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    A máscara do racismo "natural" precisa cair para haver justiça social

    Discurso meritocrático e teorias raciais tentam justificar o que é desumano. A morte é ferramentabet clic casinogestão na miséria. Desigualdade persiste

    Mobilização contra a desigualdade racial no Brasil (Foto: Tomaz Silva / Agência Brasil)

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    Por Leonardo Lucena

    Meritocracia, teorias raciais feitas por estudiosos e a maneira como foram propostas algumas leis abolicionistas mostram que o racismo nunca foi consequênciabet clic casinouma “seleção natural da espécie”. O capitalismo tem como objetivo o lucro. Para esta finalidade ser alcançada, é necessária a concentraçãobet clic casinorenda e a desigualdade racial. Professorbet clic casinoHistória e mestrebet clic casinoServiço Social formado pela Universidade Federalbet clic casinoPernambuco (UFPE), Jones Manoel critica o discurso meritocrático como alternativa para o racismo. Segundo o historiador, “o poder político, ideológico e econômico da burguesia” tenta influenciar as pessoas a verem no mérito próprio a principal solução para enfrentar a desigualdade entre negros e brancos.

    “A compreensão média da maioria das pessoas é construída por aparelhos ideológicos que estão sob controle da classe dominante. Desde a indústria cultural - como a televisão que chega na casabet clic casinoquase todos os brasileiros - até o aparelho educacional e o discurso da maioria dos partidos políticos e lideranças institucionais, temos a predominânciabet clic casinouma visão liberalbet clic casinomundo - liberalismobet clic casinoesquerda oubet clic casinodireita. Nessa visão, faz sentido tomar como pontobet clic casinopartida o indivíduo, seja para afirmar que não existe racismo e sim pessoas que ‘não se esforçaram o suficiente’, numa perspectivabet clic casinodireita, oubet clic casinoum pontobet clic casinovista liberalbet clic casinoesquerda, para afirmar que existe racismo, representado pela ausência da igualdadebet clic casinooportunidades, numa competição injusta”, continua.

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    Ato nos EUA contra o racismo e o historiador Jones Manoel. Foto: Reprodução (AFP) I Reprodução (Redes Sociais)

    Na avaliação do estudioso, que também é educador, comunicador popular, escritor e militante comunista, “embora o termo ‘racismo estrutural’ esteja popularizado, poucas pessoas e organizações políticas debatem que estrutura é essa”. “Quando falamosbet clic casinoestrutural, estamos falandobet clic casinopoder político, poder econômico, relaçõesbet clic casinopoder do Estado e quem controla a economia a partir da propriedade dos meiosbet clic casinoprodução”.

    Uma parte da negritude vê o próprio sustentobet clic casinoatividades como o tráficobet clic casinodrogas,bet clic casinoque a morte é uma das condições para o funcionamento do negócio. O homicídio é uma ferramentabet clic casinogestão da "empresa", para a eliminaçãobet clic casinoconcorrentes. “Eles (traficantes) querem estar no lugarbet clic casinoquem está mandando, ter uma arma na mão”.

    Manifestantes protestam contra mortebet clic casinojovens negros no Rio
    Protesto no estado do Riobet clic casinoJaneiro e Ricardo Herculano. Foto: Tomaz Silva / Agência Brasil I Reprodução(Photo: Tomaz Silva/Agência Brasil)Tomaz Silva/Agência Brasil

    O militante sugere a necessidadebet clic casinointegração entre escolas e familiares do negro. De acordo com o ativista, o negro que está na miséria vê na ilegalidade uma maneirabet clic casino“vencer” a discriminação e se sustentar. “É sub capitaneado pelo submundo do crime, pelo tráfico. Os pais espancam, ele vai para rua. Quem o apoia? O tráfico”, reforça.

    Na entrevista, Bandeira cita as dificuldades do movimento negro. “Os movimentos sociais estão órfãos. Não têm (dinheiro). É difícil. Precisamos não apenasbet clic casinoações, masbet clic casinopolíticas públicas para a população. Não temos que estar pedindo. Somos a maioria da população”. “Quem nos dar migalhas apenas como instrumentobet clic casinovoto. Querem que nossos filhos sejam empregados, eleitores dele”, afirma. 

    ‘A bala não erra o negro’. Estatísticas

    A Redebet clic casinoObservatórios da Segurança divulgou um estudo na última quinta-feira (16) e informou que a população negra representou quase 90% das pessoas mortas pela políciabet clic casino2022. De 3.171 registrosbet clic casinomorte, com informaçãobet clic casinocor/raça declaradas, os negros somaram 87,35% (ou 2.770 pessoas)bet clic casinooito estados (Riobet clic casinoJaneiro, São Paulo, Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Piauí). A pesquisa foi intitulada “Pele Alvo: a bala não erra o negro”.

    O totalbet clic casinopessoas autodeclaradas pretas ou pardas ébet clic casino56,1% no Brasil e obet clic casinobrancas, 43%, mostrou o IBGE, também com dados referentes a 2021, períodobet clic casinoque, levandobet clic casinoconsideração a linhabet clic casinopobreza monetária proposta pelo Banco Mundial, a proporçãobet clic casinopretos e pardos abaixo da linhabet clic casinopobreza (37,7%) foi praticamente o dobro da proporçãobet clic casinobrancos (18,6%). Sediado nos Estados Unidos, o BM adota como linhabet clic casinopobreza os rendimentosbet clic casinoR$ 486 mensais per capita. A linhabet clic casinoextrema pobreza ébet clic casinoR$ 168 mensais per capita.

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    Negros na extrema-pobreza. Foto: Abr

    Racismo 'científico', mercadobet clic casinocrânios e leis 'abolicionistas' 

    O historiador Jones Manoel cita o ativista norte-americano Malcom X (1925-1965). “Malcolm X dizia que não existe ‘capitalismo sem racismo’. Ele estava certo. O racismo enquanto sistema globalbet clic casinodominação, exploração e negatividade ideológicabet clic casinopovos foi criação do capitalismo. No sistema capitalista, podemos ter políticasbet clic casinoações afirmativas e reformas que reduzem alguns dos efeitos mais dramáticos do capitalismo racista - por exemplo, é possível, mesmo no capitalismo, reduzir o encarceramentobet clic casinomassa que vitima a população negra”, diz.

    “No sistema imperialista, temos uma máquinabet clic casinopropaganda permanente - como a indústria cultural dos Estados Unidos - que vilifica e demoniza certos povos, como árabes, africanos, orientais etc. Quando um povo é demonizado, desumanizado, você sente menos empatia, compaixão, dor pelas tragédias naquele povo. Fica mais fácil, por exemplo, a França invadir o Mali, matar milhares, dizer que foi uma ‘missão humanitária’ e a maioria das pessoas não questionar esse tipobet clic casinonarrativa”, acrescenta.

    Relatos históricos mostraram que, a partir do século 17, o conceitobet clic casinoraça foi sendo mais discutidobet clic casinoum sentido social e não apenas animal. Por centenasbet clic casinoanos, intelectuais e pessoas favoráveis ao racismo tentaram justificar uma “seleção” natural dos homens e tentavam passar a mensagembet clic casinoque negros estariambet clic casinoposiçãobet clic casino"inferior" aos brancos porque não conseguiram se adaptar a mudanças ambientais e sociais. Uma das principais influências do século XIX foi o antropólogo inglês Francis Galton (1822-1911). Ele criou a chamada Teoria da Eugenia, que seria a genética aplicada à seletividadebet clic casinohomens e mulheres. O objetivo era aumentar a reprodução nas classes alta e média, diminuir nas camadas pobres, e fazer prevalecer a falsa ideiabet clic casino“superioridade”bet clic casinoraça.

    Em 1911, aconteceu o Congresso Universal das Raças,bet clic casinoLondres. O Brasil enviou como representante para a capital inglesa o antropólogo e médico João Batista Lacerda (1846-1915), então diretor do Museu Nacional (RJ). Em uma parte do artigo “Sur les métis au Brésil” (Sobre os mestiços do Brasil), ele prevê que Brasil seria um País branco. “A população mista do Brasil deverá ter pois, no intervalobet clic casinoum século, um aspecto bem diferente do atual. As correntesbet clic casinoimigração europeia, aumentando a cada dia mais o elemento branco desta população, acabarão, depoisbet clic casinocerto tempo, por sufocar os elementos nos quais poderiam persistir ainda alguns traços do negro” (confira o trecho na página 14bet clic casinoPDF).  

    Antes da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), conflitos entre diferentes povos aconteciam nos cinco continentes do mundo (América, África, Ásia, Europa e Oceania. Mas, a partir dos anos 40 do século 20, palavras como genocídio, holocausto e racismo passaram a ser usadas com mais frequência após o extermíniobet clic casinocinco a seis milhões judeus pelo regime nazista, comandado por Adolf Hitler, que nasceubet clic casino1889 e morreubet clic casino1945. Ele comandou o nazismobet clic casino1934 a 45. 

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    Dois escravos (círculo), médico João Batistabet clic casinoLacerda e,bet clic casinomais destaque, uma missa realizadabet clic casinomaiobet clic casino1.888 no bairrobet clic casinoSão Cristóvão, município do Rio (RJ). Foto: Reprodução (Uma história a mais) I Divulgação I Reprodução (Nossa Históriabet clic casinoImagens)

    Ministério se pronuncia

    Nas décadas seguintes aos anos 40, o racismo continuou sendo um dos principais desafios para o enfrentamento da injustiça social dentro e fora do País. Cotas para a entradabet clic casinonegrosbet clic casinouniversidades é uma proposta que foi sendo cada vez mais discutida e implementada no Brasil.

    “Nós não podemos reduzir ações afirmativas somente a vagas”, alerta a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco. O ministério destacou ser “fundamental promover uma cultura organizacional que valorize a diversidade e a inclusão”. “Isso implicabet clic casinotreinamentos regulares sobre diversidade, sensibilização para o racismo e desenvolvimentobet clic casinouma mentalidade antirracistabet clic casinotoda a organização. Alémbet clic casinodesenvolver e implementar políticasbet clic casinonão discriminação e não tolerância ao racismo. Isso inclui processos eficazes para denúncias e investigaçõesbet clic casinocasosbet clic casinodiscriminação racial”, complementa.

    Segundo a titular da pasta, “ébet clic casinoextrema importância apoiar a ascensãobet clic casinolideranças negras dentro das organizações, garantindo que tenham oportunidadesbet clic casinoprogressão na carreira”. “Estamos falandobet clic casinouma construçãobet clic casinomemóriabet clic casinopolíticas públicas concretas que incentivem a permanência da população negra nos espaços, então por isso que a gente articula com a Mover, Coca-Cola, Ambev, e outras empresas, a gente pensabet clic casinoprogramas para jovens negros entrarem nesse mercadobet clic casinotrabalho porque são os nossos corpos que estão morrendo”, acrescenta. “O MIR não pode implementar políticas organizacionais dentrobet clic casinocada instituição privada, mas estamos sempre articulando com elas para que assim sejam firmadas parcerias e a formaçãobet clic casinoações para esse público”.  

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    Universidadebet clic casinoBrasília (Une) e Anielle Franco no seminário '135 anos da Abolição – Entre a Escravidão e o Racismo', na sede do Institutobet clic casinoPesquisa Econômica Aplicada (Ipea), na capital federal. Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom / Abr I Marcelo Casal Jr. / Abr

    Entre as entregas do Ministério este ano, está o decreto assinado pelo presidente Lula no dia 21/03/2023 que institui a 30%bet clic casinopessoas negrasbet clic casinocargosbet clic casinoliderança dentro do governo federal, e também a instituição do FIAR - Formaçãobet clic casinoIniciativas Antirracistas, feitabet clic casinoparceria com a Enap para formaçãobet clic casinolideranças.  

    Outra iniciativa citada pela pasta foi o Programa Esperança Garcia, que vai ofertar 30 bolsasbet clic casinoestudobet clic casinoaté R$ 3,5 mil mensais e 130 vagasbet clic casinoum curso preparatório virtual, sem qualquer custo para os beneficiados, que lançamosbet clic casinoparceria com a Advocacia-Geral da União, para aumentar o númerobet clic casinopessoas negras nesta carreira. 

    O racismo existe,bet clic casinonível global e nacional, independentementebet clic casinogoverno. Atualizar estratégiasbet clic casinomobilizaçãobet clic casinotodos os continentes é uma das principais etapas para a diminuir não apenas a pobreza, mas também a desigualdade, num mundo onde o 1% mais rico capturou quase duas vezes mais riqueza do que o resto do planeta nos últimos dois anos, conforme relatório da Oxfam, divulgado este ano. As pessoas mais ricas viram a fortuna subirbet clic casinoUS$ 26 trilhões. A dos 99% mais pobres aumentou apenas US$ 16 trilhões. Os números são preocupantes. É impossível mudar o passado. Mas a vidabet clic casinosociedade não é estática. E as ideias para o combate ao racismo não têm limite. 

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    Escravos. Foto: Reprodução (Youtube)

     

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