Honestino Guimarães, morto pela ditadura, será homenageado com diploma da UNB

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Agência Brasil - Quando as aulas na Universidadecassino nacionalBrasília (UnB) começaramcassino nacional1965, o novo aluno Honestino Guimarães, do cursocassino nacionalgeologia, se destacava. O rapaz loiro,cassino nacional18 anoscassino nacionalidade,cassino nacionalóculoscassino nacionallentes grossas, olhos verdes e baixinho, chamava atenção por onde passava. Ele, que havia ingressadocassino nacionalprimeiro lugar geralcassino nacionaltoda a instituição, não eracassino nacionalse gabar. Ficou conhecido por ser carismático e engajado politicamente. Era inconformado com as injustiças e com a extinçãocassino nacionalliberdades desde o golpe militar do ano anterior. Se estivesse vivo, Honestino completaria, nesta quinta (28), 77 anoscassino nacionalidade.

Honestino nunca pegoucassino nacionalarmas, mas seus protestos foram a “acusação” para que, quase quatro anos depois, fosse preso e expulso da universidadecassino nacionalque um dia sonhou estudar. Faltavam poucas disciplinas (11 créditos) para chegar ao diplomacassino nacionalgeólogo. Mas essa história do jovem que morreucassino nacional1973 está prestes a ser reescrita.

Isso porque a universidade pretende reverter a expulsão do estudante e entregar à família o diploma post mortemcassino nacionalHonestino. Isso pode ocorrer no próximo dia 21cassino nacionalabril (aniversário da UnB ecassino nacionalBrasília). “É um atocassino nacionaljustiça ecassino nacionalreparação. O que aconteceu com Honestino e com tantas pessoas naquela época foi brutal e inominável. A família, amigas e amigoscassino nacionalHonestino não puderam enterrá-lo. É um dever da universidade fazer acassino nacionalparte”, afirmou a atual reitora da instituição Márcia Abrahão, que é professoracassino nacionalgeologia.

“Fico sempre muito emocionada quando toco nesse assunto, mas ele foi, sem dúvidas, uma fontecassino nacionalinspiração para todo o meu trabalhocassino nacionalprol dos direitos humanos aqui na universidade”. A reitora explica que há um trâmite interno para confirmação da homenagem póstuma, o que inclui a aprovação pelo conselho do Institutocassino nacionalGeociências. “Seria incrível fazer essa cerimônia na data do aniversário da UnB”.

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“Aluno brilhante”

Entre os requerentes para a homenagem a Honestino, está um amigo delecassino nacionallonga data, o economista Cláudio Almeida. Ele explica o pedidocassino nacionalhomenagem a Honestino teve inspiração após decisão da Universidadecassino nacionalSão Paulo (USP)cassino nacionalgarantir diplomas honoríficos, no final do ano passado, para Alexandre Vannucchi Leme e Ronaldo Mouth Queiroz, ambos mortoscassino nacional1973 pela ditadura militar. Eles foram alunos do Institutocassino nacionalGeociências (IGc) e militantes do movimento estudantil da USP.

“Honestino sempre foi um aluno brilhante. Quando estava na clandestinidade, os professores aceitavam que ele fizesse prova onde quer que fosse. É uma homenagem muito justa, eu acho que tardia inclusive, mas que é uma formacassino nacionalreparar danos”, acredita o amigo, colega desde o ensino médiocassino nacionalBrasília. Cláudio Amaral recorda que, embora a luta estudantil tenha se tornado prioridade na rotina, o rendimento no cursocassino nacionalgeologia era muito importante para ele. “Ele fez e cursou até o final”.

Quem também defendeu reparação para a imagem do universitário foi a pesquisadora Betty Almeida, biógrafa do líder estudantil, com o livro Paixãocassino nacionalHonestino. “Ele se interessou por política desde o ensino médio. Na universidade, esse interesse se ampliou e se desenvolveu. Ele assumiu uma posiçãocassino nacionalliderança nas lutas do movimento estudantil, no enfrentamento da ditadura, que na época estava se acirrando”, aponta a pesquisadora.

“Em defesa da universidade”

Ela avalia que Honestino quis tomar uma posiçãocassino nacionalluta pela defesa da universidade pública e gratuita. “Naquela época, havia os chamados acordos MEC-USAID, que eram acordos para encaminhar a universidade para privatização e tornar o ensino adequado a interessescassino nacionalmercado e não a interessescassino nacionalproduçãocassino nacionalconhecimento e desenvolvimentocassino nacionalpesquisa nacional”.

Para a biógrafa, os atoscassino nacionalmemória, verdade, justiça e reparação ajudam a fazer com que a sociedade tenha conhecimentocassino nacionalque existiram essas pessoas. “Que o Brasil viveu uma ditadura sanguinária que perseguiu seus opositores com ferocidade”. Na UnB, alémcassino nacionalHonestino, há mais dois desaparecidos, Ieda Delgado e Paulocassino nacionalTarso Silva. Segundo recorda Betty Almeida, os então estudantes chegaram a se formar e depois foram assassinados por causa das atividades políticas.

Honestino foi o único entre os desaparecidos da UnB que foi impedidocassino nacionalse formar. “Ele era um bom aluno, responsável e estudioso. Mas as atividades políticas foram colocando elecassino nacionalevidência”. Um dos protestos foi no primeiro semestre naquele ano contra um professor chamado Roman Blanco, que era identificado com a práticacassino nacionaldedurar estudantes e professores que ele julgasse subversivos.

 “O docente falsificou documentos e aproveitou aquela situaçãocassino nacionalque a universidade perdeu quase 80% do seu corpocassino nacionalprofessores e se incluiu como funcionário à custacassino nacionaldocumentos falsos, inclusive”, disse a pesquisadora Betty Almeida.

Os estudantes, liderados por Honestino, queriam que o professor fosse excluído da universidade. Para isso, eles se organizaram e esvaziaram a sala delecassino nacionaltrabalho e também o apartamento onde ele morava no conjuntocassino nacionalprédios que abriga docentes.

“O reitor da época, que era o Caio Benjamin Dias, levou o Roman Blanco para um hotel. E, no dia 26cassino nacionalsetembrocassino nacional1968, o Romain Blanco foi demitido da universidade, mas o Honestino foi expulso no mesmo dia”, afirma a biógrafa. O relatório da Comissão Anísio Teixeira Memória e Verdade, que aborda a exclusão do estudante, aponta que teve relação justamente com a ação contra o professor Román Blanco ocorrida meses antes.

Tensão na universidade

Passada a ação que levou à expulsão do professor, Honestino foi preso, no dia 29cassino nacionalagosto daquele ano, quando a universidade foi invadida por militares que espancaram, prenderam e torturaram estudantes e funcionários. Soldados invadiram até salascassino nacionalaulas com armas e bombascassino nacionalgás lacrimogêneo. Na época, o presidente da Federação dos Estudantes da Universidadecassino nacionalBrasília (FEUB) era o líder estudantil.

Uma das testemunhas do evento, o também estudantecassino nacionalgeologia Wilson Pereira ficou assustado, naquela manhã, com as caminhonetes que chegaram e com militares atirando para cima. “Saímos correndo no rumo da Esplanada e eu só voltei três dias depois. Aqueles dias foramcassino nacionalmuita tensão. Lembrocassino nacionalmilitares entrandocassino nacionalnossas salascassino nacionalaula atrás do Honestino”. Wilson entrou no cursocassino nacional1967.

A açãocassino nacionalagostocassino nacional1968 fez com que 300 estudantes ficassem presos na quadracassino nacionalbasquete. “O Honestino era muito visado”, afirma Claudio Almeida, a essa altura, casado e com uma filha. No último encontro, antes do amigo desaparecer, Claudio ouviucassino nacionalHonestino que, mesmo fora da universidade. manteria a luta. “Ele me disse ‘minha luta é pelo Brasil. E nos demos um grande abraço”.

Sensibilização

Para a famíliacassino nacionalHonestino, é motivocassino nacionalfelicidade a decisão da UnBcassino nacionalrealizar a homenagem. “Alegraria muito o Honestino também. Ele mobilizava os estudantes e fazia toda a agitaçãocassino nacionalprol da democracia, da liberdade, dos direitos humanos, enquanto estudava muito outras coisas como economia mundial e política. Ele realmente era um ser muito engajado com os estudos”.

A família pretende aproveitar a ocasiãocassino nacionalhomenagens e quer preparar uma premiação para os estudantescassino nacionalgeologia conhecerem a história do líder estudantil e expressarem por que Honestino teria escolhido geologia como curso, como explica o sobrinho dele, Mateus Guimarães, que também pesquisa o legado do tio.

“Ele era um estudante inspirador, que lia jornal todos os dias e devorava os livros. Boa parte daquilo que motivou o Honestino a se insurgir contra a ditadura, e a se tornar o líder, foi justamente a defesa do projeto da Universidadecassino nacionalBrasília”, afirma o sobrinho. Honestino, segundo aponta Mateus, defendia a universidade utópica, genuinamente brasileira, voltada para os problemas dos povos oprimidos ao redor do mundo. Com a homenagem, Honestino deve voltar aplaudido maiscassino nacional50 anos depoiscassino nacionalameaças, violências, prisões, morte e silêncios.