"Globalização neoliberal" agravou a fome e a pobreza no mundo, diz Lula
"Em pleno século XXI, nada é tão absurdo e inaceitável quanto a persistência da fome e da pobreza, quando temos tanta abundância e tantos recursos", disse
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247 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que o lançamento da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza nesta quarta-feira (24), no Rioaplicativo betsulJaneiro, é “um dos momentos mais relevantes dos 18 meses desse meu terceiro mandato” e afirmou que “nas últimas décadas, a globalização neoliberal agravou o quadro” da fome e da pobrezaaplicativo betsulnível mundial.
Segundo Lula, o lançamento da aliança “é um passo decisivo para recolocar esse temaaplicativo betsuluma vez por todas no centro da agenda internacional". "Ao longo dos séculos, fome e pobreza estiveram cercadasaplicativo betsulpreconceitos e interesses. Muitos viam os pobres como um mal necessário e mãoaplicativo betsulobra barata para produzir as riquezas das oligarquias. Falsas teorias os consideravam responsáveis pela própria pobreza, atribuída a uma indolência inata. Foram ignorados por governantes e setores abastados, mantidos à margem da sociedade e do mercado”.
“Nas últimas décadas, a globalização neoliberal agravou esse quadro. Nunca muitos tiveram tão pouco e tão poucos concentraram tanta riqueza. Em pleno século XXI,nada é tão absurdo e inaceitável quanto a persistência da fome e da pobreza, quando temos tanta abundância e tantos recursos científicos e tecnológicos”, ressaltou Lula mais à frente.
Leia a íntegra do discurso do presidente Lula:
Falsas teorias os consideravam responsáveis pela própria pobreza, atribuída a uma indolência inata, sem qualquer evidência nesse sentido.
Foram ignorados por governantes e setores abastados.
Mantidos à margem da sociedade e do mercado.
Os que não puderam ser incorporados à produção e ao consumo ainda hoje são tidos como um estorvo.
Esta é uma constatação que pesaaplicativo betsulnossas consciências.
Nenhum tema é mais atual e mais desafiador para a humanidade.
Não podemos naturalizar tais disparidades.
A fome é a mais degradante das privações humanas. É um atentado à vida, uma agressão à liberdade.
Isso significa que 9% da população mundial (733 milhõesaplicativo betsulpessoas) estão subnutridas.
O problema é especialmente grave na África e na Ásia, mas ele também persisteaplicativo betsulpartes da América Latina.
Mesmo nos países ricos, aumenta o apartheid nutricional, com a pobreza alimentar e a epidemiaaplicativo betsulobesidade.
Em 2023, 29% da população mundial (2,3 bilhõesaplicativo betsulpessoas) enfrentou graus moderados ou severosaplicativo betsulrestrição alimentar.
A fome tem o rostoaplicativo betsuluma mulher e a vozaplicativo betsuluma criança.
Mesmo que elas preparem a maioria das refeições e cultivem boa parte dos alimentos, mulheres e meninas são a maioria das pessoasaplicativo betsulsituaçãoaplicativo betsulfome no mundo.
Muitas mulheres são chefesaplicativo betsulfamília, mas ganham menos.
Trabalham mais no setor informal, se dedicam mais aos cuidados não-remunerados, e têm menos acesso à terra que os homens.
A discriminação étnica, racial e geográfica também amplifica a fome e a pobreza entre populações afrodescendentes, indígenas e comunidades tradicionais.
Crises recorrentes e simultâneas agravam esse quadro.
A pandemiaaplicativo betsulCovid-19 aumentou drasticamente a subnutrição, e esses níveis elevados se mantêm inalterados.
Conflitos armados interrompem a produção e distribuiçãoaplicativo betsulalimentos e insumos, contribuindo para o aumento dos preços.
Eventos climáticos extremos ceifam vidas, devastam cultivos e infraestruturas.
Subsídios agrícolasaplicativo betsulpaíses ricos solapam a agricultura familiar no Sul Global.
O protecionismo discrimina contra os produtosaplicativo betsulpaísesaplicativo betsuldesenvolvimento.
Mas a fome não resulta apenasaplicativo betsulfatores externos.
Ela decorre, sobretudo,aplicativo betsulescolhas políticas.
Hoje o mundo produz alimentos mais do que suficiente para erradicá-la.
O que falta é criar condiçõesaplicativo betsulacesso aos alimentos.
Enquanto isso, os gastos com armamentos subiram 7% no último ano, chegando a 2,4 trilhõesaplicativo betsuldólares.
Inverter essa lógica é um imperativo moral,aplicativo betsuljustiça social, mas também essencial para o desenvolvimento sustentável.
No Brasil, combatemos a fome por meioaplicativo betsulum novo contrato social, que coloca o ser humano no centro da açãoaplicativo betsulgoverno.
Retomamos as políticasaplicativo betsulvalorização do salário mínimo,aplicativo betsulerradicação do trabalho infantil eaplicativo betsulcombate a formas contemporâneasaplicativo betsulescravidão.
Temos uma sólida políticaaplicativo betsulgeraçãoaplicativo betsulpostosaplicativo betsultrabalhos formais. O desemprego é o mais baixoaplicativo betsuluma década.
Aprovamos uma lei sobre igualdadeaplicativo betsulremuneração entre homens e mulheres.
Formulamos um Plano Nacionalaplicativo betsulCuidados que considera as desigualdadesaplicativo betsulclasse, gênero, raça, idade, deficiências e territórios, com olhar especial para trabalhadores e trabalhadoras domésticos.
Programas como o Bolsa Família,aplicativo betsulAquisiçãoaplicativo betsulAlimentos eaplicativo betsulAlimentação Escolar permitem que refeições saudáveis cheguem aos mais vulneráveis, estimulem a produção agrícola e promovam o desenvolvimento local.
A agricultura familiar é componente essencial dessa estratégia. São quase 5 milhõesaplicativo betsulpropriedades ruraisaplicativo betsulaté 100 hectares produzindo parte expressiva dos alimentos consumidos no país.
Em síntese, tomamos a decisão políticaaplicativo betsulcolocar os pobres no orçamento.
Como resultado, sóaplicativo betsul2023 retiramos 24 milhões e 400 mil pessoas da condiçãoaplicativo betsulinsegurança alimentar severa.
Ainda temos maisaplicativo betsul8 milhõesaplicativo betsulbrasileiras e brasileiros nessa situação.
Este é o compromisso mais urgente do meu governo: acabar com a fome no Brasil, como fizemosaplicativo betsul2014.
Meu amigo Diretor Geral da FAO, pode ir se preparando para anunciaraplicativo betsulbreve que o Brasil saiu novamente do Mapa da Fome.
Senhoras e senhores,
A Aliança Global contra a Fome e a Pobreza nasce dessa vontade política e desse espíritoaplicativo betsulsolidariedade.
Ela será um dos principais resultados da presidência brasileira do G20.
Seu objetivo é proporcionar renovado impulso às iniciativas existentes, alinhando esforços nos planos doméstico e internacional.
Queremos colocar os Objetivosaplicativo betsulDesenvolvimento Sustentáveisaplicativo betsulvolta nos trilhos.
Em 2008, o G20 foi fundamental para evitar o colapso da economia internacional.
Agora, os líderes mundiais têm dianteaplicativo betsulsi a oportunidadeaplicativo betsulresponder a esse outro desafio sistêmico.
Precisamosaplicativo betsulsoluções duradouras, e devemos pensar e agir juntos.
A Aliança representa uma estratégiaaplicativo betsulconquista da cidadania.
A melhor maneiraaplicativo betsulexecutá-la é promovendo a articulaçãoaplicativo betsultodos os atores relevantes.
Com esse fim, reunimos as duas trilhas,aplicativo betsulFinanças e dos Sherpas, nesta Força Tarefa.
É gratificante ver aqui hoje ministrosaplicativo betsultrinta países membros e convidados ao ladoaplicativo betsulorganizações internacionais e bancosaplicativo betsuldesenvolvimento.
O papel das Nações Unidas e, particularmente, da FAO, do FIDA e do Programa Mundialaplicativo betsulAlimentos será decisivo.
Vamos seguir dialogando com governadores, prefeitos, sociedade civil e setor privado.
Nossa melhor ferramenta será o compartilhamentoaplicativo betsulpolíticas públicas efetivas.
Muitos países também tiveram êxitoaplicativo betsulcombater a fome e promover a agricultura e queremos que esses exemplos possam ser conhecidos e utilizados.
Aproveitaremos essas experiências e o conhecimento acumulado e ampliar o alcance dos nossos esforços.
Nenhum programa vai ser mecanicamente transpostoaplicativo betsulum lugar a outro.
Vamos sistematizar e oferecer um conjuntoaplicativo betsulprojetos que possam ser adaptados às realidades específicasaplicativo betsulcada região.
Toda adaptação e implementação deverá ser liderada pelos países receptores, porque cada um conhece seus problemas.
Eles devem ser os protagonistasaplicativo betsulseu sucesso.
A Aliança será gerida com baseaplicativo betsulum secretariado alojado nas sedes da FAOaplicativo betsulRoma eaplicativo betsulBrasília.
Sua estrutura será pequena, eficiente e provisória, formada por pessoal especializado e funcionará até 2030, quando será desativada.
Metade dos seus custos serão cobertos pelo Brasil. Quero registrar minha gratidão aos países que já se dispuseram a contribuir com este esforço.
A Aliança tampouco criará fundos novos. Vamos direcionar recursos globais e regionais que já existem, mas estão dispersos.
Recebemos com satisfação os anúncios feitos hoje pelo Banco Interamericanoaplicativo betsulDesenvolvimento e pelo Banco Africanoaplicativo betsulDesenvolvimento.
Ambas as instituições estabelecerão um mecanismo financeiro inovador para o uso do capital híbrido dos Direitos Especiaisaplicativo betsulSaqueaplicativo betsulapoio à Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza.
É gratificante saber que a segurança alimentar será um tema central na agenda estratégica do Banco Mundial nos próximos anos e que a Associação Internacional para o Desenvolvimento fará nova recomposiçãoaplicativo betsulcapital para ajudar os países mais pobres.
Todos os que queiram se somar a esse esforço coletivo são bem-vindos.
A Aliança Global nasce no G20, mas é aberta ao mundo.
Senhoras e senhores,
Em 22aplicativo betsuljulhoaplicativo betsul1944, há exatos 80 anos, encerrava-se a Conferênciaaplicativo betsulBretton Woods.
Desde então, a arquitetura financeira global mudou pouco e as basesaplicativo betsuluma nova governança econômica não foram lançadas.
A representação distorcida na direção do FMI e do Banco Mundial é um obstáculo ao enfrentamento dos complexos problemas da atualidade.
Sem uma governança mais efetiva e justa, na qual o Sul Global esteja adequadamente representado, problemas como a fome e a pobreza serão recorrentes.
Essa é outra prioridade da nossa presidência do G20.
Lidar com a desigualdade também será parte desse esforço.
A riqueza dos bilionários passouaplicativo betsul4% do PIB mundial para quase 14% nas últimas três décadas.
Alguns indivíduos controlam mais recursos do que países inteiros. Outros possuem programas espaciais próprios.
Vários países enfrentam um problema parecido. No topo da pirâmide, os sistemas tributários deixamaplicativo betsulser progressivos e se tornam regressivos.
Os super-ricos pagam proporcionalmente muito menos impostos do que a classe trabalhadora.
Para corrigir essa anomalia, o Brasil tem insistido no tema da cooperação internacional para desenvolver padrões mínimosaplicativo betsultributação global, fortalecendo as iniciativas existentes e incluindo os bilionários.
Juntamente com a União Africana, que participa pela primeira vez como membro pleno do G20, temos alertado sobre o problema do endividamento.
O que vemos hoje é uma absurda exportação líquidaaplicativo betsulrecursos dos países mais pobres para os mais ricos.
Não se pode financiar o bem-estar coletivo, se parte expressiva do orçamento é consumido pelo serviço da dívida.
A fome e a mudança do clima são dois flagelos que se agravam mutuamente.
Quem sente fome temaplicativo betsulexistência aprisionada na dor do presente. Torna-se incapazaplicativo betsulpensar no amanhã.
Reduzir vulnerabilidades socioeconômicas pavimenta o caminho para a transição justa, constrói resiliência frente a eventos extremos e fortalece os esforços contra o aquecimento global.
A transição energética e a descarbonização do planeta são oportunidades nessa luta contra a fome.
Senhoras e senhores,
O lema da presidência brasileira do G20 “Construindo um Mundo Justo e um Planeta Sustentável" parece inalcançável, mas hoje damos um passo decisivo paraaplicativo betsulrealização.
A fome e a pobreza inibem o exercício pleno da cidadania e enfraquecem a própria democracia.
Erradicá-las equivale a uma verdadeira emancipação política para milhõesaplicativo betsulpessoas.
Enquanto houver famílias sem comida na mesa, crianças nas ruas e jovens sem esperança, não haverá paz.
Um mundo justo é um mundoaplicativo betsulque as pessoas têm acesso desimpedido à alimentação, à saúde, à moradia, à educação e empregos decentes.
Essas são condições imprescindíveis para construir sociedades prósperas, livres, democráticas e soberanas.
Espero revê-losaplicativo betsulnovembro, aqui no Rioaplicativo betsulJaneiro, para a reuniãoaplicativo betsulCúpula do G20.
Será uma ocasião para lançar oficialmente a Aliança Global e anunciar seus membros fundadores.
Contamos com todas e todos para que ela seja um sucesso.
Muito obrigado.
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