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Documentos indicam que aliança da Folha com a ditadura foi mais forte do que jornal admite

aposta betesporte Maisaposta betesporte40 pessoas, entre jornalistas, militantes, ex-agentes e empresários deram depoimentos sobre a Folha na repressão

(Foto: Divulgação)

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Por Vasconcelo Quadros, da Agência Pública - Documentos e testemunhos obtidos pelo Centroaposta betesporteAntropologia e Arqueologia Forense (Caaf), ligado a Universidade Federalaposta betesporteSão Paulo (Unifesp) e analisados com exclusividade pela Agência Pública indicam que a colaboração da Folhaaposta betesporteS. Paulo com a ditadura foi mais profunda do que se sabia.

Segundo a pesquisa, o grupo Folha teria emprestado carrosaposta betesportedistribuiçãoaposta betesportejornais para que agentes da repressão os usassem para disfarçar operações do regime nas ruas e que teriam resultadoaposta betesporteprisões, assassinatos e desaparecimentoaposta betesportemilitantes da esquerda armada. Um dos testemunhos mais importantes obtidos pela Unifesp/Caaf foi uma entrevista dada aos pesquisadores pelo ex-agenteaposta betesporteinformação do Exército, Marival Chaves do Canto, que atuou no DOI-CODI (Destacamentoaposta betesporteOperações e Informações e Centroaposta betesporteOperaçõesaposta betesporteDefesa Interna) do Exército,aposta betesporteBrasília.

Ele afirma que os carros eram usados como coberturaaposta betesportepontos (encontros) entre militantes da esquerda armada que na maioria das vezes eram presos, torturados e assassinados: “Era um contato feito dentro da direção. Essa direção escalava um carro para tal lugar, tal hora, para estar ali naquele local. Ali, entrava-seaposta betesportecontato com pessoas, dirigentes da operação, posicionava o carro no local mais adequado e, a partir daí, o processo se desenvolvia. Para que não houvesse testemunha, o motorista era dispensado”, diz ele.

A pesquisa aprofunda também a compreensão sobre as relações íntimas do Grupo Folha no período mais agudo dos anosaposta betesportechumbo com policiais que perseguiam a esquerda e, ao mesmo tempo,aposta betesporteacordo com testemunho colhido na pesquisa, estavam contratados pelo jornal, ora como repórteres e redatores ou prestando serviçosaposta betesportesegurança à empresa. Entre eles estavam dois delegados do Departamentoaposta betesporteOrdem Política e Social (DOPS), os irmãos Robert e Edward Quass, além do nome mais forte da repressão política no país, Sérgio Fleury, o delegado que chefiou o “esquadrão da morte” e depois recebeu carta branca do regime militar para torturar e matar oponentes políticos.

O nomeaposta betesporteFleury surgiu num depoimentoaposta betesporteoutro investigador do DOPS, Messias Ayrton Scatena,aposta betesporte1973, que também trabalhou como jornalista do grupo e acabou sendo processado na auditoria militar paulista por ter vazado informações sigilosas para a namorada, uma jornalista que trabalhava na mesma empresa. Scatena dizaposta betesportedepoimento que Roberto Quass era do serviço secreto do DOPS e, junto com o irmão, chefiava os “serviçosaposta betesportesegurançaaposta betesportetoda a empresa Folhaaposta betesporteS. Paulo”. Scatena faz a afirmação no mesmo trecho que relata que “outro delegado, Dr. Sérgio Fleury também participa dos mesmos serviços e mais especificamente relativamente a subversão e terrorismo”.

A Agência Pública teve acesso à íntegra das declaraçõesaposta betesporteMarival. Ex-sargento que por 17 anos, entre 1968 e 1985, conheceu por dentro as engrenagens da ditadura, ele contradiz a principal versão dos antigos donos da Folha, Octavio Friasaposta betesporteOliveira e Carlos Caldeira Filho, que sempre negaram ter dado apoio material à repressão.

Perguntado pelos pesquisadores se o empréstimo dos carros poderia ter ocorrido sem o conhecimento dos dois principais dirigentes da Folha, o ex-agente foi taxativo: “Em hipótese nenhuma. (…) É uma atividade super arriscada. (…) Já pensou surgir na imprensa, como isso ia depor contra o nome da empresa, se acontecesse um negócio desses sem a anuência dos dirigentes, do seu Frias e outras pessoas da direção da Folha? Em hipótese alguma”, sustentou Marival. “Alguém estava apoiando porque queria a perpetuação do regime (…), consequentemente estava levando algum tipoaposta betesportevantagem econômico-financeira”, afirmou. Aos pesquisadores da Unifesp/Caaf, pelo menos outros 12 entrevistados, entre jornalistas, ex-agentesaposta betesporterepressão e ex-presos políticos, confirmam,aposta betesportediferentes abordagens, o uso dos carros.

Veículos da Folha que teriam participado da repressão foram incendiados pela ALN
Veículos da Folha que teriam participado da repressão foram incendiados pela ALN(Photo: Reprodução)

EMBOSCADA COM CAMINHÃO DA FOLHA - Segundo relatos, o episódio mais emblemático ocorreu no dia 23aposta betesportesetembroaposta betesporte1971aposta betesportefrente ao número 2.358, da Rua João Moura, Sumarezinho, Zona Oeste da capital paulista, quando três guerrilheiros da Ação Libertadora Nacional (ALN) foram atraídos para uma cilada e acabaram surpreendidos por policiais que repentinamente teriam saltadoaposta betesportedentroaposta betesporteuma camioneta baú da frota da Folha. Sobrevivente da emboscada, a militante Ana Maria Nacinovic Corrêa, então com 25 anos, assassinada dez meses depois, contou a dirigentes da ALN, que o grupo guerrilheiro, como havia feitoaposta betesporteoutras ocasiões para se apossaraposta betesportearmasaposta betesportepoliciais descuidados, cercou um jipe do Exército aparentemente quebrado e com apenas um soldado vigiando, sem dar importância para um pequeno caminhão da Folha que estaria estacionado próximo.

Assim que renderam o soldado, que portava displicentemente uma arma longa (fuzil ou metralhadora), os militantes da ALN teriam sido surpreendidos pelos agentes. Eles teriam descido atirando, ferindo três militantes da organização que constam nas listasaposta betesportedesaparecidos políticos: Antônio Sérgioaposta betesporteMatos, Eduardo Antônio da Fonseca e Manoel José Nunes Mendesaposta betesporteAbreu. A pesquisa da Unifesp acrescenta ao episódio o depoimento que Suzana Lisboa, ex-militante da ALN, ex-integrante da Comissão Especialaposta betesporteMortos e Desaparecidos Políticos e viúvaaposta betesporteum ex-militante da mesma organização, Luiz Eurico Tejera Lisboa, morto pela políciaaposta betesporte1972, deu à Comissão Nacional da Verdadeaposta betesporte2014. “(…) um carro baú […] da Folhaaposta betesporteSão Paulo. Esse é um dos momentosaposta betesporteque há participação direta da empresa “Folhaaposta betesporteSão Paulo” no assassinatoaposta betesportemilitantes da ALN. Na época eu convivia aquiaposta betesporteSão Paulo e ouvia essa informaçãoaposta betesportedirigentes da ALN”, afirma ela.

Marival diz que com poucos recursos oficiais à época, os órgãosaposta betesporterepressão buscavam apoio materialaposta betesporteempresas. As camionetas baú da Folha eram práticas porque as portas abriam toda a parte traseira, permitindo mobilidade aos agentes. “A Folha participava, dava colaboração às operaçõesaposta betesporterua, especialmente aquelas (…)aposta betesportecoberturaaposta betesportepontos, onde as pessoas que entravam morriam”, afirma o ex-agente, lembrandoaposta betesporteapenas um dos episódios que teve sobrevivente. “(…) houve um caso, por exemplo, no restaurante Varela, na Mooca (…)aposta betesporteAntônio Carlos Bicalho Lana. Ele conseguiu romper o cerco com uma metralhadora, a tiros etc. Mas a maioria morreu”, relata.

Na emboscada,aposta betesporte16aposta betesportejulhoaposta betesporte1972, morreram Ana Maria Nacinovic, Iuri Xavier Pereira e Marcos Nonato da Fonseca. Lana seria assassinadoaposta betesporteSão Vicente, litoral Sulaposta betesporteSão Paulo,aposta betesporteoutro cerco,aposta betesporte30aposta betesportenovembroaposta betesporte1973 junto com a também militante da ALN Sônia Angel Jones, nora da estilista Zuzu Angel, mortaaposta betesporteacidente misterioso enquanto procurava pelo paradeiro do filho, Stuart Angel Jones, também executado.

A informaçãoaposta betesporteque carros da Folha foram usados nas operações policiais surgiu depois que a ALN investigou caminhõesaposta betesportedistribuição da Ultragaz, que também se envolveu no apoio ao regime militar. A denúncia partiuaposta betesporteuma militante da organização que, presaaposta betesporte1970, viu que outro empresário, o dinamarquês Henning Albert Boilesen, integrante do GPMI (Grupo Permanenteaposta betesporteMobilização Industrial) criado pela Federação das Indústrias do Estadoaposta betesporteSão Paulo (FIESP) para fornecer insumos e equipamentos à ditadura, era presença frequente na sede da Operação Bandeirantes (OBAN), centroaposta betesportetortura no Bairro Paraíso, Zona Sul da capital paulista.

Sônia Hipólito Lichtsztejn contou à Pública que percebeu tratar-se do mesmo homem que vira várias vezes andandoaposta betesporteuma sala a outra, assistindo sessõesaposta betesportetortura e dando ordens como se estivesse fiscalizando as atividades policiais na Oban quando deixou a prisão, sob condicional,aposta betesportejulhoaposta betesporte1970. “Estavaaposta betesportecasa, folheando uma revista quando vi uma foto dele numa reportagem. Levei um susto. Mostrei a revista a outra amiga e ela confirmou”, conta Sônia, que alertou seu contato mais próximo na ALN. Ela mesma participou do levantamento, que demorou meses até que o empresário fosse plenamente identificado e executado numa ação da ALN e Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT) no dia 15aposta betesporteabrilaposta betesporte1971 na Alameda Casa Branca, Jardins, a poucas quadras da casa do empresário, na Rua Estados Unidos. Ela relata que não participou do “justiçamento”.

O levantamento da ALN apontou que Boilesen apoiava ostensivamente a polícia com equipamentos, dinheiro arrecadadoaposta betesporteoutros empresários, era presença assídua nos porões e cedia para a polícia os caminhões da empresa Ultragaz,aposta betesportedistribuiçãoaposta betesportegás na cidade. Esse detalhe levou a ALN a confirmar atravésaposta betesportechecagens e pelo relatoaposta betesportemilitantes presos ou sobreviventes, que os carros da Folha também teriam sido usados como disfarceaposta betesportecircunstâncias parecidas. Boilesen e Friasaposta betesporteOliveira entraram na mira da organização no mesmo período. “O Frias ficou com medo, mas não seria assassinado. O plano era sequestrá-lo e trocá-lo por companheiros presos”, contou à Pública o jornalista e ex-preso político, Ivan Seixas, que pertencia ao MRT e hoje é ativista dos direitos humanos.

Em duas ações distintas, umaaposta betesporte21aposta betesportesetembroaposta betesporte1971 e a outra no dia 26 do mês seguinte, com o objetivoaposta betesportedenunciar os donos da Folha, a ALN incendiou três camionetas do jornal. Num comunicado publicado no periódico Venceremos, da organização, também acusou a Folhaaposta betesporteentregar ao CODI uma “lista suja” com nomesaposta betesportefuncionários suspeitosaposta betesportesubversão demitidos.

A reação da Folha foi um editorial com o títuloaposta betesporte“Banditismo”, publicado na primeira página, escrito e assinadoaposta betesporteforma inédita pelo próprio Frias, afirmando que as ameaças não alterariam “a linhaaposta betesporteconduta” do jornal e argumentando que o país tinha “um governo sério, responsável e com indiscutível apoio popular”. Quando o segundo carro foi destruído, o dono da Folha afirmou que as ações da ALN seriam reações à “firme e consciente posição” do jornal na “veemente condenação do terrorismo”. A ALN reforçaria as ameaças, alertando que seu “justiçamento” era uma questãoaposta betesportetempo. Frias mudou-se, então, com toda a família para o prédio da Folha, na Barãoaposta betesporteLimeira, e teria passado a contar com um aparatoaposta betesportesegurança do próprio Departamentoaposta betesporteOrdem Política e Social (DOPS), o que reforçaria a relação íntima do jornal com policiais iniciada bem antes das ameaças.

Editorial inédito assinado por “seu Frias”, dono do jornal, foi publicado na primeira páginaaposta betesporte1971
Editorial inédito assinado por “seu Frias”, dono do jornal, foi publicado na primeira páginaaposta betesporte1971(Photo: Reprodução)

Os pesquisadores da Unifesp/Caaf entrevistaram outras três testemunhas que viram os carros da Folhaaposta betesportediferentes ações dos órgãos da repressão nas ruas. Ivan Seixas, que foi preso aos 16 anos, junto com o seu pai, Joaquim Alencar Seixas, contou ter estranhado a presençaaposta betesportecarrosaposta betesportedistribuiçãoaposta betesportejornal da Folha estacionados na ruaaposta betesportefrente à OBAN, na Rua Tutóia. “Carroaposta betesportetransporteaposta betesportejornal parado na frenteaposta betesporteuma delegacia? Tem alguma coisa errada. E a reincidência foi muito grande. Depois, vários companheiros relataram que foram até transportados por carros da Folha”, disse ele. Relato semelhante foi feito pelo jornalista Francisco Carlosaposta betesporteAndrade, que afirmou ter visto carros do jornal enfileirados no pátio da OBAN. O ex-deputado Adriano Diogo, detido junto comaposta betesportemulher, Arlete, contou aos pesquisadores que um carro da Folha ficou estacionado próximo àaposta betesportecasa várias horas antes da invasão da polícia.

Na direçãoaposta betesportejornalismo do grupo, embora o assunto fosse incômodo, a maioria sabia da colaboração, indicam documentos e depoimentos. “(…). A Folha ajudava a fazer isso materialmente, não era ideologicamente. A história não pode ignorar isso, embora a Folha negue. […] a Folha apoiou os atos mais escabrosos [da ditadura], mais desumanos. Nada retirará esse caráter essencial do papel da Folha”, disse o jornalista Jorge Okubaro que, como secretárioaposta betesporteredação da Folha da Tarde, participava das reuniõesaposta betesportepauta diárias. A versão é confirmada por outros três jornalistas, Antônio Carlos Fon, Wianey Pinheiro, à época repórter da Folha e presidente do Sindicato dos Jornalistasaposta betesporteSão Paulo, e José Luiz Proença, assim como dois agentes dos órgãosaposta betesporterepressão, os delegados Cláudio Guerra e Carlos Alberto Augusto, este conhecido como Carteira Preta e Carlinhos Metralha. Carteira foi homemaposta betesporteconfiança do delegado Sérgio Fleury.

Em entrevista aos pesquisadores, o policial valoriza o trabalho realizado pelo Grupo Folha e defende que os dirigentes sejam recompensados por contaaposta betesporteseus préstimos à ditadura: “Todo mundo que ajudou na repressão tem que ser indenizado (…) Sem sombraaposta betesportedúvidas. E com muito dinheiro. Porque o que estão fazendo com ele aqui agora, estão querendo denegrir a empresa dele (…) Tem que ser indenizado sim. E com muito dinheiro, tem que levantar o jornal”.

Coordenadora da pesquisa, a jornalista Ana Paula Goulart, historiadora e professoraaposta betesportecomunicação da Universidade Federal Fluminense (UFF), frisa que não tem nenhuma dúvida que o Grupo Folha emprestou seus veículos às operaçõesaposta betesportecaçada aos militantesaposta betesporteesquerda e diz que embora Caldeira tenha sido responsável pela frotaaposta betesporteveículos do jornal e personagem tão próximo ao regime militar que acabou sendo indicado prefeito biônicoaposta betesporteSantos, no litoral Sulaposta betesporteSão Paulo, a pesquisa aponta que a responsabilidade é dos dois sócios. “Tentam jogar para o Caldeira, mas os dois sabiam o que cada um fazia. O Caldeira não tomaria uma decisão dessa sem a anuência dos Frias”, conclui.

A pesquisadora sustenta, também, que a colaboração acabou sendo atestadaaposta betesporteforma contundente pelo filho do dono do grupo, o ex-diretoraposta betesporteredação da Folha, Otavio Frias Filho, conhecido no meio jornalístico como Otavinho, num depoimento para a biografia do pai ao jornalista Engel Paschoal, autoraposta betesporteA trajetóriaaposta betesporteOctavio Friasaposta betesporteOliveira, publicadoaposta betesporte2007 pela editora do jornal, a Publifolha, trecho resgatado pela pesquisa. “Depoisaposta betesporteconversar com o meu pai (e) até com gente que teve ligações com a guerrilha naquela época, eu diria que sim: os caminhõesaposta betesportetransporte da Folha foram usados por equipes do DOI-Codi para fazer campana e até prender guerrilheiros, ou supostos guerrilheiros”, disse Otavinho, conforme consta na página 157 da obra.

Os “supostos guerrilheiros” deve-se, naturalmente, à recusaaposta betesporteFrias paiaposta betesportereconhecer o caráter político das ações armadasaposta betesporteoponentes do regime, como o empresário deixou claro num editorialaposta betesporte30aposta betesportejunhoaposta betesporte1972, com o provocador título “Presos Políticos?”. Nele, critica seu concorrente, o jornal O Estadoaposta betesporteS. Paulo, por defender tratamento especial a “criminosos” que “mais não são que assaltantesaposta betesportebancos, sequestradores, ladrões, incendiários e assassinos”. A declaraçãoaposta betesporteOtavinho, que morreuaposta betesporte2018, é a única da família Frias reconhecendo a colaboração. Seu pai, Friasaposta betesporteOliveira, faleceuaposta betesporte2007 sem nunca ter admitido a cessão dos carros. Numa reportagem do próprio jornal por ocasião dos 100 anos da Folha,aposta betesporte2021, foi reproduzida uma entrevista antigaaposta betesporteFriasaposta betesporteOliveiraaposta betesporteque havia afirmado que “se isso ocorreu”, foi àaposta betesporterevelia, e negou ter colaborado com os órgãosaposta betesporterepressão.

Declaraçãoaposta betesporteOtávio Filho reconhecendo a colaboração com a ditaduraaposta betesporte2007
Declaraçãoaposta betesporteOtávio Filho reconhecendo a colaboração com a ditaduraaposta betesporte2007(Photo: Reprodução)

ATRELAMENTO DA LINHA EDITORIAL À DITADURA - A pesquisa é parte do projeto “A responsabilidadeaposta betesporteempresas por violaçõesaposta betesportedireitos durante a ditadura”, que além da Folha incluiu outras nove empresas e envolveu, no total, 55 pesquisadores selecionados atravésaposta betesporteedital pelo Centroaposta betesporteAntropologia e Arqueologia Forense (CAAF), da Unifesp,aposta betesporteparceria com Ministério Público Federal e Ministério Público do Estadoaposta betesporteSão Paulo, material que foi obtido com exclusividade pela Pública.

No caso da Folha, a pesquisa durou quase dois anos, ao longo dos quais, entre jornalistas, militantes políticos, ex-agentes e empresários, foram entrevistadas maisaposta betesporte40 pessoas, alémaposta betesporteterem ocorrido buscasaposta betesportearquivos públicos, bibliografia eaposta betesportejornais. Boa parte das informações sobre a colaboração da Folha com a repressão e a relação íntima da redação do jornal com policiais constam no livro Cãesaposta betesporteGuarda – jornalistas e censores, do AI-5 à Constituiçãoaposta betesporte1988, publicadoaposta betesporte2004 pela pesquisadora Beatriz Kushnir, que contou parte desta história, também listado na bibliografia da pesquisa da Unifesp/Caaf. As informações coletadas pela pesquisa da Unifesp reforçam as presençasaposta betesporteFrias e Carlos Caldeira na conspiração para o golpe, no apoio material à repressão política, no atrelamento da linha editorial à ditadura por um longo período. Demonstram ainda que os negóciosaposta betesporteFrias e Caldeira cresceram no período.

Documentos encontrados no Arquivo Nacional, aos quais a Agência Pública teve acesso, indicam que Octavio Friasaposta betesporteOliveira mantinha relações muito próximas com as entidades que conspiraram pelo golpeaposta betesporte1964 e depois apoiaram sem restrições a ditadura. Trata-seaposta betesporteum reciboaposta betesportecontribuiçãoaposta betesporteFrias ao Institutoaposta betesportePesquisas e Estudos Sociais (IPES), entidade que conspirou pelo golpe e atuou na manutenção do regime militar,aposta betesportevalores da época,aposta betesporteCr$ 12.000 [em valores atuais, pelo IGP-DI, R$ 207 mil], com dataaposta betesporte16aposta betesportejulhoaposta betesporte1967, eaposta betesporteum outro papelaposta betesporteque o dono da Folha é identificado como “Sócio do IPES” no período “pré-64”. Ao jornalista Oscar Pilagallo, autor do livro História da Imprensa paulista: jornalismo e poderaposta betesporteD. Pedro I a Dilma, Frias não negou a relação com a entidade golpista, mas argumentou que havia participado apenasaposta betesporteuma única reunião com outros ipesianos na casa do banqueiro José Adolpho da Silva Gordo, do Bancoaposta betesporteInvestimento do Brasil.

Reciboaposta betesportecontribuiçãoaposta betesporteFrias ao Institutoaposta betesportePesquisas e Estudos Sociais (IPES)
Reciboaposta betesportecontribuiçãoaposta betesporteFrias ao Institutoaposta betesportePesquisas e Estudos Sociais (IPES)(Photo: Reprodução)Reprodução

Documentoaposta betesporteque o dono da Folha, “seu Frias”, é identificado como “Sócio do IPES”
Documentoaposta betesporteque o dono da Folha, “seu Frias”, é identificado como “Sócio do IPES”(Photo: Reprodução)

Numa análise às edições da Folhaaposta betesporteS.Paulo anteriores ao golpe, os pesquisadores debruçaram-se sobre um material para contextualizar o período: um suplementoaposta betesporte44 páginas, intitulado 64 – Brasil continua, publicado como encarte do jornal exatamente no dia do golpe, 31aposta betesportemarçoaposta betesporte1964, cujo conteúdo, afirma a pesquisadora Ana Paula Goulart “é repletoaposta betesporteanúncios e textos opinativos que evidenciam um claro protagonismo exercido pela Folha nas articulações golpistas e a forte sintonia político-ideológica do grupo com o empresariado local, nacional e internacional”.

Suplementoaposta betesporte44 páginas publicado como encarte do jornal no dia do golpe, 31aposta betesportemarçoaposta betesporte1964
Suplementoaposta betesporte44 páginas publicado como encarte do jornal no dia do golpe, 31aposta betesportemarçoaposta betesporte1964(Photo: Reprodução)

A pesquisa destaca que, nos dez primeiros anos do regime, o jornalismo da Folha também produziu significativas campanhas conclamando a população a “seguir com otimismo os preceitos da assim chamada ‘revolução democrática’ e assumiu um papel ativo no que foi denominadoaposta betesporte‘caça aos terroristas’”. A oposição armada, segundo o jornal, “ameaçava a soberania nacional e deveria ser combatida a partiraposta betesporteum esforço coletivo”. Na ocasião das comemoraçõesaposta betesporte50 anos da empresa,aposta betesporte1971, a Folha afirmava se manter “profundamente identificada” com os rumos da nação, ao acompanhar “os esforços da Revoluçãoaposta betesporte64 para a reconstrução do Brasil”.

A MANCHETE ANTECIPADA DE UM ASSASSINATO - Todos os jornais do grupo seguiram a linha editorial da Folhaaposta betesporteapoio à ditadura. Mas nenhum teria chegado ao nível da Folha da Tardeaposta betesportecolaboração e subserviência ao regime militar, segundo depoimentosaposta betesportejornalistas que trabalhavam no veículo consultados pela Pública. No dia 17aposta betesporteabrilaposta betesporte1971, emaposta betesportemanchete o jornal noticiouaposta betesporteletras garrafais: “Morto o assassino do industrial Boilesen”. O texto da chamada informava que no dia anterior, os órgãosaposta betesportesegurança interna, “agindo com rapidez identificaram no dia anterior” Joaquim Seixas como um dos participantes da execuçãoaposta betesporteBoilesen, ocorrida dois dias antes.

A notícia informava que, cercado pela polícia, Seixas reagiu e acabou sendo morto no tiroteio com a polícia. O problema é que no dia anterior vários presos viram Joaquim e Ivan, então com 16 anos, serem retirados do interioraposta betesporteuma viatura, espancados já no pátio da Oban e depois torturados. O jornal começou a circular na manhã do dia 17, mas Seixas só morreriaaposta betesporteconsequênciaaposta betesportechoques e espancamentos por volta das 19h do mesmo dia 17. À Pública, Ivan Seixas conta que viu,aposta betesportedentroaposta betesporteuma viatura, a manchete num exemplar pregado à paredeaposta betesporteuma bancaaposta betesportejornalaposta betesportefrente ao baraposta betesporteque os policiais pararam para tomar café no retornoaposta betesporteuma simulaçãoaposta betesporteseu próprio fuzilamento. “Quanto chegueiaposta betesportevolta à Oban, vi meu pai sentado na cadeira do dragão [assentoaposta betesportechoque elétrico] sendo torturado, mas vivo”, conta o jornalista. A Folha da Tarde, segundo ele, pesava a mão contra a esquerda, mas ele faz questãoaposta betesportelembrar que outros jornais também publicavam falsas notícias produzidas pela polícia.

Folha da Tarde noticiouaposta betesporteletras garrafais um assassinato que ainda não havia ocorrido
Folha da Tarde noticiouaposta betesporteletras garrafais um assassinato que ainda não havia ocorrido(Photo: Reprodução)Reprodução

As pesquisas indicam que a Folha da Tarde se tornou no período o veículo mais próximo dos órgãosaposta betesporterepressão, publicandoaposta betesporteprofusão, sem o menor filtro, versões oficiais que interessavam à polícia política. Isso ocorreu também com outros presos, como no caso envolvendo Eduardo Collen Leite, o Bacuri, da mesma ALN, detidoaposta betesporte21aposta betesporteagostoaposta betesporte1970 no Rio e levado para São Paulo, onde a equipe do delegado Sérgio Paranhos Fleury o matouaposta betesporte8aposta betesportedezembro, depoisaposta betesporteum longo calvárioaposta betesportetorturas.

A mancheteaposta betesporte9aposta betesportedezembroaposta betesporte1970 não deixava dúvidas sobre a posição da Folha da Tarde. “Terror: Metralhado e morto outro fascínora”. Linhaaposta betesportefrente da esquerda armada, o militante havia participado do sequestroaposta betesporteembaixadores que seriam trocados pela libertaçãoaposta betesportepresos políticos, entre os quais estavaaposta betesportemulher, Denise Crispim, grávida. A matéria informou que o “bandoleiro” morrera num confronto com a políciaaposta betesporteSão Sebastião, no litoral Sulaposta betesporteSão Paulo, embora seus companheirosaposta betesportecárcere tenham protestado com gritos e muito barulho nas ferragens das grades quando ele foi retirado da celaaposta betesporteestado físico deplorável no dia 27aposta betesporteoutubro, dois dias depoisaposta betesportemais uma falsa notíciaaposta betesporteque teria fugido. A Folha da Tarde se superava a cada edição na adjetivação, denominando militantes políticosaposta betesporte“facínoras”, “assassinos”, “maníacos” e “loucos”.

Folha da Tarde chamava militantes políticosaposta betesporte“facínoras”, “assassinos”, “maníacos” e “loucos”
Folha da Tarde chamava militantes políticosaposta betesporte“facínoras”, “assassinos”, “maníacos” e “loucos”(Photo: Reprodução)Reprodução

Por mais que a família Frias tenha tentado separar a Folha da Tarde da linha que viria a ser adotada pela Folha a partiraposta betesporte1974, a pesquisa mostra que, resguardada as peculiaridadesaposta betesportecada veículo, “havia uma direção editorial uniforme no interior do conglomerado jornalístico liderado pelos empresários Octavio Frias e Carlos Caldeira” no período. Além disso, o nomeaposta betesporteFriasaposta betesporteOliveira se destacava como diretor-presidente no cabeçalho da primeira página da Folha da Tarde.

POLICIAIS JORNALISTAS NA FOLHA - Um dos méritos da pesquisa da Unifesp foi reunir informações que estavam soltasaposta betesportelivros, jornais e testemunhas da época para demonstrar que os jornais do grupo estavam infestadosaposta betesportepoliciais atuando como jornalistas nas redações, ao menos 11, identificados pelos pesquisadores. O diretor da Folha da Tarde, no período, foi o jornalista Antônio Aggio Júnior que era, ao mesmo tempo, funcionário da Secretariaaposta betesporteSegurança Pública e, mais tarde, mas ainda no período repressivo, assessoraposta betesporteimprensa do delegado e ex-senador Romeu Tuma, braço direitoaposta betesporteFleury na áreaaposta betesporteinformação do DOPS. Quando deixou a Polícia Civil para construir carreira e perfil novos na Polícia Federal, Tuma era diretor do departamento.

Segundo a pesquisa, Aggio também teria se utilizadoaposta betesporteum carroaposta betesportereportagem da Folha para camuflar a entradaaposta betesporteconspiradores num quartel às vésperas do golpeaposta betesporte1964. Repórter da Folha à época, ele teria usado aparelhoaposta betesportetelex da sucursal da Folha no Rio para passar mensagens cifradas como senha do levante do II Exércitoaposta betesporteSão Paulo, seguindo instruções do coronel Antônio Lepiane, chefe do Estado Maior da 2ª Companhia do Exércitoaposta betesporteSão Paulo, que era seu padrinho e foi o comandante da OBAN quando esta foi criada,aposta betesporte1969, no início do governo Emílio Garrastazu Médici.

Aggio assumiu a direçãoaposta betesporteredação da Folha da Tardeaposta betesporte1969 imprimindo uma mudança radical na linha editorial. Saíamaposta betesportecena jornalistas progressistas, como Jorge Miranda Jordão e o frade dominicano Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Beto, ao mesmo tempoaposta betesporteque a redação contratava dois delegados, Carlos Antônio Guimarães Sequeira, agente do DEOPS, e Antônio Bim, os investigadores Carlos Dias Torres e Horley Antonio Destro, e um major da PM paulista, Edson Corrêa, que chamava a atenção por circular pela redação com uma pistola automática à mostra como se estivesse numa operaçãoaposta betesporterua.

A linha do jornal, que antes cobria segmentos como o movimento estudantil, passou a seraposta betesporteapoio irrestrito à ditadura militar e às forçasaposta betesporterepressão. A combinaçãoaposta betesportecomando e linha editorial levou o jornalista Claudio Abramo, ex-diretor da Folha,aposta betesporteseu livroaposta betesportememórias, A Regra do Jogo,aposta betesporte1988, a qualificar a Folha da Tarde como “o jornal mais sórdido do país”. aposta betesporte Mais bem humorado, o jornalista Carlos Brickmann, que assumiu a redação ao ladoaposta betesporteAdilson Laranjeirasaposta betesportesubstituição ao grupoaposta betesporteAggio, escreveuaposta betesportetomaposta betesportefina ironia que a grande conquista do novo comando foi ter conseguido “reduzir a tiragem do jornal”, uma alusão a expressão “tiras”, como eram chamados os policiais da época. Era também jocosamente qualificado como alusão “o jornalaposta betesportemaior tiragem”, como registraria Beatriz Kushniraposta betesporteCãesaposta betesporteGuarda.

A relação íntima entre polícia e jornalista não era, entretanto, exclusividade da Folha da Tarde. Outro periódico do grupo, o Notícias Populares, o sensacionalista NP, campeãoaposta betesportevendasaposta betesportebanca no período, era dirigido por Jean Mellé, anticomunistaaposta betesportecarteirinha e notório entusiasta das Forças Armadas. Waldemar Ferreiraaposta betesportePaula, assistenteaposta betesporteJean Mellé, era policial. Armando Gomide, que substituiu Mellé depois daaposta betesportemorte,aposta betesportemarçoaposta betesporte1970, era policial e ligado ao Serviço Nacionalaposta betesporteInformação (SNI).

Sobre ele, segundo a pesquisa, pesava a suspeita dos próprios colegasaposta betesporteque “nas horas vagas” trabalhasse como agente secreto e informante dos militares. No Departamentoaposta betesporteInterior, Correspondentes e Sucursais (Dics) do Grupo Folha o diretor era Paulo Nunes, que se dizia agente da PF. Na Agência Folha, que substituiu o Dics, o comando foi entregueaposta betesportejunhoaposta betesporte1972 a Luiz Carlos Rocha Pinto, delegado da Polícia Civil paulista contratado como jornalista, tornando-se no período o principal interlocutor entre a empresa e a censura. Depoisaposta betesportedez anos na Agência Folhas (departamento cujo nome depois perderia o “s”), Rocha Pinto foi transferido para o departamentoaposta betesportecirculação, desligando-se do jornal sóaposta betesporte1995. Em 2005, ou seja, dez anos depois, ele continuava recebendo o mesmo salário, mas sem trabalhar. A pesquisa registra que a quem perguntava como conseguira tal privilégio, a resposta era lacônica: “sou heróiaposta betesporteguerra”.

A partir da retaliação da ALN, comaposta betesporteinclusão na listaaposta betesporte“justiçáveis”, Frias mudou-se para o 6º andar do prédio que abrigava os jornais, na Alameda Barãoaposta betesporteLimeira, Campos Elíseos, região central da capital e, segundo versão difundida pela Folha, conforme a pesquisa, passaria a contar com proteçãoaposta betesportedois delegados do DOPS, os irmãos Robert e Edward Quass.

A pesquisa mostra, no entanto, que a relação dos Quass com a Folha seria bem anterior à destruição dos carros pela ALN: Robert havia sido contratadoaposta betesportejaneiroaposta betesporte1961, antes, portantoaposta betesporteFrias comprar a empresa, mas não apenas como datilógrafo e recepcionistaaposta betesportenoticiários como informou o jornal.

Num comunicado interno encontrado nos arquivos do DOPS, o responsável pelo setoraposta betesportetransporte da Folha relata o furtoaposta betesporteum dos veículos do grupo se referindo a Quass como auditor da empresa. Outros dois membros da família, Joseph Quass e Joseph Quass Filho, respectivamente, auxiliaraposta betesporteauditoria e auxiliaraposta betesporteescritório, ambos ligados diretamente à direção da Folha, haviam sido contratadosaposta betesporte1971 e 1970. Aindaaposta betesporteacordo com a pesquisa, os delegados passariam a fazer a segurança da família, cuidando, entre outras tarefas, da escolta dos dois filhosaposta betesporteFrias nas idas e voltas à escola, Otavinho e o atual diretor do grupo, Luís Frias. Contratado como chefeaposta betesportesegurança patrimonial da Folha, Edward passou a cuidaraposta betesportetodo o patrimônio do grupo e tinha uma sala dentro do jornal.

Comunicado interno do jornal sobre o furtoaposta betesporteum dos veículos do grupo
Comunicado interno do jornal sobre o furtoaposta betesporteum dos veículos do grupo(Photo: Reprodução)

A pesquisadora Ana Paula Goulart anota no relatório: “A presençaaposta betesportetais indivíduos atesta uma problemática relaçãoaposta betesporteproximidade entre o Grupo Folha e agentes que cumpriam funções significativas na engrenagem repressiva da ditadura. A ameaça a Octavio Friasaposta betesporteOliveira poderia justificar uma atenção especial por parte da Secretariaaposta betesporteSegurança do Estadoaposta betesporteSão Paulo, mas não explicava a contratação, com vínculo trabalhista e remuneração direta,aposta betesportedelegados do DEOPS para atuarem como funcionários da empresa jornalística”.

O nomeaposta betesporteoutro agente, Messias Ayrton Scatena, carcereiro do DEOPS e jornalista que começou no grupo pelo jornal Última Hora surgiria num rumoroso caso que tramitou no Superior Tribunal Militar (STM),aposta betesporte1973. Acusadoaposta betesportevazar informações sigilosasaposta betesporteoperações contra a subversão paraaposta betesportenamorada, a também jornalista do grupo Helena Mirandaaposta betesporteFigueiredo, Scatena chegou a ser preso. Em seu depoimento ele afirmou que alémaposta betesportetrabalhar no Grupo Folha, “participavaaposta betesporteserviçosaposta betesporterepressão, combate a subversão e terrorismo”, tendo atuado entre cinco a dez diligências no períodoaposta betesportetrês anosaposta betesporteque exerceu o cargo na delegacia”. O policial-jornalista dizia possuir, àquele momento, uma relação próxima com Octavio Friasaposta betesporteOliveira e os membrosaposta betesportesua família, uma vez que ficou encarregadoaposta betesportetrabalhar como seu motorista pessoal, alémaposta betesporteatuar como segurançaaposta betesporteseus filhos. Disse também que os diretores do jornal depositavam nele “grande confiança”, ao pontoaposta betesporteter sido liberado da funçãoaposta betesportejornalista da empresa “para se dedicar integralmente à segurança da família […] sem prejuízo dos vencimentos”.

De acordo com o documento, a contrataçãoaposta betesporteScatena foi recomendada pelo seu chefe, o delegado Edward Quass. É nesse depoimento, nas páginas 130 e 131 da ação penal 829/73 aberta pela justiça militar, que ele cita o nome do delegado Sérgio Fleury, afirmando que ele também atuava na segurança da Folha ao lado dos irmãos Quass. O que se sabia era que Fleury tinha sido visto algumas vezes na Folha, mas a justificativa é que era convidadoaposta betesporteAggio para algum evento festivo.

A atençãoaposta betesporteFrias aos militares ficaria clara também quando este, segundo a pesquisa, a pedidoaposta betesporteum majoraposta betesporterelações públicas do II Exército, que falavaaposta betesportenome do general Ernani Ayrosa da Silva, fundador da Oban, contratou como jornalista da Folha da Tarde um ex-militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), Rômulo Fontes, que durante os 18 mesesaposta betesporteque permaneceu preso, entre 1979 e 1971, se tornou um dos arrependidosaposta betesporteparticipar da luta armada, prestando depoimentos contra a esquerda divulgados pela ditadura. Fontes conseguiu o emprego e depois confirmaria: “Entrei para a Folha manu militari”, conforme citação no livroaposta betesportePilagallo.

LICENÇA NA PRISÃO - A pesquisa aponta perseguição política e violação aos direitos trabalhistas contra jornalistas que trabalhavam no Grupo Folha e foram presos sob a acusaçãoaposta betesporteparticiparemaposta betesporteorganizações da luta armada. O caso mais emblemático é o da jornalista Rose Nogueira, que trabalhava como repórter da Folha da Tarde e, ao ser detidaaposta betesportecasa no dia 4aposta betesportenovembroaposta betesporte1969, estavaaposta betesportelicença maternidade 34 dias depoisaposta betesporteum complicado partoaposta betesporteque deu à luz seu primeiro filho.

Ela só descobriria anos depois que a demissão por justa causa, escrita à mão emaposta betesporteficha funcional, tinha sido por “abandonoaposta betesporteemprego”, uma justificativa duplamente falsa, conforme relataria na entrevista concedidaaposta betesportemaioaposta betesporte2022 aos pesquisadores da Unifesp. “Foi uma das maiores dores da minha vida, ver que a Folha me deu abandonoaposta betesporteemprego enquanto eu estava presa! Quem preso vai trabalhar no jornal? Quem, na licença maternidade vai? Eu estava com as duas coisas: licença maternidade e prisão. Eu senti como uma punição. A Folha me machucou muito. Eu já estava sendo punida. A Folha fica a duas quadras do DOPS. Alguém poderia ter ido lá saber se era verdade. Eles me ignoraram e publicaram o que a polícia mandou”, disse ela.

A matéria da Folha da Tarde relacionava Rose e seu ex-marido, Luís Roberto Clauset, como pessoas próximas ao líder da ALN, Carlos Marighella, que havia sido executado pela polícia no mesmo diaaposta betesporteSão Paulo e,aposta betesporteocasiões anteriores, se refugiara na casa da jornalista. Ela não participava da luta armada, mas nunca negou que deu apoio logístico a Marighella. Ficou nove meses presa e, no final, acabou absolvida. Havia, no entanto, algo mais grave. “A Folha falseou a data do nascimento do meu filho. Meu filho nasceuaposta betesporte30aposta betesportesetembroaposta betesporte1969. A Folha escreve (no atoaposta betesportedemissão) que meu filho nasceuaposta betesporte9aposta betesporteagosto (…) para me dar o abandonoaposta betesporteemprego no começoaposta betesportedezembro”, disse.

Reportagem do jornal associou Rose e seu ex-marido ao líder da ALN, Carlos Marighella
Reportagem do jornal associou Rose e seu ex-marido ao líder da ALN, Carlos Marighella(Photo: Reprodução)

Em outros casos, como oaposta betesporteJosé Maria Domingues dos Santos, que também trabalhava na Folha da Tarde e era acusadoaposta betesporteligações com a ALN, preso tambémaposta betesporte04aposta betesportenovembroaposta betesporte1969, o jornal igualmente “antecipou” a data da demissão para o dia anterior para descaracterizar o vínculo com a empresa. A matéria sobre a prisãoaposta betesporteRose e José Maria informava no título que “Contra a subversão, polícia arma jogoaposta betesportepaciência”. A empresa sabia que as prisões tinham motivação política e ainda assim carimbou as demissõesaposta betesportesuas fichas funcionais como “abandono” e “dispensado”, sem maiores explicações.

No período,aposta betesporte05aposta betesportenovembro, foi preso o fotógrafo Carlos Penafiel, que trabalhava na Folha da Tarde, o que não evitou o tratamento policialesco da notícia sobreaposta betesportedetenção: “Terror: prisão preventiva para jornalista implicado”, dizia o título da matéria, que também citava Rose e Luis Roberto como integrantes da ALN próximos a Marighella. Outros dois jornalistas da Agência Folha, Sérgio Gomes da Silva e José Vidal Pola Galé, presosaposta betesporteoutubroaposta betesporte1975 por ligações com o PCB, também amargaram mesesaposta betesporteprisão, e tiveram seus nomes citados numa matériaaposta betesporteduas páginasaposta betesporte23aposta betesportedezembro, com o título “DOPS arrasa bando do nazismo vermelho” onde o jornal divulgava uma listaaposta betesporte“comunistas” com idade, nome dos pais, dataaposta betesportenascimento, estado civil e endereço residencial completo dos suspeitos. Só que ignorava que trabalhavam no jornal ou no grupo.

Preso entre 05aposta betesporteoutubroaposta betesporte1975 e 05aposta betesporteabrilaposta betesporte1976, Sérgio seria demitidoaposta betesportejaneiro também por abandonoaposta betesporteemprego enquanto esteve encarcerado. Solto, tentou reaver o emprego, mas diz ter sofrido assédio moral do então diretor da Agência, o delegado Luiz Carlos Rocha Pinto, e pressão do diretor do departamento pessoal do grupo, Antônio Pison, para que se demitisse. Os pesquisadores também apontam perseguição política da Folha na demissãoaposta betesporteum grande númeroaposta betesportejornalistas que participaram da greveaposta betesportemaioaposta betesporte1979 por melhores salários. O SNI, que monitorou o movimento, informou que dos 128 demitidosaposta betesportevários veículos, 43 eram do Grupo Folha, enquanto o Sindicato dos Jornalistasaposta betesporteSão Paulo sustentou que na verdade teriam sido 64.

FOLHA E O "MILAGRE" - A trajetória do grupo mostra, segundo os pesquisadores, que o apoio à ditadura teria proporcionado expansão e crescimento da Folha já no chamado milagre econômico, entre 1968 e 1973, períodoaposta betesporteque o jornal estaria mergulhado na mais intensa faseaposta betesportecolaboração com os militares. No final desse ciclo a Folha iniciava um tímido distanciamento para,aposta betesportemeados da década 1980, sob o comando do filho do dono, Otavinho, implantar o Projeto Folha, marcado por mudanças internas e uma guinada forte na linha editorial.

Em 1984, o jornal engajou-se na linhaaposta betesportefrente da campanha pelas Diretas-Já, estratégia que lhe rendeu o papelaposta betesporteprotagonista e porta-voz dos anseios pela redemocratização do país. Não foi uma transição sem ruído: no dia 1ºaposta betesportesetembroaposta betesporte1977, um texto considerado ofensivo à imagemaposta betesporteDuqueaposta betesporteCaxias, publicado pelo colunista Lourenço Diaféria forçou Octávio Friasaposta betesporteOliveira, pressionado pelo então chefe da Casa Militar do governo, general Hugo Abreu, a pedir que seu então diretoraposta betesporteredação, o jornalista Cláudio Abramo, se demitisse para serenar uma das poucas crises registradas até então entre o jornal e a ditadura.

O texto, “Herói. Morto. Nós.”, comparava um sargento que morreu ao se jogar num poçoaposta betesporteariranha para salvar um menino a uma estátuaaposta betesporteDuqueaposta betesporteCaxias, na qual populares urinavam, o que foi considerado uma ofensa punível com a prisão do jornalista eaposta betesportefechamento do jornal caso a coluna continuasse sendo publicadaaposta betesportebranco. Friasaposta betesporteOliveira cedeu e, segundo anotam os pesquisadores, “decidiu afastar o chefe da redação Cláudio Abramo e tirar o seu próprio nome do cabeçalho do jornal”. Abramo foi substituído por Boris Casoy, escolhido por seu bom trânsito na área militar à época, conforme admite o próprio jornalista na entrevista aos pesquisadores.

Coluna “Herói.Morto.Nós”aposta betesporteLourenço Diaféria (no canto direito da imagem)
Coluna “Herói.Morto.Nós”aposta betesporteLourenço Diaféria (no canto direito da imagem)(Photo: Reprodução)

O relatório da Unifesp destaca que o jornal chegou ao fim da ditadura com identidade reformulada, o que permitiu que se tornasse o veículo impressoaposta betesportemaior circulação do país, alcançando um recordeaposta betesportetiragem com maisaposta betesporte1,5 milhãoaposta betesporteexemplares. “Não se trata apenasaposta betesporteuma históriaaposta betesportesucesso empresarial. Seu crescimento esteve estrategicamente ligado aos interesses do regime”, diz Ana Paula Goulart. Em 1974, entre o encerramento do governo Médici e início do mandatoaposta betesporteGeisel, Friasaposta betesporteOliveira foi chamado pelo general Golbery do Couto e Silva, eminência parda nos dois governos, para discutir o processoaposta betesportedistensão e, é claro, o crescimento da Folha dianteaposta betesporteseu principal concorrente, o Estadão, algo que interessava ao regime.

Naquele momento o lucro líquido da Folha havia dobradoaposta betesporterelação a 1973, e nos anos seguintes, até 1977, triplicaria, saltando,aposta betesportevalores da época,aposta betesporteCr$ 47.564.807 para Cr$ 210.844.987, conforme balanços acessados pelos pesquisadores. Em valores atuais, pelo IGP-DI, o montante do lucroaposta betesporte1977 equivale a maisaposta betesporteR$ 330 milhões.

O material sobre a Folha com documentos e testemunhos faz parteaposta betesporteum relatório enviado ao Ministério Público Federal e que pretende serviraposta betesportebase para açõesaposta betesportereparação a vítimas da repressão na ditadura militar. “Um dos objetivos era reunir elementos, indícios e provas para que o MP pudesse abrir ações judiciais, inquéritos ou procedimentos administrativos contra essas empresas”, diz Edson Teles, coordenador do projeto pela Unifesp/Caaf.

Resposta publicada pela Folha sobre a trajetória do grupo na ditadura no último domingo, 2aposta betesportejulho
Resposta publicada pela Folha sobre a trajetória do grupo na ditadura no último domingo, 2aposta betesportejulho(Photo: Reprodução)Reprodução

OUTRO LADO - Procurado pela Agência Pública no dia 23aposta betesportejunho, o superintendente do Grupo Folha, Carlos Ponceaposta betesporteLeon não quis dar entrevista. Pediu, atravésaposta betesportesua secretária, que as perguntas fossem enviadas. As respostas chegaram apenas na tardeaposta betesportesexta, 30aposta betesportejunho. Dois dias depois, a Folha publicou “Documento abordará trajetória do Grupo Folha na ditadura”,aposta betesporteduas páginas do caderno “Ilustrada Ilustríssima” do domingo, 2aposta betesportejulho.

A matéria da Folha antecipou a posição do jornalaposta betesporte“resposta” a esta reportagem que ainda não havia sido publicada, procedimento estranho ao próprio manual da Folha e que não explica os questionamentos sobre os principais pontos da pesquisa da Unifesp abordados pela reportagem. Eis a íntegra da nota do Grupo Folha encaminhada à Pública:

“Os temas das perguntas enviadas, que versam sobre um período já distanciado no tempo, deram ensejo a indagações parecidas no passado e hoje são objetoaposta betesporteuma investigaçãoaposta betesportehistoriadores, sob os auspícios do Ministério Público Federal, para a qual a Folha tem colaborado, franqueando aos pesquisadores amplo acesso à documentação remanescente que estejaaposta betesporteseu poder. Foram também objetoaposta betesporteextensa apuração empregada pelo próprio jornal, cujos resultados têm sido publicadosaposta betesportesuas páginas eaposta betesportelivros nas últimas décadas. Embasado numa dessas apurações, por exemplo, o então diretoraposta betesporteRedação, Otavio Frias Filho, respondeuaposta betesporte2018 ao blog do jornalista Fernando Morais sobre a acusaçãoaposta betesporteque carros do jornal teriam sido utilizados pelo aparatoaposta betesporterepressão da ditadura.

Escreveu então: “Em 2011, solicitei que uma pesquisa exaustiva fosse realizada para esclarecer o episódio. Seus resultados constam do livro ‘Folha Explica a Folha’ (2012; págs. 49 a 61), da jornalista Ana Estelaaposta betesporteSousa Pinto.

Não foram encontrados registros que comprovem essa utilização nem nos arquivos da ditadura, nem nos jornais clandestinos mantidos pela luta armada na época. A acusação se baseia no depoimentoaposta betesportedois militantes presos que afirmaram ter visto veículos do jornal no prédio do DOI-Codi (Vila Mariana, SP). Os atentados terroristas contra veículos da Folha, praticados pelo grupo ALN, ocorreram quatro dias depois da morte pela repressão do guerrilheiro Carlos Lamarca no interior da Bahia, sugerindo que o motivo do ataque foi a cobertura, bastante hostil, que a Folha da Tarde fez daquele fato.

A Folha sempre afirmou que, se a cessãoaposta betesporteveículos ocorreu, foiaposta betesporteforma episódica e sem conhecimento nem autorizaçãoaposta betesportesua direção”.

A Folha manterá a mesma disposiçãoaposta betesportepublicar tudo o que saiba sobre essa época.

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