

GamesOfertas

InfoNav

HeaderStaticPages

teamPage

mainNavigation

mobileNavigation

Tag: leci-brandao

brabet com br