Por Andrea DiP, Clarissa Levy, Claudia Jardim, Ricardo Terto e Stela Diogo, <a href="https://apublica.org/2024/09/politicos-como-marcal-vendem-projeto-de-riqueza-ultraliberal-diz-isabela-kalil/?goal=0_069298921c-c71ae02f48-288864420&amp;mc_cid=c71ae02f48">Agência Pública </a>- As eleições municipais deste ano escancaram um certo esvaziamento político, a ausênciapixbet telegrampropostas e o excessopixbet telegramperformances voltadas às redes sociais. Essa é a visão da antropóloga e uma das principais pesquisadoras da extrema direita no Brasil, Isabela Kalil, que conversa com o Pauta Pública.
Kalil fala sobre o crescente surgimentopixbet telegramfiguras políticas que se mostram como outsiders, isto é, aquelas que buscam se distanciarpixbet telegrampartidos e correntes políticas tradicionais para construir suas plataformas. Segundo ela, são também as mesmas figuras que fazem apelos à meritocracia, exaltando conquistas pessoais e acúmulopixbet telegramriquezas, apesarpixbet telegramao mesmo tempo não assumirem serem parte da elite que criticam. “É um discurso que dialoga muito como uma pessoa que trabalha ou que vivepixbet telegramcondições precárias, que se sente explorado e com razão. No entanto, o que essas lideranças não dizem é que eles sim fazem parte da elite”, critica.
Na visãopixbet telegramKalil, esses discursos acabam ganhando força entre “pessoaspixbet telegramsituação precária, que veem nessas falas uma espéciepixbet telegramluz no fim do túnel para melhorar as condiçõespixbet telegramvida delas”, afirma, mesmo que essa saída não seja possível para boa parte das pessoas.
A pesquisadora alerta que os candidatos que promovem o individualismo e o discurso antipolítica, na realidade fomentam uma ideologia ultraliberal. Na visãopixbet telegramKalil, o ultraliberalismo, por defender a atuação livre do mercado, sem intervenções governamentais, pode ser potencialmente catastrófico para países como o Brasil, acirrando as diversas desigualdades sem oferecer nenhum tipopixbet telegramproteção social. “Qual é o interesse dessas organizações [privadas]pixbet telegramreduzir desigualdades ou representar setores da população que estão fora dos interesses do mercado?”, questiona a antropóloga.
[Andrea Dip] Você acha que a individualização da política não vem só da parte dos candidatos, mas também dos eleitores? As pessoas não pensam mais na política como uma coisa coletiva, mas votam a partirpixbet telegrampautas individuais?
Esse não é um fenômeno exclusivo da política. Inclusive, a gente pode pensar que existem diferentes formas para entender a força da extrema direita e da direita radical. Uma determinada linhapixbet telegrampensamento conecta esse fenômeno político com o momento que estamos vivendo, no capitalismo. Nesse caso, seria algo que basicamente nos leva a um processo muito mais amplopixbet telegramdesfazimento daquilo que nos unepixbet telegramrelação ao comum, daquilo que é possível pensarpixbet telegrammobilização política.
A gente tem, ao mesmo tempo, uma crisepixbet telegramoutras institucionalidades ou mediações como, por exemplo, sindicatos. Com isso, a política,pixbet telegramuma certa maneira, seria um sintoma que aproveita desse fenômeno. Seria uma perspectivapixbet telegramatravessamento que tem a ver, inclusive, com a subjetividade. Com a forma como a gente demonstra nossos afetos, a forma como a gente se relaciona com as pessoaspixbet telegrammaneira mais íntima, a forma como a gente participa ou não da vida comunitária. Seja vivendopixbet telegramum condomínio ou lidando com o transporte público.
Então, acho que sim, é um fenômeno mais amplo, que não dá para olhar só para política. Porque quando a gente olha só pra política, tendemos a encontrar respostas como, por exemplo, a culpa é das plataformas digitais ou a culpa é da mudança tecnológica. É lógico que as mudanças tecnológicas têm um papel importante, mas não explicam só por isso. A gente tem que entender que existe, no caso dessa própria ideologia hiperindividualista, que ela tem a ver com uma perspectivapixbet telegramrelação ao Estado epixbet telegramrelação ao mercado, com tendências ultraliberais. […]
Estamos falandopixbet telegramuma visão do Estado,pixbet telegramuma visão da economia epixbet telegramuma sobreposição e uma interferência daquilo que seria iniciativa privada, a lógica empresarial e a lógica do empreendimento, ela toma o lugar da coisa pública e daquilo que seria do Estado. Por mais que determinadas figuras determinadas possam dizer que não são nem esquerda nempixbet telegramdireita, quando elas performam na perspectiva do hiperindividualismo, elas estão performando uma ideologia ultraliberal.
[Andrea Dip] Os políticos auto rotuladospixbet telegram“outsiders” – ainda que sejam parte do establishment político há anos – parecem que vêm envolvidospixbet telegramuma camadapixbet telegramentretenimento,pixbet telegramshowmen. Como você vê isso?
Essas figuras dos outsiders acabam tendo muita afinidade com o discurso individualista, hiperindividualista. E aí são duas perspectivas: a primeira, que os outsiders que estariam fora da política e eles trariam uma solução do chamado mercado. Isso significa que, o que está por trás do que está sendo proposto, é uma substituição da capacidade técnica do Estado e uma diminuição da importância que o Estado como instituição, para serpixbet telegramuma certa forma gerido por uma lógica empresarial. A perspectiva seria a seguinte, que todos os políticos e a classe política fazem partepixbet telegramuma espéciepixbet telegramcombopixbet telegramque está o Estado, que é grande, ineficiente, demorado e muito custoso para a sociedade.
Com isso, seriam outros tipospixbet telegramarranjo, que não passam por esse tipopixbet telegrammediação relacionada ao Estado, com inovações da iniciativa privada, que poderiam resolver melhor essas questões públicas. Isso é muito perigoso, porque se a gente vai pensar, é claro que o podemos fazer um montepixbet telegramcríticapixbet telegramrelação ao funcionamento do Estado e ao aperfeiçoamento da máquina pública. Agora, uma outra coisa é propor essa lógicapixbet telegramter o Estado como algo parecido a uma Startup com grandes inovações, tantopixbet telegrampessoas do mundo do mercado quanto do mundo da tecnologia, quase como gerir a coisa pública como se fosse uma big tech.
Isso é complicado porque quando a gente vai olhar para um país que tem problemas sériospixbet telegramdesigualdade, das mais variadas, qual é o interesse dessa organização que não o Estadopixbet telegramconseguir reduzir desigualdade oupixbet telegramconseguir atuar representado setores da população não estão encobertos por aquele interessepixbet telegrammercado oupixbet telegramconsumo? No final das contas, isso resultariapixbet telegramum processopixbet telegramacirrar desigualdades sociais já existentes. No momentopixbet telegramque a gente tem situações como as catástrofes climáticas e o acirramento das desigualdades, a perspectivapixbet telegramsubstituição do Estado, acho vale perguntar, a quem ela interessa? Eu não vejo dissociada essa ideia dos outsiders dessa perspectivapixbet telegramsubstituição daquilo que seria um CEO, digamos assim, gerindo a coisa pública.
[Andrea Dip] Eu estava lendo algumas pesquisas sobre como as periferias, que historicamente votavampixbet telegrampartidospixbet telegramesquerda, têm cada vez mais votadopixbet telegrampartidospixbet telegramdireita/extrema direita. Isso também me parece um fenômeno transnacional. Fuipixbet telegramum congressopixbet telegramdireita, norte americano, do Partido Republicano e elas traziam justamente essa virada como uma grande oportunidade. Diziam que os votos da direita, nos Estados Unidos, têm vindopixbet telegramimigrantes epixbet telegrampessoas não brancas sem diploma. O que está provocando isso?
Essa mudança está presente nessa guinada do voto da periferia, para esses projetos e ao mesmo tempo, no apelo ao eleitor mais jovem. Inclusive, Marçal [candidato a prefeito da cidadepixbet telegramSão Paulo] tentou fazer esse movimento, mesmo com uma relativa resistência das pessoas da cultura do funk e do trap. Mas ele fez esse movimento para tentar atrair tanto o voto mais jovem quanto os votos da periferia. Isso tem a ver com uma sériepixbet telegramquestões: primeiro que a direita radical e a extrema direita mobilizam muito um discursopixbet telegram‘nós somos antissistema. Eles são o sistema, eles são a elite’.
É um discurso que dialoga muito como uma pessoa que trabalha ou que vivepixbet telegramcondições precárias, que se sente explorado e com razão. No entanto, o que essas lideranças não dizem é que eles sim fazem parte da elite. No final das contas, essa tentativapixbet telegramjogar ‘eles são parte da elite’, acaba funcionando por mobilizar um sentimentopixbet telegramrevolta, que ele é muito legítimo. Principalmente para as pessoas que trabalhampixbet telegramjornadaspixbet telegram18 horas por dia, enfrentando horaspixbet telegramtrânsitopixbet telegramdeslocamentospixbet telegramgrandes cidades, correndo riscos, para ganhar salários que são muito baixos, para manter o capitalismo funcionando. […]
Quando a gente olha o discurso do Pablo Marçal, já que a gente está usando a cidadepixbet telegramSão Paulo como exemplo, é exatamente esse discurso que ele mobiliza. ‘Eu era pobre, trabalhava, sempre trabalhei, dependia do meu salário, e eu fiz uma trajetóriapixbet telegramascensão social e me tornei rico. E é isso que eu vou oferecer porque eu tenho os códigos, eu tenho a fórmula para que você possa destravar a riqueza e alcançar a prosperidade.’
Isso acaba sendo um discurso que ele lida com questões que são muito concretas e muito legítimas da população. Então não dá para dizer que os eleitores estão erradospixbet telegrambuscar melhores condiçõespixbet telegramvida. Mas é claro que esse projetopixbet telegramenriquecer não é realista para os eleitorespixbet telegrammaneira mais ampla. Mas tem aí um sentimento legítimo, porque a gente está falando, a partirpixbet telegrampesquisas etnográficas,pixbet telegrampessoas que querem ter condições mínimaspixbet telegramsobrevivência, minimamente dignas, como ir ao supermercado para fazer compras.
Muitas vezes, a gente tem aí um imbricamento que sim, tem pessoas que são investidores, que são ricas e que utilizam esse discurso e estão se mobilizando por uma perspectivapixbet telegramganância. Mas parte da população sãopixbet telegrampessoaspixbet telegramsituação precária, do pontopixbet telegramvistapixbet telegramcondiçõespixbet telegramvida, que veem nessas falas uma espéciepixbet telegramluz no fim do túnel para melhorar as condiçõespixbet telegramvida delas epixbet telegramsuas famílias. &nbsp;

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Políticos como Marçal vendem projetopixbet telegramriqueza ultraliberal, diz Isabela Kalil

247 - O deputado federal &nbsp;bolsonarista Zé Trovão (PL-SC) surpreendeu ao expandir rapidamente seu patrimônio após assumir seu mandato. Sem bens declaradospixbet telegram2022, o ex-caminhoneiro adquiriu uma casa avaliadapixbet telegramR$ 1,5 milhão e quatro carros, alémpixbet telegramuma moto, maispixbet telegramum ano e meio depoispixbet telegramtomar posse, destaca reportagem do <a href="https://www.metropoles.com/colunas/paulo-cappelli/ze-trovao-compra-casa-de-r-15-milhao-e-4-carros-apos-virar-deputado">Metrópoles</a>.
A residência, localizadapixbet telegramum condomíniopixbet telegramluxopixbet telegramJoinville, Santa Catarina, tem 417m² e foi financiada com parcelas que superam o salário líquido do parlamentar, que épixbet telegramaproximadamente R$ 12,3 mil. As prestaçõespixbet telegramimóveis sãopixbet telegramR$ 13,6 mil por mês, valor que Zé Trovão declarou que será dividido compixbet telegramesposa, a assistente social Cris Oliveira. O deputado explicou que todos os custospixbet telegramvida do casal são igualmente partilhados.
No entanto, aindapixbet telegramacordo com a reportagem, o registopixbet telegramcompra do imóvel, datadopixbet telegram12pixbet telegramjulho deste ano, lista apenas o nomepixbet telegramZé Trovão, sem menção a Cris Oliveira ou ao casamento recente. Mesmo assim, a assessoria do parlamentar afirmou que o assistente social contribui com metade das despesas monetárias.
A nova residência do deputadopixbet telegramJoinville está situada no Residencial Vila Montana, um condomíniopixbet telegramalto padrão no bairropixbet telegramSaguaçu. A casa, financiada pelo BRB, possui 207m²pixbet telegramárea construída e duas vagas cobertas na garagem. Essas vagas, contudo, são insuficientes para acomodar todos os veículos adquiridos por Zé Trovão durante seu mandato.
Os veículos incluem uma Toyota Hilux SW4 2015, uma Dodge RAM 2500 Laramie, um Ford F250 2005, um Kia Carens 2012 e uma moto Honda Titan CG 150, totalizando aproximadamente R$ 550 milpixbet telegramvalorpixbet telegrammercado.
A remuneração brutapixbet telegramZé Trovão como deputado federal épixbet telegramR$ 44 mil, mas ele enfrenta vários descontos, incluindo um empréstimopixbet telegramR$ 14,7 mil, pensão alimentíciapixbet telegramR$ 5,6 mil, assistência médicapixbet telegramR$ 700, INSSpixbet telegramR$ 900 e R$ 9,4 milpixbet telegramImpostopixbet telegramRenda. Esses valores foram divulgados pelo próprio deputadopixbet telegramjunho, após terpixbet telegramprisão decretada por atraso no pagamento da pensão alimentícia à ex-esposa Jéssica Veiga.

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