Candidaturas afro-religiosas são reação à violência, diz estudo
Das 463.386 candidaturas registradas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nas Eleições Municipaisusuario bloqueado onebet2024, 8.731 possuem um viés religioso
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Agência Brasil - Das 463.386 candidaturas registradas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nas Eleições Municipaisusuario bloqueado onebet2024, 8.731 possuem um viés religioso. Dessas, apenas 284 (3,3%) estão associadas a crençasusuario bloqueado onebetmatriz africana. Esse número é resultadousuario bloqueado onebetum estudo realizado pelo grupousuario bloqueado onebetpesquisa Ginga, da Universidade Federal Fluminense (UFF), com base nos dados do TSE, nos perfisusuario bloqueado onebetredes sociais dos candidatos eusuario bloqueado onebetsitesusuario bloqueado onebetnotícias.“Lemos um levantamento feito a partir do bancousuario bloqueado onebetdados do Tribunal Superior Eleitoral sobre a identidade religiosa dos candidato e nos chamou a atenção que não tinha nenhuma informação sobre candidaturasusuario bloqueado onebetmatriz afro-brasileira”, explica a coordenadora do Ginga e professora do Departamentousuario bloqueado onebetAntropologia da UFF, Ana Paula Mendes Miranda. “Refizemos a análise, mas observamos também as fotos das pessoas candidatas disponíveis no portal do TSE e o perfil nas redes sociais dessas pessoas. Com isso, conseguimos localizar 284 candidaturasusuario bloqueado onebetreligiososusuario bloqueado onebetmatriz africanausuario bloqueado onebettodo o Brasil, 21 a mais que o levantamento do TSE”.
Para os pesquisadores, o crescimento do número dessas candidaturas tem relação direta ao aumento da violência enfrentada pelos terreiros. “Quando analisamos o perfil desses candidatos, percebemos que estão associados à violência que os terreiros têm sofrido. As suas candidaturas são uma reação a isso, no sentidousuario bloqueado onebetlutar por direitos”, afirma a pesquisadora, que explica que, diferentemente da grande maioria dos candidatos católicos e evangélicos, esses postulantes não têmusuario bloqueado onebetsuas plataformas pautas conservadoras sobre aborto ou gênero, por exemplo. “Esse não é o perfil dos candidatos afro-religiosos. O perfil desses candidatos, na maioria, éusuario bloqueado onebetuma agendausuario bloqueado onebetreivindicaçãousuario bloqueado onebetreconhecimentousuario bloqueado onebetdireitos já previstos legalmente”.
Segundo Miranda, também é importante considerar que os religiososusuario bloqueado onebetmatriz africana são, no geral, muito resistentes à vida política. “Muitos não querem fazer parte, acham que a religião tem que continuar apenas como uma tradição, separada da vida pública, mas a gravidade da violência fez com vários assumissem esse desafio. É um cenário que, para mim, tem muito a ver com o agravamento dos conflitos religiosos no Brasil”. Conforme informações do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), o país registrou 2.124 violaçõesusuario bloqueado onebetdireitos humanos relacionadas à intolerância religiosa ao longousuario bloqueado onebet2023, 80% a mais queusuario bloqueado onebet2022 (1.184), sendo as religiõesusuario bloqueado onebetmatriz africana as mais afetadas.
Características
Quanto ao aspecto visual, o estudo traz que a roupa tradicional usada nos terreiros faz parte da identidade dos religiosos, sendo, também, um demarcadorusuario bloqueado onebethierarquia. “Quem é da tradição, quando observa o torsousuario bloqueado onebetuma pessoa, consegue identificar quantos anosusuario bloqueado onebetsanto ela tem, qual o orixá dela, consegue ler a pessoa. A roupa é definidora da identidade do sujeito, não é usada apenas para pedir votos. A pessoa usa aquela roupa no dia a dia dela. Muitos, inclusive, raramente usam roupas civis, ficam com aquela vestimenta o tempo todo”.
No estado do Riousuario bloqueado onebetJaneiro, onde a pesquisa teve maior profundidade, foram identificadas 395 candidaturas religiosas, sendo 41 (10,4%) associadas a crençasusuario bloqueado onebetmatriz africana. Além da capital, as cidadesusuario bloqueado onebetNiterói, Duqueusuario bloqueado onebetCaxias e São Joãousuario bloqueado onebetMeriti foram os municípios que apresentaram mais concorrentesusuario bloqueado onebetterreiro. Do total, evangélicos somam 88,4% e os católicos 1,3% no estado.
Ainda no Riousuario bloqueado onebetJaneiro, o estudo avaliou a identidade racial eusuario bloqueado onebetgênero das candidaturas. A maioria dos afro-religiosos (83%) e dos evangélicos (70,5%) se autodeclaram negros (pretos ou pardos), enquanto 60% das candidaturas católicas se identificam como brancas. Já quanto a identidadeusuario bloqueado onebetgênero, a pesquisa destacou a predominância das candidaturas femininas entre o segmentousuario bloqueado onebetmatriz africana, representando 63,4% do total. Entre os cristãos, os homens correspondiam a 71,1% dos candidatos evangélicos e às cinco candidaturas católicas identificadas.
“Ao contrário da religião católica, liderada totalmente por homens, as religiõesusuario bloqueado onebetmatriz africana têm essa característicausuario bloqueado onebetter mulheres na liderança da religião. Isso tem a ver com a maneira como o catolicismo pensa ausuario bloqueado onebetrepresentação política e religiosa”, destaca a pesquisadorausuario bloqueado onebetentrevista à Agência Brasil. “Apenas os padres atuam como lideranças religiosas; as freiras têm um papel muito inferior na hierarquia religiosa”
Com isso, a identidade está muito além do título religioso usado como apresentação ou identificação nas campanhas eleitorais. Mas, nas últimas eleições, houve o crescimentousuario bloqueado onebetuma categoria genérica identificada como “cristã”, que tem cada vez mais garantido candidaturas. “São aqueles candidatos geralmente conservadores,usuario bloqueado onebetdireita, que acionam essa identidade genérica cristã para poder ter acesso tanto aos católicos quanto aos evangélicos”, explica Cunha. “Esses candidatos se apresentam como cristãos, e muito deles têm uma vinculação específica, seja católica ou evangélica, mas eles não apresentam essa especificidade e querem ser identificados com a fé cristãusuario bloqueado onebetforma genérica. Esse é um fenômeno recente que não identificamos a partir do nomeusuario bloqueado onebeturna”.
O principal efeito que se busca com essas candidaturas, afirma a pesquisadora do ISER à Agência Brasil, é “trabalhar a emoção e o elemento da fé presentes na cultura brasileira, dependente ou independentementeusuario bloqueado onebetuma vinculação religiosa mais estreita com algum grupo religioso”. Para ela, os candidatos que acionam a féusuario bloqueado onebetmodo genérico buscam construir uma relação com a populaçãousuario bloqueado onebetforma mais ampla. Essa situação se faz presente especialmenteusuario bloqueado onebetcidadesusuario bloqueado onebetpequeno porte e no interior dos estados,usuario bloqueado onebetque a religião ocupa boa parte do cotidiano da população.
“Há poucas oportunidadesusuario bloqueado onebetexpressãousuario bloqueado onebetlazer eusuario bloqueado onebetcultura nesses locais, então, a religião acaba ocupando esse lugar. A pessoa dedica seu tempo ao trabalho e aos estudos e, quando ela não está nesse espaço, está participandousuario bloqueado onebetatividades religiosas”, observa. “Isso é histórico. No mundo cristão que predomina no Brasil, a ocupação do tempo com atividades religiosas no interior se dá muito mais do que nas cidades. Essa situação acaba também tendo maior influência na visãousuario bloqueado onebetmundo dessas pessoas, incluindo as questões políticas”.
Apesar da relação mais íntima, Cunha ressalta que essa não é uma questão exclusivamente determinante na hora do voto: “Nem sempre a pessoa religiosa escolhe politicamente aquilo que está orientado pelo seu grupo religioso”, diz. Um exemplo comentado foram as Eleições Geraisusuario bloqueado onebet2022,usuario bloqueado onebetque, mesmo com toda mobilização religiosa a favor do ex-presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição na época, ele não saiu vitorioso.
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