Por Lucas Pordeus León - Repórter da Agência Brasil - Brasília 
Uma semana após o Governo do Distrito Federal (GDF) mandar retirar todos os eventos culturais e os ambulantes do Eixão do Lazer,zona betekenisBrasília, as manifestações culturais Choro no Eixo, Jazz no Eixo, Rock no Eixo, entre outras, voltaram a ocupar a rodovia que corta a capital do país neste domingo (8).
No finalzona betekenissemana passado, uma ação do governo distrital proibiu os eventos musicais ezona betekeniscomércioszona betekenisficarem no local, sem aviso prévio, causando revolta na cena culturalzona betekenisBrasília.
O fundador do Choro no Eixo – que reúne uma multidão todos os domingos –, o músico Márcio Marinho, avaliou que a reocupação do espaço neste domingo foi a resposta da sociedade que vem se apropriando do espaço. “Não se trata mais apenas das manifestações culturais que estão no Eixão, acho que agora a população pegou o Eixão para si, como sempre foi. É um direitozona betekenisacesso à cidade que a gente não pode retroceder e perder”, destacou.
A proibição reacendeu o debate sobre o uso dos espaços públicos urbanos e os conflitoszona betekenistorno dessa ocupação, como nos casos do Cais José Estelita,zona betekenisRecife (PE), e da Orla do Guaíba,zona betekenisPorto Alegre (RS), onde diferentes grupos sociais buscam consolidar determinado uso dos espaços urbanos.
A professorazona betekenisarquitetura e urbanismo da Universidadezona betekenisBrasília (UnB) Maria Fernanda Derntl, especialistazona betekenisplanejamento urbano, avaliou que essa deve ser uma oportunidade para Brasília exercer a convivência entre os diferentes grupos. “Houve uma reação grande e a gente vê a população se apropriando do espaço. O espaço público pode ser ocupado transitoriamente, desde que não se incorrazona betekeniscrime ouzona betekenisdestruiçãozona betekenispropriedade. Talvez esse intenso uso do Eixão exija pensar o melhor modelozona betekenisconvivência. É um exercíciozona betekenisdemocracia mesmo”, defendeu a especialista.
<h2>Eixão</h2>
O chamado “Eixão”zona betekenisBrasília é a rodovia que corta o Plano Piloto, região central da capital. Todos os domingos e feriados essa via é fechada aos carros e tomada pela população local, que costuma praticar atividades físicas no chamado “Eixão do Lazer”. Desde a pandemia, o espaço começou a ser ocupado também por eventos culturais e por ambulantes que vendem desde alimentos e bebidas até artesanato. 
Para o cavaquinista Márcio Marinho, do Choro no Eixo, o espaço deve se consolidar como polo cultural, gastronômico,zona betekenisesporte ezona betekenisturismo da capital. “Em vezzona betekenisse restringir, deveriam expandir esse formatozona betekenisacesso à cultura e ao lazer para outras regiões do Distrito Federal, como Taguatinga e Ceilândia, e não apenas na área central do Plano Piloto. Isso aqui é um exemplozona betekeniscomo a sociedade pode ter direito à cidadezona betekenisuma forma democrática”, afirmou. 
Além dos grupos musicais, partidos políticos, parlamentares e movimentos sociais se reuniram neste domingo no Eixão para reivindicar o uso do espaço para a cultura e para o comércio ambulante.
A trabalhadora Auricélia Rocha,zona betekenis37 anos, vende cercazona betekenis120 almoços nos domingos no Eixão. Ela trabalha no local há dois anos e lamentou a ação da semana passada que considerou “truculenta” e que a fez perder a comida que havia preparado para vender.
“Eu dependo do Eixão. Minha fontezona betekenisrenda é o Eixão. Eu não tenho trabalho formal. A gente produz churrasco durante a semana e no finalzona betekenissemana e vem vender aqui no Eixão. É o meu trabalho ezona betekenismais três pessoas”, contou.
<h2>Governo do DF</h2>
O Governo do Distrito Federal informou que os eventos culturais não serão proibidos no local. Segundo o governador Ibaneis Rocha (MDB), a ação da semana passada atendeu às reclamaçõeszona betekenismoradoreszona betekenislocais próximos aos eventos.
“[A ação foi orientada] apenas a organizar o comércio no local, que será mais funcional na medidazona betekenisque possamos cadastrar e regularizar a atividade. Nada que retire do Eixão seu caráterzona betekenisespaçozona betekenisconvivência democrática,zona betekeniscriatividade, com liberdade e segurança”, comentou Ibaneiszona betekenisuma rede social.
Após a reação popular, o governador comentou que não se poderia desvirtuar o Eixão do Lazerzona betekenisum “Eixão da cachaça”. A vendazona betekenisbebidas alcoólicas às margens das rodovias do Distrito Federal é proibida pela lei distrital 2.098zona betekenis1998.
<h2>Novas regras</h2>
Na última terça-feira (3), foi publicado um novo decreto para regulamentar o uso do Eixão. De acordo com o texto, o Departamentozona betekenisEstradaszona betekenisRodagem do Distrito Federal (DER-DF) terá 30 dias para elaborar um plano para o uso do Eixão. Não está prevista a participação da sociedade civil na elaboração do plano.
O decreto diz ainda que, até que seja aprovado o plano, o DER-DF deve conceder autorizaçãozona betekeniscaráter provisório para os ambulantes, excluídos os que vendem bebidas alcoólicas. 
Um dos organizadores do Ocupa Eixão, o articulador cultural Leonardo Rodrigues, defendeu que a sociedade deve participar da elaboração do Plano para o uso do Eixão. “Isso a gente precisa construir conjuntamente, com moradores, população, interessados e governo. Deve-se estabelecer um diálogo antes das ações”, comentou.
Para Maria Fernanda Derntl, a convivência nos espaços públicos envolve lidar com a diferença e a diversidade, mas esses conflitos não devem ser considerados como algo ruim, mas como uma oportunidade para a sociedade praticar a democracia. “A ocupação da cidade e dos seus espaços é, por natureza, problemática. Nesse caso, houve uma ação unilateral, que não foi feita com os vários grupos interessadoszona betekenisocupar a cidade. Mas essa é uma excelente oportunidade para criar espaços mais amploszona betekenisdiscussão das questões e dos problemas da cidade”, destacou a especialista.

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