A época dos efeitos colaterais
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Do A Terra É RedondaA barbárie das guerras está declarada, naturalmente, no conceito jurídico que o direito internacional empresta aos “danos colaterais”. Estes, segundo o Direito internacional, são razoáveis porque a guerra — como solução dos conflitos entre Estados e entre nações — é aceitávelzebet nigeriatoda azebet nigeriadimensão dramática. Ela integra, nazebet nigeriadesumanidade, a aceitabilidade da mortezebet nigeriajovens, crianças, idosos, mulheres, civis não envolvidoszebet nigeriaqualquer ação militar, cujos corpos inertes, depoiszebet nigeriaum bombardeio, passam a ser “danos colaterais”.
Quando assim qualificados e assim aceitos, os mortos perdem a voz e a importância e a ação militar se torna legal e legítima, no contexto bélico onde os “danos” se inscrevem, independentemente do sangue derramado, dos corpos despedaçados e das causas que estãozebet nigeriajogo. As guerras são o infernozebet nigeriacompota, servidas como sobremesa da política que faliu e como prêmio para os donos dos oligopólios das fábricaszebet nigeriaarmamentos.
As regras sobre os limites das ações militares numa guerra normalmente não são seguidas pelos exércitoszebet nigeriaconfronto, porque os interesses econômicos diretos, as pretensõeszebet nigeriadomínio territorial e o funcionamento da indústria armamentista têm um poder normativo maior que a Carta das Nações Unidas. Logo, quando os países estãozebet nigeriaguerra, as guerras geram suas próprias normas, não só pela força militar utilizada — cada vez mais controlada à distância — mas também pelazebet nigeriacapacidadezebet nigeriaorganizar as informações para formar uma opinião pública dócil aos seus propósitos.
Esse Estado estará mais próximo ou mais distante das normas superiores que regem o Estadozebet nigeriaquestão: Donald Trump não respondeu pelo crime mais grave, cometido até agora, contra a Constituição americana, que é a tentativazebet nigeriaum golpezebet nigeriaEstado; Jair Bolsonaro não respondeu — até agora — não só pela tentativazebet nigeriagolpe no 8zebet nigeriajaneiro, mas também pelas 300 mil mortes que azebet nigeriapolítica negacionista e anticientífica, defendida pessoal e diretamente por ele, causou durante a pandemia.
O principal instrumentozebet nigeriadefesa dos comandantes que cometem crimeszebet nigeriaguerra na modernidade liberal-democrática é o conceitozebet nigeria“danos colaterais”, ou seja, conceito sobre os “danos” causados a pessoas — grupos ou partes — que não são alvos militares, mas que sofrem os efeitos da guerra no limite impreciso entre uma ação militar contra um alvo legítimo — físico ou político — e o espaçozebet nigeriasalvaguarda civil, etária ou física, que não é por definição um alvo militar. Embora seja regrado no direito internacional humanitário, o “dano colateral” é uma “desculpa” jurídico-política, tantozebet nigeriaorganizações paramilitares que cometem atos terroristas contra os inimigos dazebet nigeriacausa, como dos comandantes das guerras, definidas pelo Estado nacional.
Estes definem a proporcionalidade das suas ações seguindo as urgências dazebet nigeriadefesa ou dazebet nigeriacausa. Qual a diferença — pergunta o bom senso comum — entre as mulheres e homens, civis, crianças, velhos, doentes, jovens que morreram nos ataques terroristas do Hamas e o mesmo contingente humano que sofreu a violência bélica da respostazebet nigeriaIsrael, naquilo que a grande mídia chamazebet nigeria“guerra contra o Hamas”? A diferença é a quantidadezebet nigeriamortos, seja por “danos colaterais”, seja pela desproporção das decisões pensadas politicamente para o melhor desfecho da luta militar.
Bem pensado, o conceitozebet nigeria“danos colaterais” é muito mais uma categoria da política, forjada no relacionamento entre Estados para legitimar as guerras e menos uma categoria jurídica, forjada no âmbito da teoria do direito, porque é impossível compreender azebet nigeriaeficácia material fora das relaçõeszebet nigeriaforça política e poder militar entre os Estados soberanos, cujos conflitos graves são resolvidos pela força, não pelo direito, depois que entramzebet nigeriaguerra.
No Rio Grande Sul, tivemos um efeito colateral bastante significativo, cuja conjugação com a pandemia alterou a polarização política que nos últimos 50 anos se dava entre conservadores democráticos e progressistas, ou entre forças políticas democráticaszebet nigeriacentro-direita e forçaszebet nigeriacentro-esquerda. Esta mudança colocou no coração político do estado uma polarização que não enfrentamos nem na época do Regime Militar: levou para a decisão final a disputa entre um blocozebet nigeriaextrema direita, negacionistazebet nigeriatermos climáticos e sanitários (originário do bolsonarismo militarista) e todo um campo político (com uma identidadezebet nigeriacentro-esquerda) que já está se reorganizando para os embates do segundo turno.
A cidade não precisazebet nigeriapolíticos, a cidade precisazebet nigeriatécnicos com um síndico, a cidade sofreu o dobro na catástrofe climática, mas ninguém foi responsável, eis a ladainha que preparou este segundo turno, como um efeito colateral humilhante para a cidadezebet nigeriaporto alegre, que já foi capital mundial da democracia, mas que ainda pode se reerguer pelo voto popular no dia 27zebet nigeriaoutubro.