Por Brunopromo code vai de betFreitas Moura (Agência Brasil) - A população brasileira está tendo mais orgulhopromo code vai de betse reconhecer mais “escurecida”. Essa é uma constataçãopromo code vai de betespecialistas ouvidos pela Agência Brasil após os mais recentes resultados do Censo 2022, que revelaram que 55,5% da população se identifica como preta ou parda.
O levantamento divulgado na sexta-feira (22) pelo Instituto Brasileiropromo code vai de betGeografia e Estatística (IBGE) apontou que os pardos são 45,3% da população e superaram a quantidadepromo code vai de betbrancos pela primeira vez desde 1872, quando foi realizado o primeiro recenseamento do país. Além disso, a proporçãopromo code vai de betpretos mais que dobrou entre 1991 e 2022, alcançando 10,2% da população.
O IBGE explica que a mudança no perfil étnico-racial do país não reflete apenas a questão demográfica, ou seja, nascimento ou mortepromo code vai de betpessoas, mas também outros fenômenos sociais.
“Essas variações têm a ver com a percepção. Cor ou raça é uma percepção que as pessoas têmpromo code vai de betsi mesmas. Tem a ver com contexto socioeconômicos, contextos das relações interraciais”, disse o pesquisador Leonardo Athias.
A pesquisadora do Institutopromo code vai de betPesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Tatiana Dias Silva converge com a explicaçãopromo code vai de betque não é apenas a questão demográfica que causou o aumentopromo code vai de betnegros na população.
“Tem alguns estudos da composiçãopromo code vai de betcomponentes demográficos para identificar se tem mais taxapromo code vai de betnatalidade e fecundidade da comunidade negra, e não conseguem justificar demograficamente essa mudança”, explica.
Debates
Wania Sant’Anna cita dois grandes fatores que explicam, na visão dela, o reconhecimento das pessoas com a negritude. Um são os debates públicos mais abertos sobre desigualdades raciais, racismo e preconceito.
A integrante da Coalizão Negra por Direitos ressalta que esses debates públicos não existiam com a mesma força décadas atrás.
Visão compartilhada com Tatiana, do Ipea. “A gente está tendo ao longo dessas últimas duas décadas muito mais discussão sobre a questão racial. Isso deixapromo code vai de betser encarado como um tabu, e as pessoas falam sobre isso e acabam também se reconhecendo mais a partir das suas origens como negras”, diz a pesquisadora cedida ao Ministério da Igualdade Racial (MIR).
Cor e raça
O IBGE explica que o Censo 2022 colhe as respostas com base na autodeclaração dos indivíduos. Além disso, utiliza o conceitopromo code vai de betraça como categoria socialmente construída na interação social e não como conceito biológico. As classificações do instituto são branca, preta, parda, amarela (origem asiática) e indígena.
Vozes negras
A cofundadora e conselheira do Centropromo code vai de betEstudos das Relaçõespromo code vai de betTrabalho e Desigualdades (Ceert) Cida Bento interpreta os resultados do Censo 2022 com um encontro do Brasil.
“O crescimentopromo code vai de betpretos e pardos tem a ver com o quanto o Brasil vai se encontrando consigo, como uma nação onde a presença negra, não branca, é grandepromo code vai de bettermospromo code vai de betfenótipo [características genéticas e proporcionadas pelo ambiente no qual se vive],promo code vai de betcultura,promo code vai de betreligiosidade”.
Cida Bento considera ainda que houve uma ressignificação do que representa ser negro.
“Antes era [um significado] negativo e hoje vem associado a uma cultura plural, diversa, que acolhe outras. Agora é possível se reconhecer negro como uma coisa boa. A discussão disso tem vindo das vozes negras sacudindo a sociedade para olhar para aquilo que o país é”.
Outra ressignificação, segundo Cida, é entender que o branco contou com privilégios da colonização e escravidão e, por isso, ocupa atualmente os postospromo code vai de betmais destaques, melhores remunerações e com mais poderes.
“É um lugar não mais visto como mérito, mas como resultantepromo code vai de betuma históriapromo code vai de betatos anti-humanitários”, diz.
Estatística como evidência
Os números do Censo 2022 são vistos por especialistas e ativistas como uma ferramenta estatística e também uma evidência para a busca por mais representatividade e políticas públicas. Wania Sant’Anna dá como exemplo a campanhapromo code vai de betmovimentos negros pela indicaçãopromo code vai de betuma mulher negra para o Supremo Tribunal Federal (STF).
“É como se fossem 55% da população pedindo essa vaga”, diz, fazendo referência à proporçãopromo code vai de betpretos e pardos no país.
Além disso, ela acredita que políticas afirmativas bem avaliadas, como cotas para negros nas universidades, sejam estendidas para outros ambientespromo code vai de betrepresentação, como ministérios e parlamentos.
“Temos que olhar para as representatividades que estão aí e questioná-las”, defende.
Outra utilidade dos dados na visãopromo code vai de betespecialistas é analisar recortes das informações demográficas com indicadorespromo code vai de bettrabalho, educação e expectativapromo code vai de betvida, por exemplo. À frente da Diretoriapromo code vai de betAvaliação, Monitoramento e Gestão da Informação do MIR, Tatiana Dias Silva defende o usopromo code vai de betinformações qualificadas, produzidas por vários órgãos, como embasamento para discussões e elaboraçãopromo code vai de betpolíticas públicas sobre desigualdades raciais. O MIR, por exemplo, mantém o HUB da Igualdade Racial.
Cida Bento chama atenção para um cuidado específico que deve haver na horapromo code vai de betse executarem políticaspromo code vai de betações afirmativas. Ela lembra que câmaraspromo code vai de betverificaçãopromo code vai de betcotaspromo code vai de betuniversidades já mostraram casospromo code vai de betpessoas brancas se classificando como pardas para poderem usufruirpromo code vai de betações afirmativas.
“É um assunto que precisa estar semprepromo code vai de betdebate. As políticas públicas focadaspromo code vai de betnegros, indígenas e quilombolas têm que ser dirigidas a esses segmentos a sociedade”, diz.
Mão dupla
Tatiana Dias Silva, do Ipea e do MIR, espera que o país e a sociedade brasileira vivenciem uma espéciepromo code vai de betcírculo virtuoso envolvendo debates sobre questões raciais, reconhecimento e políticas públicas.
Ela faz uma primeira relação ligando a ampliação da discussão nas últimas duas décadas, a criaçãopromo code vai de betórgãos como a Secretariapromo code vai de betPolíticaspromo code vai de betPromoção da Igualdade Racial (Seppir) pelo governo federal,promo code vai de bet2023, e o MIR,promo code vai de bet2023, e o autorreconhecimento da população negra nos questionáriospromo code vai de betrecenseamento.
Para ela, um próximo passo necessário é que haja uma mão dupla, com ampliação e aperfeiçoamentopromo code vai de betpolíticas públicas e ações da sociedade para enfrentamento das desigualdades.
“Para a construçãopromo code vai de betuma sociedade com mais justiça racial, sem tantos abismos entre os grupos por contapromo code vai de betsua cor ou raça. O enfrentamento ao racismo como um valor cada vez mais importante na nossa sociedade. É um caminho que nos fortalece como sociedade, como país, como democracia”, deseja.