Colunista dobetsul ganhe 20, foi subeditorbetsul ganhe 20Veja e repórter do Jornal Nacional, entre outros veículos. Ganhou os prêmios Esso (equipe, 1992), Vladimir Herzog e Jornalismo Social (revista Imprensa). E-mail: joaquim@brasil247.com.br
Felipe Neto e a ousadia da ignorância: influenciador deveria se informar melhor antesbetsul ganhe 20atacar quem desconfia da facada
Descontando a agressividade, o que sobra da postagem chapa-branca é um livro com erros factuais, da Companhia das Letras, a mesma editorabetsul ganhe 20Felipe Neto
ro dispositivo, além betsul ganhe 20 uma conexão à Internet e um cartão bancário ou betsul ganhe 20 débito. Para
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Felipe Neto chamabetsul ganhe 20delírio ou burrice questionar a versão oficial para o eventobetsul ganhe 20Juizbetsul ganhe 20Fora que definiu a eleiçãobetsul ganhe 202018. Tirando o uso desses substantivos desqualificadores, própriobetsul ganhe 20quem é arrogante, sobra no postbetsul ganhe 20Felipe Neto um livrobetsul ganhe 20Consuelo Dieguez, “O ovo da serpente - Nova direita e bolsonarismo: seus bastidores, personagens e chegada ao poder”.
“‘O Ovo da Serpente’ traz detalhes da facada, incluindo entrevista com os médicos. O monstro ficou com um talho imenso no bucho. Apenas parem com essa estupidez”, afirmou, na rede X.
O livrobetsul ganhe 20Consuelo Dieguez foi publicadobetsul ganhe 202022 pela mesma editora que agora lança uma obrabetsul ganhe 20Felipe Neto, a Companhia das Letras, mas não creio que essa referênciabetsul ganhe 20seu post seja uma açãobetsul ganhe 20marketing para atender aos interesses dos novos editores. Seria muito vulgar.
E seria também muito arriscado para a Companhia das Letras, porque expõe a autora, por conta da inconsistência factualbetsul ganhe 20seu livro, que já trateibetsul ganhe 20artigo nesta coluna,betsul ganhe 202022.
“Por volta das 16 horas, o cirurgião vascular Paulo Gonçalves Júnior foi chamado para ajudar na cirurgia. Ele suturou a veia mesentérica e uma tributária, que haviam sido atingidas, o que provocara uma hemorragia abundante”, escreveu.
Paulo Gonçalves Júnior não foi chamado para participar da cirurgia, ele se apresentou voluntariamente, conforme me informou a Santa Casa,betsul ganhe 202021, quando realizei o documentário “Bolsonaro e Adélio - Uma fakeada no coração do Brasil”.
A relaçãobetsul ganhe 20Paulo Gonçalves com Bolsonaro não se limitava ao campo profissional. Duas horas antes, ele estava com a camiseta amarela da campanha, no almoço que empresários como ele ofereceram ao candidato.
Quando Bolsonaro deu entrada no hospital, Paulo Gonçalves foi para lá, embora não fosse seu plantão. Eleito presidente, Bolsonaro homenageou o médico com uma postagem na rede social,betsul ganhe 20que escreveu:
“Momentos depoisbetsul ganhe 20dar uma facada no então candidato Jair Bolsonaro, Adélio Bispobetsul ganhe 20Oliveira foi conduzido ao primeiro andarbetsul ganhe 20um prédio comercialbetsul ganhe 20Juizbetsul ganhe 20Fora (MG). Lá, policiais federais tirarambetsul ganhe 20camisa e começaram a espancá-lo, numa tentativabetsul ganhe 20descobrir à força a motivação do crime”, narra.
“Enquanto apanhava naquele dia 6betsul ganhe 20setembrobetsul ganhe 202018, Adélio manteve-se calmo, com o olhar perdido; não chorou nem gritou, limitando-se a dizer que não concordava com as ideiasbetsul ganhe 20Bolsonaro. A surra só parou quando chegou ao local o tenente-coronel Marco Antônio Rodriguesbetsul ganhe 20Oliveira, então comandante do 2º Batalhãobetsul ganhe 20Polícia Militarbetsul ganhe 20Minas Gerais”, acrescenta.
Segue o relatobetsul ganhe 20Consuelo Dieguez sobre o evento:
Momentos depoisbetsul ganhe 20dar uma facada no então candidato Jair Bolsonaro, Adélio Bispobetsul ganhe 20Oliveira foi conduzido ao primeiro andarbetsul ganhe 20um prédio comercialbetsul ganhe 20Juizbetsul ganhe 20Fora (MG). Lá, policiais federais tirarambetsul ganhe 20camisa e começaram a espancá-lo, numa tentativabetsul ganhe 20descobrir à força a motivação do crime.Enquanto apanhava naquele dia 6betsul ganhe 20setembrobetsul ganhe 202018, Adélio manteve-se calmo, com o olhar perdido; não chorou nem gritou, limitando-se a dizer que não concordava com as ideiasbetsul ganhe 20Bolsonaro.
"Conversa com a PMbetsul ganhe 20JF. Talvez ajude”, ela sugeriu. Consuelo afirmou ainda que interpretou minha pergunta como “uma tentativabetsul ganhe 20colocarbetsul ganhe 20dúvida o depoimento do livro”.
Disse que a pergunta tinha sido objetiva - se havia evidência oficial do relatobetsul ganhe 20espancamento. Explicarei adiante a importânciabetsul ganhe 20uma prova nesse sentido.
À pergunta dela se havia uma tentativabetsul ganhe 20colocarbetsul ganhe 20dúvida o depoimento do livro, a resposta é sim. Não é por birra ou ofensa. Mas porque os fatos vão na direção contrária.
Adélio foi levado para uma audiênciabetsul ganhe 20custódia no dia seguinte ao dabetsul ganhe 20prisão e a juíza perguntou se ele havia sido agredido.
Adélio contou que foi levado para um prédio, onde permaneceu protegido da multidão e foi informalmente interrogado.
A juíza insistiu na pergunta se houve agressãobetsul ganhe 20PMs. Ele respondeu que levou um socobetsul ganhe 20um policial quando descia a escada e era levado para o camburão, e relatou que um carcereiro, mais tarde, pisoubetsul ganhe 20seu pé descalço na cadeia.
Nada parecido, portanto, com a cena descrita no livro.
A audiênciabetsul ganhe 20custódia é imposta por lei, entre outras razões para dar ao preso a oportunidadebetsul ganhe 20dizer ao magistrado se sofreu maus tratos ou outros abusos.
Se Adélio relatou o soco que recebeu quando descia a escada, por que não falaria do espancamento generalizado, que pode ser classificado como tortura?
O vídeo da audiênciabetsul ganhe 20custódia está disponível no YouTube.
O examebetsul ganhe 20corpobetsul ganhe 20delito, a que Adélio se submeteu no dia da prisão, também não dá conta do espancamento generalizado.
Há pelo menos um vídeo que registra o momentobetsul ganhe 20que Adélio conversa no segundo andar do prédio com um policial federal. Não há nenhum movimento hostil da parte deste. Adélio está sentado no chão e o policialbetsul ganhe 20pé.
O autor do vídeo é Cleines Pintobetsul ganhe 20Oliveira, na época cabo da Polícia Militar e candidato a deputado estadualbetsul ganhe 20Minas Gerais pelo PSL.
A questão do espancamento é importante porque, sendo fato, derrubaria a narrativabetsul ganhe 20que Adélio foi protegido por policiais e seguranças.
E efetivamente foi, como mostram fotos e vídeos do dia, o que, é claro, causou estranheza entre os bolsonaristas: como os policiais protegeram aquele que teria tentado matar o ídolo deles?
Consuelo também diz que os médicos tiveram acesso a um vídeo que mostraria um PM desviando a trajetória da faca e, com isso, ele teria evitado que a lâmina atingisse um ponto fatal no corpobetsul ganhe 20Bolsonaro.
A narrativa reproduz reportagensbetsul ganhe 20publicações bolsonaristas, como o Jornal da Cidade. Mas, a rigor, não há nenhum vídeo que mostre essa ação.
O segurança promovido a herói no livrobetsul ganhe 20Consuelo é o soldado Erlon Rossignoli, que não morabetsul ganhe 20Juizbetsul ganhe 20Fora, masbetsul ganhe 20um município a quarenta quilômetrosbetsul ganhe 20distância.
Nunca ficou claro o que Erlon fazia na cidade naquela sexta-feira. Se era um bolsonarista fanático e se apresentou como voluntário da segurança, por que não havia embetsul ganhe 20rede social postagens a favor do “mito"?
Consuelo escreve no livro que Erlon não dá entrevista. É fato. A mim, ele não quis falar. Mas seria muito importante conversar com ele. Por que a PF não tomou seu depoimento?
Uma pesquisa que fiz na rede social mostrou que Erlon ascendeu depois do eventobetsul ganhe 20Juizbetsul ganhe 20Fora. Postagens o apresentambetsul ganhe 20Cancun, México, fazendo passeiosbetsul ganhe 20paraquedas e na nevebetsul ganhe 20Santiago, alémbetsul ganhe 20baladas no Riobetsul ganhe 20Janeiro.
Não são passeios comuns a quem tem salário como obetsul ganhe 20PMbetsul ganhe 20Minas Gerais,betsul ganhe 20R$ 4 mil brutos.
Erlon tentou me processar por conta da reportagem que fiz com o relato da vida que passou a ostentar na rede social, mas a Justiçabetsul ganhe 20Juizbetsul ganhe 20Fora consideroubetsul ganhe 20representação improcedente.
No dia do eventobetsul ganhe 20Juizbetsul ganhe 20Fora, um fotógrafo profissional fez maisbetsul ganhe 20mil fotos.
Vi a sequência desde a concentração no Parque Halfeld até o cruzamento do calçadão com o Batistabetsul ganhe 20Oliveira, onde ocorreu a facada ou suposta facada.
Erlon só aparece nas imagens no terço final da caminhada. Estábetsul ganhe 20camiseta regata com estampabetsul ganhe 20blocobetsul ganhe 20Carnaval, e ao ladobetsul ganhe 20Adélio.
Os dois não conversam, mas parecem interagir com Felipe Felix, agente da Polícia Federal e principal segurançabetsul ganhe 20Bolsonaro – mais tarde, no governo Bolsonaro, ele foi para a Abin, juntamente com o organizador do esquemabetsul ganhe 20segurançabetsul ganhe 20Juizbetsul ganhe 20Fora, Marcelo Bormevet.
Numa sequênciabetsul ganhe 20fotos, Felix se aproxima dos dois - ebetsul ganhe 20um rapaz não identificado com cabelos cortadosbetsul ganhe 20estilo moderno. A conversa ocorreu depois da primeira tentativabetsul ganhe 20Adéliobetsul ganhe 20acertar Bolsonaro.
Nessa tentativa, Adélio fez tanto esforço que, ao se apoiar no ombrobetsul ganhe 20um homembetsul ganhe 20boné, que era segurança voluntário, o derrubou. Bolsonaro fez, então, sinalbetsul ganhe 20calma com a mão, e desceu do ombrobetsul ganhe 20um apoiador. Permaneceu no chão por alguns minutos. Subiubetsul ganhe 20outro apoiador, e Felix foi conversar com Erlon, com Adélio e o rapazbetsul ganhe 20corte moderno ao lado.
Cercabetsul ganhe 20100 metros adiante, ocorreu o golpe,betsul ganhe 20que Bolsonaro se contorceu e foi levado para o chãobetsul ganhe 20uma lanchonete. Ele ficou ali até a chegada da SUV preta com Carlos Bolsonaro. O carro foi para a Santa Casa, onde médicos o operaram.
Não afirmo se houve ou não a facada, mas Erlon não é, efetivamente, o heróibetsul ganhe 20Bolsonaro, talvez o sejabetsul ganhe 20Adélio, já que todo o movimento dele não foi para socorrer Bolsonaro, mas para evitar que Adélio fosse agredido.
Depoisbetsul ganhe 20afastar aqueles que queriam agredir Adélio, ele o colocou no chão, e se deitoubetsul ganhe 20cima, e levou chutes, tapas e socos que seriam dirigidos ao autor da facada ou suposta facada.
No livro, Consuelo Dieguez apresenta o advogado Zanone Manuelbetsul ganhe 20Oliveira Junior como um especialistabetsul ganhe 20direito civil que teria se aproveitado do eventobetsul ganhe 20Juizbetsul ganhe 20Fora para ganhar dinheiro com curso na áreabetsul ganhe 20direito penal.
"A verdade é que, até assumir o casobetsul ganhe 20Adélio Bispobetsul ganhe 20Oliveira, Zanone Júnior advogava majoritariamente na área cível da Justiçabetsul ganhe 20Minas Gerais,betsul ganhe 20causas como indenizações por acidentebetsul ganhe 20trânsito, danos morais, falênciasbetsul ganhe 20empresas, direito do consumidor e direito previdenciário. Sua experiênciabetsul ganhe 20direito penal anterior à facada era praticamente nula. betsul ganhe 20 Mais tarde,betsul ganhe 202020, Zanone Júnior se repaginaria: montaria um escritório especializadobetsul ganhe 20direito penal, alémbetsul ganhe 20criar um cursobetsul ganhe 20direito, o Criminal Busine$$”, escreve.
O relato corrobora a versãobetsul ganhe 20que Zanone buscou o caso para ter exposição midiática e lucrar com isso - o que, sendo verdadeira, enfraqueceria a hipótesebetsul ganhe 20que teria assumido o caso para isolar Adélio.
Se quisesse exposição, Zanone faria melhor se lutasse pelo julgamento perante tribunalbetsul ganhe 20júri, por tentativabetsul ganhe 20homicídio.
Mas Zanone fez o oposto: pediu que o caso ficasse na Justiça Federalbetsul ganhe 20razão da leibetsul ganhe 20segurança nacional. Pediu também a transferência dele para um presídiobetsul ganhe 20segurança máximabetsul ganhe 20outro Estado e a aberturabetsul ganhe 20um incidentebetsul ganhe 20insanidade mental contra o cliente.
Se Adélio tivesse ido a júri, já estaria no regime semiaberto,betsul ganhe 20razão da progressão da pena. Mas o advogado foi o primeiro a apresentar um laudo para que Adélio fosse considerado inimputável, por Transtorno Delirante Persistente.
Com isso, Adélio corre o riscobetsul ganhe 20permanecer eternamente na prisão. Zanone adotou esse caminho porque não tinha experiência no direito penal?
Errado.
Ao contrário do que diz Consuelobetsul ganhe 20seu livro, Zanone já era pós-graduadobetsul ganhe 20Direito Penal e Processual Penal quando assumiu o caso Adélio e tinha atuadobetsul ganhe 20casosbetsul ganhe 20repercussão como o do assassinatobetsul ganhe 20Eliza Samudio (caso Goleiro Bruno) e o da missionária Dorothy Stang.
O escritório dele já contabilizava centenasbetsul ganhe 20atuações no tribunal do júri.
O livro não informa que Zanone foi afastado do caso como advogado, depoisbetsul ganhe 20uma cartabetsul ganhe 20Adélio à Defensoria Pública da União. Adélio queria ser transferido para uma cadeia próxima da família, mas Zanone não encaminhou o pedido.
O casobetsul ganhe 20Juizbetsul ganhe 20Fora, que mudou os rumos do País, não está encerrado, ao contrário do que Consuelo, Felipe Neto e a velha imprensa insistembetsul ganhe 20afirmar.
E questionar a versão oficial não fazbetsul ganhe 20ninguém burro. Já a ousadia da ignorância – própriabetsul ganhe 20quem se posicionabetsul ganhe 20maneira enfática sem conhecimentobetsul ganhe 20causa – é danosa à história.
* Este é um artigobetsul ganhe 20opinião,betsul ganhe 20responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasilbetsul ganhe 20.