De inimigo da classe trabalhadora a conselheiroroleta virtual com nomesLula, o negócioroleta virtual com nomesDelfim Netto era o poder

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Delfim Netto foi um economista influente desde a ditadura até os dois primeiros mandatosroleta virtual com nomesLula. Foi ministro da Fazenda entre 1967 e 1974, períodoroleta virtual com nomesque o PIB cresceu muito acima da média mundial e que ficou conhecido como milagre econômico. Em favor da verdade histórica, porém, é preciso registrar que esse milagre teve como base um brutal arrocho dos salários,roleta virtual com nomesconsequência da manipulação dos índicesroleta virtual com nomesinflação. 

Na mesma época, a renda no País ficou mais concentrada. Delfim Netto estava no centro das decisões econômicas, e seu modelo, sintetizado numa célebre fraseroleta virtual com nomessua autoria ("é preciso fazer o bolo crescer para depois dividi-lo"), foi duramente criticado por duas lideranças da sociedade civil, que mais tarde governariam o País: Fernando Henrique Cardoso e Lula. Com Delfim, o bolo havia crescido, mas a maioria dos brasileiros ficou fora da festa.

Fundadoroleta virtual com nomes1969 por Fernando Henrique Cardoso e outros intelectuais para abrigar professores e pesquisadores perseguidos pela ditadura, o Centro Brasileiroroleta virtual com nomesAnálise e Planejamento (Cebrap) denunciou,roleta virtual com nomesestudos alentados, o aumento da desigualdade social e econômica do País na décadaroleta virtual com nomes70. 

Em 1973, um centroroleta virtual com nomespesquisas ligada aos sindicatos dos trabalhadores, o Dieese, apurou que, sob Delfim Netto, os índicesroleta virtual com nomesinflação tinham sido manipulados. O estudo do Dieese foi confirmado por outras instituições e serviuroleta virtual com nomesbase para que, a partirroleta virtual com nomes1975, um jovem sindicalista iniciasse uma campanha nacional pela recuperação dos salários. Era Lula, que tinha acabadoroleta virtual com nomesassumir pela primeira vez a presidência do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC paulista.

Delfim Netto, que havia deixado o Ministério da Fazenda um ano antes e tinha sido nomeado embaixador do Brasil na França, era apresentado como o grande algoz da classe trabalhadora. Lula, no entanto, nunca deixouroleta virtual com nomesdialogar com ele. 

Na épocaroleta virtual com nomesque se discutia a abertura política,roleta virtual com nomes1978, fez parteroleta virtual com nomesum seleto grupo criado pelo então ministro da Justiça, Petrônio Portella, juntamente com Cláudio Lembo e o presidente da Fiesp. Uma notinharoleta virtual com nomesjornal deu contaroleta virtual com nomesque Lula teve uma reunião na casaroleta virtual com nomesDelfim Nettoroleta virtual com nomesSão Paulo, com esse grupo. 

A nota, vazada por fontes ligadas à ditadura, tinha o objetivoroleta virtual com nomesqueimar o líder metalúrgico, que ameaçou abandonar as discussões. Alguns meses depois, mesmo sob ameaça, Lula comandaria a maior greve dos metalúrgicos no Brasil. Acabaria preso e, sob holofotes da mídia mundial, fundaria o Partido dos Trabalhadores, um marco na história do Brasil.

Delfim Netto, portanto, como antípoda da classe trabalhadora, foi fundamental para a ascensãoroleta virtual com nomesLula e Fernando Henrique Cardoso, indiscutivelmente duas liderançasroleta virtual com nomesum país que se redemocratizava. 

Delfim era tão identificado com o regime militar que,roleta virtual com nomes1969, ao assinar o Ato Institucional número 5, que, entre outras aberrações, suspendeu as garantias do habeas corpus, declarou ao ditador Costa e Silva,roleta virtual com nomessessão gravada: 

“Eu estou plenamenteroleta virtual com nomesacordo com a proposição que está sendo analisada no Conselho. E, se Vossa Excelência me permitisse, direi mesmo que creio que ela não é suficiente."

Delfim Netto voltaria ao centro da política econômica nos últimos seis anos da ditadura, primeiramente como ministro da Agricultura e, depois, do Planejamento. E, desta vez, promoveu um arrocho assumido dos salários, ao estabelecer que o reajuste anual dos vencimentos dos trabalhadores seriaroleta virtual com nomes90% da inflação. 

Esse arrocho entrouroleta virtual com nomesvigor por meioroleta virtual com nomesum decreto-lei, excrescência da ditadura. Em 1979, Delfim Netto também promoveu uma maxidesvalorização da moeda da época. Do dia para a noite, o cruzeiro passou a valer 30% menosroleta virtual com nomesrelação ao dólar. Muita gente perdeu dinheiro, mas outros ganharam.

Em 1991, quando cobria economia para o jornal O Globoroleta virtual com nomesSão Paulo, fiz reportagem sobre os restaurantes e baresroleta virtual com nomesSão Paulo onde executivos se encontravam para discutir negócios. Um desses estabelecimentos era o Piano Bar, onde mulher desacompanhada não entrava. 

Delfim frequentava o estabelecimento, e ouvi do gerente que um garçom havia melhoradoroleta virtual com nomesvida com uma dica do então ministro. Segundo esse relato, Delfim perguntou ao funcionário: "Você tem poupança ou outro tiporoleta virtual com nomeseconomia?" O garçom respondeu que sim. "Então, venda tudo e compre dólar". O garçom fez isso, ganhou muito dinheiro, e deixou o Piano Bar. 

Procurado na época, Delfim não confirmou a história - até porque era crime. Mas os colegas desse garçom garantiram que houve o fato, e muitos diziam até sentir uma pontaroleta virtual com nomesinveja. 

Com as voltas que o mundo dá, o ex-ministro, que colecionava as charges negativas que os jornais publicaram, inclusive uma como sapo predadorroleta virtual com nomesinsetos,roleta virtual com nomes1986 se elegeu deputado constituinte, com o slogan "Delfim Netto, eu era feliz e não sabia". Em seu escritório, algumas dessas charges foram emolduradas. 

Uma das charges,roleta virtual com nomes1980, mostrava Delfim como um moleque fazendo rolar a moedaroleta virtual com nomes1 cruzeiro morro abaixo. "Lá vai o Brasil descendo a ladeira", escreveu Ziraldo, autor da charge. Outra charge apresentava Delfim como marcaroleta virtual com nomesfermento: "Rende mais se você comer sozinho".

Em 1988, vinte anos depoisroleta virtual com nomesaprovar o AI-5, ele assinou a Carta Magna considerada a mais democrática da história do Brasil. 

Com essas mesmas voltas que o mundo dá, tornou-se conselheiroroleta virtual com nomesLula durante seus dois primeiros mandatos como presidente e,roleta virtual com nomes2022, uma casa que foiroleta virtual com nomessua propriedade, no bairro do Pacaembu,roleta virtual com nomesSão Paulo, foi alugada para sederoleta virtual com nomesseu comitê eleitoral.

Delfim Netto foi herói ou vilão? Depende do pontoroleta virtual com nomesvista. 

Com certeza, Delfim Netto, que, mesmo tendo subido na escala social, cortava o cabelo numa barbearia modesta da rua Machadoroleta virtual com nomesAssis, no bairro da Aclimação,roleta virtual com nomesSão Paulo, onde morou quando criança, foi uma personalidade marcanteroleta virtual com nomessua geração. Pode-se gostar ou não dele, rejeitar ou aprovarroleta virtual com nomestrajetória, mas ninguém hároleta virtual com nomesnegar que, na ditadura ou na democracia, ele escreveu algumas páginas da história.