O ‘Almirante Negro’ ainda assombra a Marinha do Brasil

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Filhobonus de registro gratisex-escravos, João Cândido Felisberto nasceubonus de registro gratis24bonus de registro gratisjunhobonus de registro gratis1880, na fazenda Coxilha Bonita, que ficava na cidadebonus de registro gratisEncruzilhada do Sul (RS), e morreu no municípiobonus de registro gratisSão Joãobonus de registro gratisMeriti (RJ),bonus de registro gratis06bonus de registro gratisdezembrobonus de registro gratis1969.

João Cândido, aos 13 anos,bonus de registro gratis1893, participou da Revolução Federalista ebonus de registro gratisagosto do ano seguinte estava alistado no Arsenalbonus de registro gratisGuerra do Exército Nacional, iniciando precocemente seu envolvimento com as atividades militares.

Em 1895, ingressa na Escolabonus de registro gratisAprendizes Marinheirosbonus de registro gratisPorto Alegre (RS) e no mesmo ano passa a compor a 16ª Companhia da Marinha do Brasil, já no Riobonus de registro gratisJaneiro. Militar, com qualidadesbonus de registro gratisliderança, foi elogiado e promovido como marinheirobonus de registro gratis1º classe, logo depois foi rebaixado por participarbonus de registro gratisbrigas, comuns entre a marujada.

A Marinha, nesse período, era a força militar mais oligárquica e reacionária, filhosbonus de registro gratislatifundiários do interior do país ebonus de registro gratisfamílias ricas do Riobonus de registro gratisJaneiro, então capital federal, integravam o alto oficialato e o comando naval, com práticas e regimentos funcionais ainda herdados da Armada Imperial. Em contraste, a base da força era integrada por uma maioria negra e cabocla, muitos ex-escravos, e pessoas oriundas das camadas mais pobres da população brasileira.

Foi no ambiente dos porões e dos conveses das embarcações militares, transformadasbonus de registro gratisnovos navios negreiros, que João Cândido forjou abonus de registro gratispersonalidade e a condutabonus de registro gratisliderança diante das adversidades.

A vida nas embarcações da Marinha brasileira era dura, com oficiais autoritários e sádicos. A chibata, usada nas fazendas para punir os escravos, era o instrumento utilizado para punir os marujos, o regimento disciplinar era severo e a menor infração poderia custar a vida do embarcado. Humilhações diversas, racismo institucionalizado, a péssima alimentação e o trabalho penoso tornavam a vida do marinheiro infernal nos quartéis e navios. Alémbonus de registro gratissoldos insignificantes e proibições draconianas para os marinheiros quando não embarcados: proibidosbonus de registro gratiscasar, estudar ebonus de registro gratisexercer atividades associativas e políticas.

A revolta da Chibata

A resposta dos marinheiros, liderados por João Cândido, contra os maus tratos, castigos físicos medievais e os abusos dos oficiais, ocorreu na última semana do mêsbonus de registro gratisnovembrobonus de registro gratis1910, por cinco dias,bonus de registro gratis22 a 27, quando explodiu a insurgência no interior dos navios.

Os marujos tomaram quatro navios militares, os mais modernos e bem equipados da época – o Minas Geraes [recém adquirido na Inglaterra], o São Paulo, Bahia e o Deodoro – ancorados na Baía da Guanabara, manobrando as embarcações com perícia ao longo da costa e apontando os canhõesbonus de registro gratisdireção ao centro da capital do país — durante a ocupação dos navios realizaram alguns disparosbonus de registro gratisadvertência.

Houve pânico e desespero entre as classes dominantes e no governo do presidente Hermes da Fonseca, que recebeu uma mensagem telegrafada por João Cândido exigindo o fim da chibata e dos códigos disciplinares autocráticos e degradantes.

Os marinheiros revoltosos exibiam trapos com as inscrições: “Viva a liberdade e abaixo a chibata”. Houve casosbonus de registro gratisresistênciabonus de registro gratisoficiais durante a tomada do comando dos navios e alguns foram mortos pela ira dos insurgentes, o que lembra um episódio históricobonus de registro gratismotim naval ocorrido cinco anos antes na Rússia czarista, que ficou conhecido como a “Revolta do Encouraçado Potemkin”, embarcação militar que integrava a frota do Mar Negro, estratégica no desenrolar da Guerra Russo-Japonesabonus de registro gratis1905. As cenas da revolta dos marinheiros russos foi eternizada na obra do cineasta Sergei Eisenstein.

O governobonus de registro gratisHermes da Fonseca aceitou parcialmente as reivindicações e a prática odiosa das chibatadas foi proscrita do rolbonus de registro gratispunições, porém a anistia aos 3000 mil marinheiros amotinados durou pouco e o alto comando da Marinha, que se considerava humilhado pelos revoltosos, preparou um ato inominávelbonus de registro gratisrevanchismo e covardia.

A Marinha expulsou os participantes do motim, desonrou a conduta militar dos marujos, não pagou os seus soldos, conforme o acordo acertado, e aprisionou João Cândido e outras 20 lideranças do movimento na Ilha das Cobras, na Baíabonus de registro gratisGuanabara. A maioria morreu, João Cândido sobreviveu, após anosbonus de registro gratisprisão, caiu num profundo ostracismo e ganhava o pãobonus de registro gratiscada dia vendendo peixe fresco nas imediações da Praça XV, no centro do Riobonus de registro gratisJaneiro.

O “Almirante Negro” reaparecebonus de registro gratismarçobonus de registro gratis1964

A figura envelhecida e a vozbonus de registro gratiscomando mais fraca, mas ainda ostentando certo carisma e brilho nos olhos quando falava da Revoltabonus de registro gratis1910, empolgou os marinheiros liderados pela Associaçãobonus de registro gratisMarinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil (AMFNB), uma espéciebonus de registro gratisorganização sindical e assistencial dos praças e marujos,bonus de registro gratisuma nova revolta na Marinha.

Em marçobonus de registro gratis1964, o país governado pelo presidente João Goulart enfrentava forte oposição,bonus de registro gratistipo golpista, da direita e do alto comando das Forças Armadas, principalmente do Exército.

Nesse contexto,bonus de registro gratisradicalização política, explode a revolta dos marinheiros e fuzileiros navais, entre os dias 25 e 27bonus de registro gratismarçobonus de registro gratis1964, como um fiobonus de registro gratiscontinuidade histórica com a Revolta da Chibatabonus de registro gratis1910, que reivindicava mudanças na Marinha: direitobonus de registro gratisassociação, melhores salários, direito ao voto e ao casamento, melhora da alimentação nos navios e quartéis e o fim das discriminações e arbitrariedades dos oficiais.

A revolta dos marinheirosbonus de registro gratis1964 levantava praticamente as mesmas reivindicaçõesbonus de registro gratis1910, sem as chibatas, abolidas pelo movimento liderado por João Cândido. Por isso, abonus de registro gratispresença, como convidadobonus de registro gratishonra, na festabonus de registro gratisaniversário da Associação dos Marinheiros, no dia 25bonus de registro gratismarço, na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do Riobonus de registro gratisJaneiro.

O evento dos marinheiros acabou gerando uma crise política, que enfraqueceu o governobonus de registro gratisJango Goulart, e forneceu uma narrativa para os militares golpistas sobre a quebra da hierarquia militar e a escalada da esquerdização entre os praças, cabos e sargentos nas Forças Armadas — cinco semanas depois,bonus de registro gratis1ºbonus de registro gratisabril, o governo democrático era derrubado por um golpe militar, que promoveu um amplo expurgo no conjunto das forças militares.

Em 2024, um novo açoite na memóriabonus de registro gratisJoão Cândido

Um projetobonus de registro gratisLei – PL4046/2021-bonus de registro gratisautoria do deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ), que tramita na Comissãobonus de registro gratisCultura, da Câmara dos Deputados, foi o motivobonus de registro gratisuma nova polêmicabonus de registro gratistorno o legadobonus de registro gratisJoão Cândido e da repercussão histórica da Revolta da Chibata.

O comandante da Marinha, Marcos Sampaio Olsen,bonus de registro gratiscarta oficial enviada na segunda-feira passada (22) ao presidente da comissão, deputado Aliel Machado (PV-PR), criticou raivosamente a propostabonus de registro gratisinclusão do “Almirante Negro” no livrobonus de registro gratisaço dos Heróis e Heroínas da Pátria, uma homenagem prestada aos brasileiros que deram contribuições importantes ao país.

A honraria, criadabonus de registro gratis1992, já homenageou figuras históricas e relevantes para a construção da identidade nacional como Anita Garibaldi, Chico Mendes, Machadobonus de registro gratisAssis, Santos Dumont e Tiradentes. A inclusão do nome no Livrobonus de registro gratisAçobonus de registro gratisHeróis e Heroínas da Pátria, dependebonus de registro gratisaprovação do Congresso Nacional. O livro fica guardado no monumento do Panteão da Pátria,bonus de registro gratisBrasília.

Na carta, o comandante da Marinha revela uma postura rancorosa contra João Cândido e os marinheiros que participaram da Revolta da Chibata: “A Força Naval não vislumbra aderência da atuaçãobonus de registro gratisJoão Cândido Felisberto na Revolta dos Marinheiros com os valoresbonus de registro gratisheroísmo e patriotismo; e sim, flagrante que qualifica reprovável exemplobonus de registro gratisconduta para o povo brasileiro”.

O comandante Olsen acrescenta ainda que a rebeliãobonus de registro gratis1910 foi um atobonus de registro gratis“subversão” ebonus de registro gratis“rupturabonus de registro gratispreceitos constitucionais organizadores das Forças Armadas”. Ele menciona também que o episódio desrespeitou a disciplina militar e causou mortes.

Ou seja, 114 anos após a insurreição dos marinheiros, a Marinha do Brasil prossegue com os ataques e o vilipêndio ao consagrado herói do povo brasileiro, cantadobonus de registro gratisprosa e verso nas ruas, praças e no Carnaval, a maior festa popular do Brasil.

João Cândido já foi consagrado como herói popular, da autêntica nacionalidade dosbonus de registro gratisbaixo, agora falta o reconhecimento do Estado brasileiro, como reparação histórica e atobonus de registro gratisJustiça.

Além disso, a Marinha deve uma retratação ao “Almirante Negro”, concedendo a patente máxima da força naval ao ilustre marinheiro, que tem uma estátua embonus de registro gratishomenagem na Praça XV, na área do antigo cais do porto do Rio, que na canção composta por Aldir Blanc e João Bosco foi retratado com perfeição e lirismo o seu feito histórico: “Glória à farofa/À cachaça, às baleias/Glória a todas as lutas inglórias/Que através da nossa história não esquecemos jamais/Salve o navegante negro/Que tem por monumento as pedras pisadas do cais”. Desde então, a rebeldiabonus de registro gratisJoão Cândido ainda assombra a oligárquica corte do Almirantado.